31 de dezembro de 9999 - 23h59

Ficha técnica

L’Atalante
França, 1934
Jean Vigo
Roteiro: Jean Vigo e Albert Riéra, de um argumento de Jean Guinée
Fotografia: Boris Kaufman e Louis Berger
Montagem: Louis Chavance
Música: Maurice Joubert
Cenário: Francis Jourdain
Elenco: Michel Simon, Jean Dasté, Dita Parlo, Gilles Margaritis, Louis Lefèvre, Fanny Ciar, Raphaél Diligent, Charles Goldblatt, Jacques Prévert
Produção: Jacques-Louis Nounez-Gaumont.

SINOPSE:
“Trata-se, para Vigo, de atingir a mais alta tensão dramática e resolvê-la de uma só vez. O encadeamento lógico está formado, o casal separado sofre, Jean não aguenta mais, Juliette do bem: o Pai Jules. [...]
“Pai Jules remonta o gramofone, faz girar o disco, abaixa o pick-up, e uma valsa, uma valsa de Jaubert começa a tocar. [...] O milagre do gramofone aconteceu, a esperança renasce, tudo se torna crível e possível. O Pai Jules manda o garoto ir atrás do comandante. Mas este se enfiou na água, como diz o grumete, e nada até o fundo à procura da imagem de Juliette, que logo lhe surge toda vestida de branco, como no dia do casamento, acompanhando com movimentos lentos de sereno fantasma a valsa de Jaubert. [...] À sobreimpressão feérica da imagem de Juliette, respondem as imagens submarinas de Jean, com os cabelos balançando na água, a expressão febril e devastada pela angústia de alguém que a água impede de chorar, a mesma água que envolve, com a valsa, o diálogo dilacerante das duas imagens. “Jean finalmente sai da água e o Pai Jules, depois de secá-lo e vesti-lo, manda o garoto trazer o gramofone. Por que a chegada dos dois homens ao convés, precedidos do garoto trazendo o gramofone, é inesquecível? Não é a única vez [...] que em L’Atalante um momento decisivo é incompreensível, e isso aborrece o cronista. [...] A função poética do gramofone veio em resposta a um apelo interior, a uma inspiração. [...]
“Alguns colaboradores de Vigo aceitavam com inquietação a maneira como ele mostrava o gramofone em funcionamento. Para tranquilizá-los, ele explicava que Pai Jules tinha muito jeito para consertar coisas...
“Um pequeno fato deve ter reforçado as intenções de Vigo. Os gatos, que normalmente se assustavam com os projetores, a câmara e as atividades da equipe, tiveram, quando da sequência do gramofone, um comportamento surpreendente. Assim que o disco começou a rodar, eles foram se aproximando pouco a pouco e se colocando em volta do gramofone, como se escutassem atentamente a música. Vigo não quis perder tal plano e pela primeira vez o trabalho pôde ser feito sem que os animais absolutamente se incomodassem. Um gatinho se aninhou dentro do próprio pavilhão do gramofone e Vigo deve ter tido, nesse momento, o sentimento da quebra de toda resistência exterior à sua vontade de criar; tudo se organizava espontaneamente, a idéia tomava forma por si para se propor ao criador.” (JV: 166-68)

O Atalante