CINEMA E TELEVISÃO: UM DIÁLOGO POSSÍVEL?


No mês de março, com o início das aulas, milhares de estudantes retornam às suas unidades e um bom número de calouros ingressam na vida universitária. Em março também dá-se início a programação do ano de 1996 no CINUSP sala Paulo Emílio. Preparamos para estes estudantes e calouros uma recepção especial, composta por uma série de filmes, alguns inéditos, que foram realizados num interessante casamento Cinema-Televisão. Mas antes de entrar em detalhes, gostaríamos de dizer algumas palavrinhas sobre o CINUSP.
O CINUSP foi criado em 1993 com o intuito de divulgar a arte cinematográfica para os estudantes, funcionários e professores da USP; proporcionando a oportunidade de divulgar filmes que nem sempre poderiam ser vistos nas tradicionais salas de cinema e principalmente proporcionar um espaço para a difusão e discussão de toda a produção cinematográfica, bem como a sua influência nesta “selva audiovisual” em que vivemos e que prosaicamente chamamos de mundo. Enfim, propiciar não apenas um local para se ver filmes, mas também para discuti-los.
Em 1995 foram mais de uma centena de filmes, organizados em mostras temáticas, sempre acompanhados com palestras sobre o tema abordado. Mais de 11.300 pessoas acompanharam as mostras apresentadas pelo CINUSP, dentre as quais, destacamos: Ciclo de Documentários, Homenagem ao Neo-realismo Italiano, Colóquio Arte-Dor, Refletindo sobre a Violência, o cinema visto por Jean Claude Bernadet, Documentários de Nagisa Oshima, Cinéma du Réel, Momentos do Cinema Afrobrasileiro, Cinema lorubá da Nigéria, O Filme do Crítico, etc. Nessa empreitada tivemos o apoio de várias unidades da USP, como o Instituto de Psicologia e o Núcleo de Estudos da Violência, e também instituições como o MIS e a PUC-SP, Consulado Geral da França, Fundação Japão, Aliança Cultural Brasil-Japão, entre outras.
Cada um destes ciclos de filmes foi acompanhado de pelo menos uma palestra com a presença de professores da USP das mais diversas áreas, bem como a de personalidades de fora da universidade. Estas palestras não só ilustram a mostra exibida, como permitem uma reflexão mais profunda sobre o tema proposto, enriquecendo a exibição dos filmes que compõem a mostra.
Estamos também investindo na melhoria da sala de exibição “Paulo Emílio”. Muitas melhorias já foram implantadas para este ano. A aquisição de novos equipamentos permitirá a exibição mais freqüente de filmes em 16mm ou em vídeo, ampliando as possibilidades de exibição do CINUSP.
Para este mês, organizamos uma mostra sobre as possibilidades do diálogo entre Cinema e Televisão, composta por filmes feitos sob essa parceria. Deste modo ternos a oportunidade de rever filmes como Martha de Fassbinder, Veja esta Canção de Cacá Diegues e o holandês “Correio Sentimental”. Iniciamos nossa programaçâo com o excelente A Grande Família de Stephen Frears. Juntamente com o Instituto Goethe apresentamos uma seleção de filmes alemães inéditos que compõem um painel interessante desta nova parceria. Promoveremos dois debates com inúmeras personalidades ligadas a área para mais uma vez permitir a discussão sobre um tema tão importante num país que esta começando a sentir o renascimento de sua produção cinematográfica.
Além disso, estamos preparando para este ano diversas mostras, entre elas, uma homenagem a Paulo Emílio, uma mostra de filmes latino-americanos, o cinema no Mercosul, etc. Pretendemos também tornar a exibição dos curta-metragens produzidos pela ECA-USP mais freqüente.
Esperamos contar com a presença de vocês nas mostras e palestras promovidas pelo CINUSP.

Eduardo Alves.

A Alegre Ciência da Televisão

A Televisão esta gravitando cada vez mais na órbita da realidade virtual? Nessa realidade virtual a Televisão poderá mover-se em uníssono com os fantasmas e simulações do mercado e da tecnologia, ao redor de um mundo real cheio de perdas e temores.
A Televisão, não deveria ser o lugar apropriado para a comunicação e a expressão? O lugar comum para o entendimento entre partes diferentes? Um espaço para cidadãos do mundo? Não nos enganemos, os pessimistas da cultura tem razão; mas não é o caso de enfrentar, com o otimismo da ação, a esse pessimismo da razão? E por isso que o Instituto Goethe apresenta aqui exemplos de um trabalho desenvolvido para a televisão que objetivava alcançar a alegre ciência de sobreviver. Aqui temos selecionados trabalhos realizados por quatro estações de televisão: WDR, SWF, NDR e ZDF que talvez não sejam exemplares em sua qualidade mas que poderão ser considerados como modelos para uma perseverança antíciclica que se traduz na paciência, no artesanato, no regozijo criativo, na fantasia e também na astuta negação e furiosa resistência em um meio que menospreza as imagens humanas.
Estes filmes de televisão realizados por jovens autores perseguem o fim de estimular a percepção e a expressão das coisas, embora estas coisas não possuam um valor no mercado ou não tenham um consenso social. O mundo que é mostrado nestes filmes de televisão não é um mundo são, perfeito, aonde a verdade não é um comunicado oficial.
Este programa do Instituto Goethe lhes apresenta uma fração da utopia televisiva, mostrando como poderia ser a televisão, ou como ela deveria ser.
Estes filmes custaram pouco dinheiro e muito tempo. Foram apresentados fora dos horários nobres da televisão. Apesar disso eles têm seu próprio público. Por isto os convidamos a assistir estes trabalhos da televisão alemã. Desejamo-lhes uma diversão amena com nosso “kit de sobrevivência” televisivo.

Eckart Stein, diretor de redação do programa “Das Kleine Sernsehspiel ” na emissora de televisão alemã ZDF.