JORGE FURTADO


A segunda metade dos anos 80 caracterizou-se pela intensa produção de curtas-metragens realizados a partir da luta pelo curta nas telas. Jorge Furtado é um deles. Onze anos após a realização de seu primeiro curta-metragem, Jorge nos apresenta uma produção sólida onde a preocupação com roteiro e estrutura narrativa é uma das características mais marcantes.
Em 1986 realiza seu primeiro curta O Dia em que Dorival Encarou a Guarda. O personagem título, Dorival é encarcerado e morto de calor. Pede, ao cabo de plantão, autorização para tomar um banho. Negada a autorização, Dorival solicita a presença do superior. Sucessivamente Dorival argumenta com toda a hierarquia do quartel, sem sucesso. A situação dramática se repete, a cada vez um novo dado é acrescentado, renovando (ou saturando) a mesma situação dramática, numa estrutura cumulativa. A tensão, do personagem e do filme é levada ao seu limite, o desfecho.
Em 1989, Ilha das Flores recebe o Urso de Prata no Festival de Berlim inaugurando a presença brasileira nos festivais internacionais. A partir de então, Jorge passa a escrever para programas especiais da Rede Globo, onde realiza uma série de trabalhos como roteirista e diretor. Sem no entanto abandonar a produção de filmes de curta-metragens, Jorge afirma seu interesse pela produção televisiva enquanto o exercício da possibilidade de uma experimentação imediata: “enquanto que no cinema você espera meses para ver o resultado, a produção para TV te permite conceber hoje e ver o resultado em poucas semanas. Este resultado te propõe novas questões que serão experimentadas em novos trabalhos.”
A mostra se segue vem no sentido, não apenas de apresentar o conjunto da produção de um importante realizador da geração de curtas-metragens que se formou a partir da luta pelo curta nas telas - geração esta que garantiu a existência e consistência da produção cinematográfica num período negro da história recente da cinematografia brasileira - como também reunir o conjunto da produção de um cineasta que exerceu a preocupação narrativa, que hoje é evidente nos trabalhos de alguns realizadores, também oriundos desta geração, que estão realizando seus primeiros longas-metragens.
Estas peças foram agrupadas nos seguintes programas temáticos: “Tempo”, “Percursos”, “Imagens e Palavras”, “Realidade e Ficção” e “Drama e Comédia”.

Tata Amaral, curadora.