O SAMBA NA TELA


A produção científica e cultural de uma universidade pública deve acontecer sempre em estreita relação com a sociedade que a sustenta e que dela espera presença ativa em seu processo de desenvolvimento. Essa relação deve se dar através de múltiplos canais de comunicação, numa capilaridade que, em seu conjunto, cumpra o ideal do tripé ensino- pesquisa-extensão. Quando mobilizada por esse espírito público, a universidade escapa do risco da redoma esterilizada, abole falsas dicotomias entre uma cultura sacralizada e uma vida profana.
Nesse início de ano letivo, que ocorre durante o período do Carnaval, o CINUSP tenta mostrar que samba, suor e cerveja não contradizem reflexão, crítica e pesquisa. Recebemos os calouros de 1998 com a mostra O Samba na Tela, que, do cinema da chanchada à sofisticação de Júlio Bressane, apresenta um painel da representação dessa criação maior da poesia popular nacional por alguns de nossos melhores cineastas.
O cinema brasileiro, com aguda consciência de seu lugar no mundo, tem como tradição o esforço de colocar na tela a experiência nacional. Com Q Samba na Tela, é sensível, visível e audível os encontros entre uma arte filha da era industrial e outra arte nascida nas margens das ilhas de modernização do país. Na tela, vislumbres de caminhos para, como diria Paulo Emílio, a penosa construção de nós mesmos.

Leandro Rocha Saraiva, curador.