Tendências do Documentário

Entre Três e Sete Horas da Manhã

3 de abril de 1998 - 00h00 - Cinusp Paulo Emílio

Ficha técnica

Zwifchen drei und Sieben uhr Morgens
Alemanha, 1964
Klaus Wildenhahn
16mm, 9min.
Câmera: Karl Heinz Wulkow
Som: Herbert Selk
Edição: Kirsten Wedemann
Produção: NDR (Rádio-Televisão de Hamburgo).

SINOPSE:
Uma longa noite no “Zillertal” em Hamburgo. Dança, cantoria, música popular. Fumaça e cerveja. E o final de uma noite curta no metrô de Hamburgo. Começa o dia de trabalho.
A dança e a cantoria vão parando. E o metrô parte. Alvorecer. O sono no trem. Os primeiros indo trabalhar. Sono no bar. Passagem do sonho para o dia. Ouve-se uma outra música: saxofone, jazz. No “Zillertal”, as cadeiras estão em cima das mesas. E o metrô entra numa grande curva. O sol brilha. A música pára.

MÓDULO l - POESIA E VERDADE - Klaus Wildenhahn e Aloysio Raulino
Wildenhahn é um cineasta que quer pôr na tela o trabalho dos homens. Muito coerentemente, explica a alternância em sua obra de filmes sobre operários e sobre artistas como um esforço de observar a atividade dos homens despindo-se das auras de valor e desvalor projetadas pela hierarquia das atividades. Ele quer olhar para o homem em atividade, numa condição existencial fundamental.
Raulino é um cineasta do não-trabalho, que privilegia a contemplação dos homens em momentos dispersivos, fora da disciplina a qual se submetem para a sobrevivência.
Mas uma atitude os aproxima. Proust dizia que o fotógrafo entrega- se, em sua relação com o mundo, à melancolia, entendida como estado de abertura para o instante. Wildenhahn e Raulino são cineastas melancólicos. Wildenhahn fala de uma observação periférica, uma quase distração, como quem olha por uma janela. Nessa atitude compartilhada, buscam romper com os sentidos óbvios (tornados óbvios pela imposição de um sentido dominante como senso comum). Ruptura com dicotomias como trabalho espiritual x trabalho manual, ou trabalho x não trabalho. Categorizações do mundo regido pelo capital, que nada têm de universal.
“Observar de perto durante, com carinho, depois seguir adiante. A introversão, esse modo de olhar como que pela janela, esse tratamento da realidade com um certo sentimento de melancolia, entendida não como debilidade, mas como fortaleza. É o que tenho sido capaz de fazer”. As palavras de Wildenhahn nos convidam a esse tipo de “educação pela pedra” do olhar.
(Leandro Rocha Saraiva)

Entre Três e Sete Horas da Manhã