Logo após a mostra e seminário Antropologia Visual - Os Fundamentos do Filme Documentário Antropológico, apresentaremos nas três semanas restantes do mês de agosto um conjunto de filmes pertencentes ao período de afirmação do Novo Cinema Alemão, entre o final dos anos 60 e meados dos 70.
O recorte que reúne esses filmes é a idéia de ensaio cinematográfico. Segundo o poeta e ensaísta Hans Magnus Enzensberger:

“Com o ensaio não sou obrigado a falar sempre no mesmo plano (...) posso argumentar, posso narrar, posso deixar coisas irresolvidas. Como o próprio nome diz, o ensaio é uma tentativa (...) é um meio democrático, pois não corta a palavra do outro - é preferível dar início a uma discussão que encerrá-la. (...) Tanto a mobilidade de ponto de vista como a auto-reflexão sobre o lugar de onde se fala fazem parte da tradição ensaística. E isso já havia em Montaigne, um metalugar que lhe permite subitamente mudar de ponto de vista e oscilar entre o pertencer e o não-pertencer, uma fascinação pelo deslocamento e uma reflexão dessa operação. " (Mediocridade e Loucura. Ed Ática, 1995. pp. 167-173).

Nem ficções nem documentários, propriamente, essas obras - é bom que fique claro - são apenas uma vertente da produção dos cineastas do Novo Cinema Alemão. A proposta de um cinema que se libertasse das amarras indissociavelmente econômicas, ideológicas e estéticas do cinema industrial então dominante foi levada à frente de diferentes e inovadores modos, também no diálogo com estilos e gêneros consagrados (o exemplo mais claro talvez seja a releitura feita por Fassbinder do melodrama). Se elegemos os ensaios cinematográficos para compor a presente mostra, é porque acreditamos que a radicalidade crítica desse formato pode contribuir para o continuidade dos debates que serão suscitados na primeira semana do mês, pela exibição e discussão de filmes associados à reflexão antropológica.
Seguindo as trilhas dos cinemas que não se conformam com a redução da cultura ao espetáculo divertido, a Revista Sinopse dará prosseguimento aos debates, publicando num próximo número um dossiê de textos que tratem dos temas suscitados pelos filmes de agosto.

Leandro Rocha Saraiva, curador.