Ensaios Cinematográficos - Novo Cinema Alemão

Ludwig II, Réquiem para um Rei Virgem

16 de agosto de 1999 - 00h00 - Cinusp Paulo Emílio
17 de agosto de 1999 - 00h00 - Cinusp Paulo Emílio
31 de agosto de 1999 - 00h00 - Cinusp Paulo Emílio

Ficha técnica

Alemanha, 1972
Hans Jürgen Syberberg
144min, cor, 16mm.
Fotografia: Dietrich Lohmann
Música: Richard Wagner
Montagem: Harry Baer, Hanna Köhlner e Ingrid Caven.

SINOPSE:
Os dois filmes que exibiremos compõem, junto com Karl May, a “Trilogia Alemã” de Sybelberg. Trata-se de um projeto extremamente ambicioso: a busca das origens dos desenvolvimentos contemporâneos da Alemanha. Para essa busca, Syberberg concentrou-se no lado irracional da tradição alemã, o lado que floresceu no Romantismo alemão e na música de Richard Wagner, o lado que a democracia de Weimar não conseguiu impedir que viesse de novo à tona sob a forma maligna do nacional-socialismo. Essa tradição obscura e introspectiva era o que Thomas Mann chamava de Kultur, em oposição a Zivilisation do Ocidente, em particular da França. Zivilisation, dizia Mann, era democrática, progressista, racional e privilegiava a comunicação verbal. A Kultur, por outro lado, seria anti-democrática, conservadora, irracional, temerosa das palavras - mas de excelente expressão musical. Com sua Trilogia, Syberberg quer desafiar essa tradição em seus próprios termos, numa série de filmes que afasta-se do discurso verbal em favor de uma lógica associativa musical.
A questão “De onde veio Hitler?” é a chave da moderna história alemã, mas ninguém tentou uma resposta nos termos de Syberberg. Ele concentrou-se em duas figuras aparentemente periféricas, o rei louco da Baviera e o mais popular romancista alemão. O lema da Trilogia, disse Syberberg, poderia ser "em busca do paraíso perdido". Essa era a força motriz que essas três figuras: Ludwig, May e Hitler, tinham em comum: um desejo universal de retornar à segurança uterina de uma vagamente lembrada inocência, pureza e completude.
Ludwig II, Réquiem para um Rei Virgem (1972) dá o tom, tanto da forma como do conteúdo, de toda a trilogia. O filme é dividido em duas partes, a primeira dedicada a representar um dia na vida de Ludwig, a segunda apresentando sua queda e morte, e lenda que criou-se em torno dele. Syberberg criou nesse filme um dos mais notáveis e distinguíveis estilos do Novo Cinema Alemão, filmando do palco, compondo tableaux estilizados, usando back projections, quase nunca movendo a câmera e minimalizando a montagem. Vários atores fazem mais de um papel, alguns papéis são feitos por mais de um ator.Syberberg propôs a si próprio a tarefa de retratar a vida e a lenda de Ludwig e seus nexos com o conjunto da história e cultura da moderna Alemanha. A visão apresentada no filme é que a loucura wagneriana de Ludwig respondia ao impulso racionalista e utilitarista da Prússia em vias de industrialização. Nessa reação à modernização estariam, sim, as raízes do nazismo, que entretanto é apenas sua forma degenerada. Syberberg opõe-se a crítica ao nazismo em termos puramente racionais: “não se luta contra Hitler com estatísticas de Auschwitz e com a sociologia de seu sistema econômico, mas com Richard Wagner e Mozart”.
Texto baseado no livro The New German Cinema, de John Sandford. Da Cappo Press, 1980, NewYork.

Ludwig II, Réquiem para um Rei Virgem