CINEMA DE POESIA


CINEMA DE POESIA no CINUSP PAULO EMÍLIO

O que poderíamos chamar de Cinema de Poesia? Pasolini atirou a primeira pedra. Dividiu "teoricamente" o cinema: prosa X poesia. Na condição primordial de poeta, sujeito a contradições, tentou conciliar o político e o poético. Deixou estrategicamente a literatura para formular um estatuto de linguagem para a arte cinematográfica. Recorreu à interlocução conceitual de linguísticas como Saussure, Jackobson, Barthes, para exasperar o "real." Cobraram-lhe rigor, acusaram-no de ingênuo, mas ele resistiu e combateu o cinema enquanto "mera tradução do código literário", propondo um dicionário de linguagens sustentado numa sintaxe própria e aberta. Em tempos de "Renascimento" do cinema brasileiro, nada mais oportuno do que trazer à luz o postulado de Pasolini: "a linguagem como personagem e o estilo como protagonista." Numa discussão atual, necessária e fundamental para refleterimos sobre os caminhos estéticos de um cinema de tradição radical de Limite que atualmente busca a deseperada recuperação do mercado. O Cinusp proporciona agora uma visão conjunta de filmes matrizes, esporádicos-experimentais que arriscam novas incursões narrativas e ou tentam recriar atmosferas na perspectiva de um "tempo cinematográfico". Trata-se enfim de um cinema em formação onde a estética precede a ética e o tema sucede o poema. Uma disposição de olhares ansiosos por forjar um patrimônio linguístico seminal.

CINEMA DE POESIA no ESPAÇO UNIBANCO DE CINEMA

O evento Cinema de Poesia propõe, expõe e repõe ao meio o debate sobre outras formas narrativas e alternativas ao mercado vigente. Parte do conceito do poeta italiano Pier Paolo Pasolini para evidenciar as potencialidades da língua do cinema. O Cinema de Poesia não esconde suas pretensões artísticas, e sua recusa ao literal-literário, aspira a uma gramática específica por acreditar que o cinema (pode ser) arte em expansão. Não se contenta apenas em entreter, mas quer dar prazer (estético), fazer pensar, desconfiar, pesquisar a linguagem, perturbar, sonhar, evocar e perguntar a que viemos. A partir de três filmes-experiência que dialogam com as artes afins (disponíveis agora pela Rio Filme/Funarte) e mais a (re)montagem do filme-instalação Travelling, exposição de fotos-sobras e apresentação em telão de 100 sequências poéticas do cinema, vamos indagar porque esse tipo de expressão num país de grande tradição plástica e poética, tem uma produção esparsa, descontínua e isolada. O Cinusp, o Espaço Unibanco de Cinema e Canal Brasil/Multishow abriram as portas. Invente-se o mercado. Limite é sonho!