TÃO PERTO, TÃO LONGE


Há alguns anos, num bar em Nova Iorque, fui abordado por um americano encantado com o meu sotaque. Estava certo de ter algo de francês. Ao ser informado de que era (im)puro português, que eu era do Brasil, não se abalou. Gentil, tentou contornar o que lhe parecia uma gafe e afirmou que eu deveria estar muito excitado com o fato de Madonna estar gravando no Brasil seu próximo filme, “Evita". Respondi-lhe que estava contente e que adorava a música "Don’t cry for me, ....Brazzzzill". Ele entendeu e se afastou.
A inexistência de um imaginário monolítico do estrangeiro sobre o Brasil abala a nossa segurança depositada na esperança de inserção no "mundo civilizado”. Existir seria existir pelo outro. Segundo João Ubaldo Ribeiro, citado por Tunico Amâncio na introdução da tese “Em Busca de um Clichê: Panorama e Paisagem do Brasil no Cinema Estrangeiro”, “não existe propriamente uma imagem do Brasil no exterior. De modo geral ninguém pensa no Brasil, se preocupa com o Brasil ou mesmo sabe alguma coisa sobre o Brasil." A constatação dessa desimportância opera em nós sentimento de repúdio só comparável aquele que temos quando sim, somos representados, porém por ângulos dos quais discordamos. Entretanto adespeito da quase total ausência de visibilidade em terras distantes, continuamos -modestamente, é verdade - a inspirar filmes, livros e sabe-se mais o quê no exterior. Os filmes a muitos olhos - brasileiros - não correspondem ao Brasil real. Provavelmente. Porém o que é o Brasil real? Não podemos esquecer que este Brasil exótico é fomentado aqui. Muitos de nossos filmes perpetuam este exoticismo buscando público estrangeiro, filiando-se momentaneamente a uma representação que atenderia a um imaginário sobre o Brasil. Dependeríamos para construção de uma identidade da aprovação tácita do outro. Este sim, o verdadeiro exótico. Novamente, existir seria existir pelo outro.
E continuamos existindo. A mostra Tão Perto, Tão Longe pretende oferecer ao público filmes que tratam deste olhar sobre o Brasil. São filmes com visão ora delicada, ora agressiva. Por vezes encantada, exuberante outras bizarra ou paternalista. Enfim uma mostra que não pretende definir o olhar estrangeiro mas tenta contorná-lo. Sem a pretensão de localizar o imaginário do outro sobre o Brasil, lança luzes de cinema num colorido e sempre incompleto mosaico.

Júlio Maria Pessoa.