MOSTRA GODARD


Há quase cinquenta anos o cineasta franco-suiço Jean-Luc Godard vem apontando os novos caminhos a seguir no cinema. Nos anos 50, como crítico da revista Cahiers de Cinéma. Nos anos 60 com um dos líderes da Nouvelle Vague e autor de filmes como Acossado (1958), Uma Mulher é Uma Mulher (1960), Viver a Vida (1963), Pierrot le Fou (65), Duas ou Três Coisas Que Eu Sei Dela (1966), A Chinesa (1967), Weekend (1968). Nos anos 70 como alguém que estendeu o exprimentalismo à esfera do vídeo, a partir de Número Deux (1975). Nos anos 80 e 90 como um cineasta que mostrou a capacidade de adaptar o seu espírito de invenção às novas tecnologias, em trabalhos de reflexão sobre o cinema e sobre a imagem que culminam nos quatro segmentos do vídeo Histoire(s) du Cinema, exibido na TV a cabo brasileira recentemente.
Nascido em 1930, Godard cursou etnologia na Sorbonne e, concomitantemente, frequentava o cineclube da Cinemateca Francesa, criação de Henri Langlois, onde tomou contato com André Bazin, François Truffaut, Jacques Rivette, Eric Rohmer e Claude Chabrol. Escreve então artigos para a hoje mitológica “Cahiers du Cinéma". Rompendo com o cinema clássico com o qual, no entanto, manteve um diálogo sui generis, este grupo passa a produzir filmes-tratados com os quais mudaram a ótica de se ver cinema num movimento que ficou conhecido como "Nouvelle Vague”.
Inquieto, após colaborar fundamentalmente para a criação daquilo que ficou conhecido como cinema de autor, Godard enveredou ao longo dos anos 60 para um cinema mais politizado chegando a criar em 1968 o Grupo Dziga Vertov, quando realizou filmes como Vento do Leste (1968), Vladimir e Rosa (1969) entre outros. Sempre atento às novidades tecnológicas, nos anos 90 passou a trilhar um caminho cada vez mais pessoal no qual passou a agregar ao seu pensamento dinâmico uma possibilidade maior de criação. Este ano foi apresentado em São Paulo seu mais recente curta metragem A Origem do Século XXI no qual utilizou tecnologia digital como elemento dramático e narrativo de uma maneira inusitada, como já vinha prenunciando em seus filmes mais recentes..
O Cinusp apresenta na Mostra Godard um amplo painel da produção do cineasta, autor de obra vasta e de difícil acesso, que causa sempre problemas não superáveis quando buscamos um elenco representativo de filmes e vídeos. Nosso recorte, acreditamos, constitui uma rara oportunidade de introdução a Godard ou de revisão de algumas de suas obras primas, experiência que nos coloca diante do que é central na formação e apogeu do cinema moderno que, em algumas de suas vertentes mais criativas, girou em torno do cineasta francês. Godard é, sem dúvida, a figura mais influente do cinema mundial desde os anos 60, mestre de Bertolucci e Moretti, Wenders e Fassbinder, de Scorcese, Coppola, Hartley, de Kiarostami e Greenway.
Começamos a mostra com o primeiro longa-metragem, Acossado, e apresentamos um percurso que termina nos vídeos recentes. Faltará, evidentemente, algo neste ciclo pois, em matéria de Godard, há sempre que correr um pouco atrás.
Durante a mostra, entre os dias 16 e 20 de outubro, o Cinusp estará oferecendo um curso sobre Jean-Luc Godard com o professor Philippe Dubois da Universidade de Paris III. Ministrado em francês com tradução simultânea, o curso versará sobre o Godard dos anos 80 e 90, quando teremos a rara oportunidade de assistir a seus trabalhos desconhecidos no Brasil e acompanhara a análise do Prof. Dubois, especialista no tema. Informações e inscrições a partir de 1 de outubro pelo e-mail cinuspprceu@recad.usp.br ou pelo fax 3818-3364 ou pelo telefone 3818-3152.

Ismail Xavier e Júlio Maria Pessoa.