FRONTEIRAS DA IMAGEM


A Construção da Imagem

O cinema hollywoodiano sabe, como ninguém, tirar proveito da velha máxima de que uma nação precisa de heróis. Ora, um herói precisa de sua contrapartida, ou seja. um vilão. Então, basta correr os olhos nas sinopses de alguns filmes para identificarmos este vilão na figura de árabes terroristas, traficantes latinos, russos sem escrúpulós prestes a provocarem a terceira guerra mundial , etc. Os exemplos não são poucos e como bem observou o crítico Luiz Carlos Merten: “Isso ocorre na fantasia, em 11 entre dez aventuras que o público consome como se fossem inócuas e, no fundo, passam mensagens subliminares que ficam Ia no inconsciente dos espectadores. Na fantasia? Na realidade, também, Jafar Panahi que o diga. ”
Jafar Panahi, cineasta iraniano conhecido no Brasil pelo filme O Balão Branco, vinha de Hong Kong para um festival em Montevidéu via aeroporto JFK, de Nova Iorque. O cineasta depois de ser informado de que não precisaria de um visto de entrada nos Estados Unidos para as horas de espera por uma conexão, foi surpreendido pelas autoridades de imigração e pela polícia do aeroporto que o prenderam e o acorrentaram pelos pés e pelas mãos junto a outras pessoas que já se encontravam lá. Cito agora um trecho da carta aberta escrita pelo diretor após o episódio:

“Não podia mover-me. Eu estava sofrendo com uma doença antiga, mas ninguém notou. Mais uma vez, pedi-lhes que me deixassem telefonar para alguém em Nova York, mas negaram-se a me atender. Não só ignoraram o meu pedido, mas também o de um menino de Sri Lanka, que queria telefonar para sua mãe. Todos ficaram comovidos com o choro do menino, pessoas do México, Peru, Europa Oriental, Índia, Paquistão, Bangladesh, etc. Eu estava pensando que todos os países têm suas leis, mas simplesmente não conseguia compreender aqueles atos desumanos."

A indignação aumenta quando Jafar Panahi lembra que seu filme O Círculo fora lançado em Nova Yorque dois dias antes, valendo-lhe o Prêmio Freedom of Expression, dado pelo National Board of Review of Motion Pictures com a finalidade de destacar a liberdade de expressão!
Os três filmes que compõem esta mostra nos permitirão discutir a construção da imagem do outro no cinema hollywoodiano. Para tanto, programamos um debate com Marilena Chauí, com data ainda a ser confirmada e divulgada previamente.

Fransueldes de Abreu, programador do Cinusp.