CINEMA BRASILEIRO 2001
“Em seus debates sobre cinema, a universidade cuida também dos filmes brasileiros maus, e ao que tudo indica ela está certa. A abordagem de nosso cinema com preocupações essencialmente artísticas nunca foi possível: o nível de nossa crítica estética coincide com o do cinema brasileiro tomado em bloco. É preciso acrescentar que mesmo praticado com inteligência e eficácia, o critério discriminatório qualitativo não teria adiantado. É precisamente examinado em bloco, eventualmente com humor mas sem preconceito, que o cinema brasileiro poderá ser destrinchado, compreendido e amado. Um filme brasileiro inteiramente ruim é tão pouco frequente quanto um ínteiramente bom”. Lembrar destas palavras de Paulo Emílio Salles Gomes, publicadas no artigo “A Alegria do Mau Filme Brasileiro”, em Movimento, 1 ° setembro de 1975, no momento em que o CINUSP “Paulo Emílio” organiza pelo quinto ano consecutivo sua Mostra de Cinema Brasileiro, nos evoca o prazer que Paulo Emílio tinha em pensar o cinema brasileiro.
É esse mesmo prazer que queremos estender a nossos frequentadores, oferecendo alguns exemplos da produção dos últimos dois anos, filmes esses que, dependendo do ponto de vista, poderão ser considerados bons ou maus. O importante é que esses filmes sejam vistos como representativos de uma cinematografia que tenta retomar sua capacidade de produção. Produção essa que tem o selo da diversidade estampado no conjunto de filmes que serão apresentados.
Como é característica do CINUSP, a Mostra será acompanhada por uma série de debates que colocarão em pauta os filmes, sua estética e suas formas de produção.
Maria Dora G. Mourão.
* Este texto foi reproduzido com o nome "Cinema Brasileiro na Universidade" no livro "Paulo Emílio - Um Intelectual na Linha de Frente", coletânea de textos de Paulo Emílio Salles Gomes organizada por Carlos Augusto Calil e Maria Teresa Machado (Embrafilme/Ministério da Cultura, Brasiliense, 1986).
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O cinema brasileiro dos anos 90 marcou-se pela não existência de movimentos aglutinadores, de propostas estéticas incisivas de determinada direção, debates acirrados, etc... Não proclamou rupturas. Preocupou-se mais com a nova tentativa de consolidação de um contato efetivo com o público. Aceitou radicalmente o que está implicado na idéia de retomada. Os termos desta valorizaram a idéia da diversidade. Qual foi o resultado disto? E possível delinear tendências, estilos hegemônicos que resultaram da prática? Pode-se dizerque sim e, para explorar tal questão, far-se-á uma discussão avaliadora da nova sensibilidade do cinema para o que está relacionado com a compressão do espaço e do tempo no mundo contemporâneo, os tipos de relação favorecidos e os recalcados; bem comofar-se-á uma discussão sobre a forma como aparece no cinema o tema da violência, agora trabaIhado a partir de personagens que, a par da contundência da miséria social, ativam um comportamento sem horizontes que se pode equacionar através de uma fenomenologia do ressentimento.
Ismail Xavier.