DIRETORES NEGROS BRASILEIROS


O Cinusp Paulo Emílio, a Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas e o Departamento de Sociologia, através do seu Programa de Pesquisa, Ensino e Extensão em Relações Étnicas e Raciais, apresentam a mostra "Diretores Negros Brasileiros". Essa mostra tem a importância de reunir pela primeira vez filmes de longa, média e curta duração, documentais e ficcionais dirigidos por pelo menos três gerações de diretores. Ela vem ainda somar-se a uma série de acontecimentos que dentro e fora da universidade brasileira tem lançado novas perspectivas para as questões que dizem respeito ao homem e a mulher negra. Movimentos culturais como o Hip Hop, grupos de consciência negra, cursos pré-vestibulares, movimentos voltados especificamente para a defesa da mulher negra são apenas algumas das muitas lutas dos negros brasileiros contra todas as formas de racismo e discriminação e suas consequências terríveis.
Na universidade, ainda que em número muito pequeno, uma intelectualidade formada por jovens estudantes negros vem renovando os estudos sobre relações raciais e construindo redes de solidariedade para outros estudantes.
No que diz respeito ao cinema assistimos ao surgimento de uma nova geração de cineastas negros fazendo seus primeiros filmes de curta e média metragens. Nos últimos anos dois manifestos colocaram em pauta a questão do negro no campo do audiovisual: o Dogma Feijoada, reivindicação dos jovens cineastas negros paulistas e o Manifesto do Recife. Os dois documentos têm a importância de ser complementares e colocar a questão da produção audiovisual numa perspectiva nova, ou seja, os artistas negros ao se colocarem como produtores de audiovisual, também estão reivindicando uma nova forma de representação do negro em geral. Tratam-se, sem dúvida, de movimentos cujas implicações estéticas e políticas só se realizarão a partir dos filmes.
A mostra traz filmes que cobrem o período que vai da década de 70 a 90. Diretores veteranos como Antônio Pitanga, Zózimo Bulbul, Ari Cândido, Waldir Onofre e Joaquim Teodoro dividem a tela com a geração mais nova como Jeferson De e Noel Carvalho. Devido a dificuldades em conseguir cópias e ao tamanho da mostra, muitos diretores não terão seus filmes representados, como Celso Prudente, Cajado Filho, Agenor Alves, Haroldo Costa, Afrânio Vital, Rogério Moura e Odilon Lopes, que ficam para uma futura oportunidade.
A mostra presta ainda uma homenagem ao diretor Nelson Pereira dos Santos, com a exibição de um dos seus trabalhos. Nelson Pereira tem a importância de trabalhar em vários dos seus filmes temáticas que dizem respeito aos negros brasileiros e de ter sido o produtor do longa metragem As aventuras amorosas de um padeiro, de Waldir Onofre, um dos filmes fundamentais dessa mostra. Finalmente esperamos que esses filmes motivem discussões e reflexões sobre o cinema brasileiro.

Noel dos Santos Carvalho.