QUATRO CLÁSSICOS ITALIANOS


No início dos anos 60 a Itália, sob hegemonia democrata-cristã, entrava num processo de modernização que, sepultando as esperanças revolucionárias - ou apenas humanistas - surgidas depois da queda do fascismo, acertava o passo da nação no prumo do neocapitalismo industrial, de massas e consumista.
Ao intelectual gramsciano, ligado a um projeto nacional-popular, sucediam-se marcelos e suas doces vidas, individualistas ávidos por serem devorados pelo misto de mercado, festa e inferno que fazia as vezes do que já fora, uma dia, a cultura.
Noutro ponto da escala social, a família de Rocco Valastro e outros antigos pescadores de A Terra Treme, viam seu mundo meridional de honra, família e paixão ser destruído pelas engrenagens do Norte em industrialização acelerada.
Entre esses extremos, inconformado com a determinação burguesa dos destinos, alguns jovens românticos repetiam, como farsa, os sonhos revolucionários, só para descobrir que eram incapazes de superar sua nostalgia pelos doces tempos de antes da revolução. Poucas vezes na história do cinema uma cinematografia foi tão capaz de dar forma às encruzilhadas de uma experiência histórica como o moderno cinema italiano que, naquele início de década, reinventando-se, contribuiu também para a reinvenção do cinema como meio moderno de representação.

Leandro Saraiva.

Curtas no Cinusp

Há aproximadamente dois meses o Cinusp vem exibindo, ao meio dia e meia, sessões diárias (de segunda a sexta) de curtas metragens. O princípio que norteou a implantação deste horário e desta programação se assenta em vários pontos: o desejo de fornecer lazer e cultura, num horário alternativo aos paulistanos tão carentes de atividades assim, aos estudantes da USP em geral e moradores do CRUSP e frequentadores do Restaurante Universitário em particular; a oportunidade de permitir acesso a uma obra composta de vasta filmografia que normalmente se abriga em festivais, importantes, porém periódicos; e por fim, mas não menos importante, é uma tentativa de cultivar o gosto pelo formato curta metragem que foi exilado das salas comerciais há mais de uma década, desde que os exibidores passaram a descumprir a lei de obrigatoriedade de sua exibição antes dos longas.
Para esta primeira quinzena de outubro, juntamente com clássicos italianos, optamos por exibir dois programas que também consideramos clássicos: o primeiro é composto de 4 filmes do falecido diretor Wilson Barros, numa homenagem a um dos mais importantes cineastas paulistas da década de 80, professor da ECA e detentor de um perfil raro entre os que se dedicam ao cinema: ele transitava com igual desenvoltura pela área acadêmica e pela realização. O segundo compõe-se de filmes realizados por alunos do curso de Cinema e Vídeo cuja importância e ressonância, para além dos muros da Universidade de São Paulo, ganhou o país e, porque não, o mundo. Os filmes selecionados fizeram parte de festivais e mostras de curta metragem no Brasil e no exterior, com êxito insuspeito.

Júlio Maria Pessoa.