CINEMA BRASILEIRO 2002


Ao realizar sua mostra anual de cinema brasileiro contemporâneo, o Cinusp se defronta uma vez mais com o signo da diversidade - principal (e impreciso) conceito a que se associou e associa o chamado "cinema brasileiro da retomada". Se é difícil avançar uma caracterização mais precisa, é porque ainda parece impensável a simples existência de movimentos aglutinadores, proposições estéticas incisivas e abrangentes, debates demarcados.
Ainda assim, tendências bem gerais se colocam, às vezes com nuances, ano após ano. A mostra Cinema Brasileiro 2002 detecta, em seu corpo, algumas delas.
Do ponto de vista da produção, de um lado, vemos a emergência dos documentários, apoiada por concursos levados por instituições públicas e empresas privadas, pelas facilidades instrumentais dadas pelo barateamento e aperfeiçoamento dos equipamentos de vídeo digital, e pela crescente simpatia do público que acompanha festivais ou assina a TV paga (O Fim do sem Fim, Carrego Comigo, Rocha que Voa). De outro, o surgimento de exemplares criativos, ainda que eventuais, de uma parceria com a TV que mobiliza alguns de nossos melhores talentos, mas que ainda fica a dever mais frutos (Caramuru - A Invenção do Brasil).
Do ponto de vista estético, a produção abarca, de um lado, obras de qualidade autoral, pouco agrupá- veis, que deixam rastros de originalidade em meio à pouca expressividade da média (Dias de Nietzsche em Turim, Lavoura Arcaica), mas também filmes que mobilizam com criatividade, talento e temática "local" a gramática e o repertório de um certo cinema de ação (O Invasor).
Vale ainda destacar a presença, na produção atual, de diferentes
gerações de cineastas brasileiros em atividade, o que permite a esta mostra abarcar desde longas de estréia (como Urbânia e Sonhos Tropicais), a filmes que se incluem na trajetória de atuação, regular ou interrupta, de cineastas veteranos (como Dias de Nietzsche em Turim e Uma Vida em Segredo).
Por fim, a produção de curta- metragens, que a mostra Cinema Brasileiro 2002 contempla com uma sessão especial. Há mais de uma década estimulada por concursos públicos, a produção de curtas segue revelando novos talentos, alguns deles já reconhecidos por premiações internacionais.
Em setembro abrigamos ainda o seminário Clássicos da Teledra- maturgia Brasileira, que integra o projeto Encontros Com a Televisão
Brasileira - Autores Televisivos, parceria entre Centro Cultural Banco do Brasil e Cinusp "Paulo Emílio", e produzido pela Associação Cultural Educação e Cinema. O Encontro, com um total de 10 mesas, distribuídas entre os dois espaços, quer trazer de encontro ao público uma reflexão sistematizada sobre a obra dos maiores realizadores de ficção televisiva contemporâneos, colocando em foco esta faceta fundamental da produção audiovisual brasileira.
Com a mostra Cinema Brasileiro 2002, cuja curadoria buscou equili- brar-se na diversidade possível de proposições estéticas e modelos de produção (resguardada a qualidade mínima e necessária), o Cinusp "Paulo Emílio" propõe, uma vez mais, que o cinema brasileiro recente encontre e dialogue com seu público.