Todd Solondz e Atom Egoyan são, para o cinema de língua inglesa hoje, o que foram Jim Jarmusch e Hal Hartley há pouco mais de dez anos: desbravadores da linguagem, cineastas que fazem do adjetivo "independente" a chave para uma liberdade temática e narrativa capaz de se destacar da mesmice da produção hollywoodiana. Provocantes e polêmicos, os filmes de Todd Solondz e de Atom Egoyan são marcados pelo tratamento heterodoxo de uma temática incômoda: o mundo dos valores e da moralidade da classe média. A família, o sexo, as pequenas perversões e segredos que se escondem sob a superfície de normalidade da vida burguesa recebem um olhar pleno de ineditismo e estilo. Não temendo esbarrar em temas explosivos, como o incesto, o voyeurismo, a ninfomania e a pedofilia, os trabalhos de Egoyan e Solondz deixam vislumbrar um objetivo comum a ambos os cineastas: criticar duramente a hipocrisia e a falsa moral da sociedade.
Seus filmes representam dois olhares, diferentes mas igualmente críticos, sobre o mesmo universo cotidiano da classe média. Em Solondz, o humor negro, a ironia, o despojamento e a abordagem direta são os traços marcantes de suas histórias suburbanas, assim como o tratamento "cru" e sarcástico da questão sexual. A sexualidade pós- moderna também está no centro das preocupações de Egoyan, mas seu cinema estilizado recorre ao apuro visual e à incorporação ao drama de elementos dos filmes de suspense para retratar as peculiaridades do sistema moral da classe média. Mais sério e "refinado", seu cinema não é por isso menos crítico ou incômodo do que o de Solondz.
Os filmes de Todd Solondz e Atom Egoyan, exemplos de obras bastante particulares, são totalmente diversos em sua linguagem. E a partir dessa diferença revelam-se partes de um mesmo panorama: o da sobrevivência, em tempos de extrema padronização de formatos e conteúdos, de filmes verdadeiramente autorais. São expoentes de um cinema independente que continua a oferecer um novo olhar sobre questões ligadas ao sexo e ao comportamento na vida contemporânea, uma alternativa crítica, autoral e provocativa à visão de mundo dissipada pela maioria dos filmes de Hollywood. É o que se vê nos títulos que compõem essa mostra, todos os três filmes de Todd Solondz e outros três filmes de Atom Egoyan que representam a parte mais significativa e conhecida da obra desse cineasta. Juntos, formam uma boa amostra do que nos têm a oferecer esses novos autores independentes em matéria de filmes críticos sobre a sociedade norte-americana.

Marcos Kurtinaitis.