NOVO CINEMA ITALIANO III - ROBERTO ROSSELLINI, ENTRE O CINEMA E A TELEVISÃO


Que Viva Rossellini

Esta mostra, dedicada à obra de Roberto Rossellini, permitirá ao público brasileiro, principalmente à novas gerações, ter uma visão bastante abrange da obra desse diretor. Bastante abrangente pois não se trata de uma retorospectiva completa, apesar de termos tentado preencher em partes essa lacuna ao arrolarmos, neste catálogo, todas as realizações deste cineasta que tivemos notícia.
Considerado o pai do neo-realismo, não sem contestações, e o pai do cinema moderno, talvez em maior unanimidade, Rossellini foi sempre uma figura polêmica, pois como grande experimentador, buscou inúmeras vezes novos caminhos. Sua virada mais ousado, talvez, foi a de se dedicar a produzir filmes para televisão, quando viu nesse meio uma forma de atingir e educar o público, depois da falência do projeto pedagógico neo-realista.
Nem sempre os resultados dessa busca, tanto no campo cinematográfico quanto no televisivo, foram satisfatórios ou foram compreendidos, despertanto, às vezes, reações violentamente contrárias. Para darmos um exemplo, se Jean-Claude Bernardet acusou Vanina Vanini de ser uma missa fúnebre para o cinema do diretor, Paulo César Saraceni consagrou-o como uma obra definitiva.
O mesmo tinha acontecido com Il Generale della Rovere: enquanto parte da crítica italiana considerou o heroismo do protagonista uma falsificação histórica, Glauber Rocha entusiasmou-se com o filme, ao ver a transformação do crápula a herói uma exigência para se compreender que a consciência da personagem não era de cunho ideológico, mas nascia do sofrimento e da solidão.
A opinião dos dois cineastas vem a lembrar não só o contato que Roberto Rossellini manteve com os realizadores brasileiros, mas também seu interesse por nosso país, que visitou quatro vezes, pelo que pudermos apurar. Por isso, uma parte desse catálogo é dedicada às viagens que o diretor italiano fez ao Brasil, testemunhadas por artistas e intelectuais que conviveram com ele nessas ocasiões.
O diálogo de Rossellini com o Brasil é um terreno ainda a ser explorado; esperamos, portanto, que a mostra e o catálogo possam representar um estímulo para quem quiser se aventurar a trilhar esse caminho.

Mariarosária Fabris e Alex Calheiros, editores do catálogo.