Nascido em 1967, o cineasta François Ozon é um dos mais jovens e vigorosos realizadores franceses da atualidade. Desde a sua graduação em cinema na Universidade de Paris I até os dias de hoje, Ozon já dirigiu cerca de catorze filmes de curta ou média-metragem e lançou comercialmente oito filmes de longa-metragem. Apesar da breve carreira, a qualidade de sua obra já foi atestada pelo público e pela crítica e, seus filmes já foram selecionados para alguns dos mais importantes festivais do mundo, incluindo os de Berlim, Cannes e Veneza. Sua mais recente realização, o curta Un Lever de Rideau será exibido fora de concurso no 59° Festival de Cannes.
Em parceria com o Consulado da França e a Cinemateca da Embaixada Francesa, o Cinusp "Paulo Emílio" propõe nesta segunda quinzena de maio, um breve ciclo com os quatro longas mais conhecidos de Ozon no Brasil, Gotas d'Agua Sobre Pedras Escaldantes, Sob a Areia, 8 Mulheres e Swimming Pool, e que representam exatamente o miolo de sua produção.
Anteriormente à produção desses filmes, François Ozon trabalhou intensamente na realização de curtas, parte deles exibido ano passado no Brasil durante o 13° Festival Mix Brasil. O interesse do Festival pelo diretor se dá pela maneira como ele aborda em sua obra a temática da diversidade sexual, que está presente ainda em seu primeiro longa, Sitcom, e em Gotas d'Agua Sobre Pedras Escaldantes. Este último, baseado na obra do diretor e dramaturgo alemão Reiner W. Fassbinder, discorre sobre as dúvidas de um jovem de dezessete anos seduzido por um homem mais velho. Já Sitcom trata da história de uma família burguesa, aparentemente careta, que inesperadamente se vê às voltas com a realização de seus fetiches mais íntimos e bizarros.
É interessante notar como, paralelamente a esta tendência, Ozon realizou ainda filmes muito densos, que mostraram aos poucos como a obra do diretor se amadureceu. Seu segundo longa, o thriller Les Amants Criminels, já apontava nesta direção ao contar a história de um casal de adolescentes que, como num jogo, seduz e mata um jovem de ascendência árabe. É ainda o caso de Sob a Areia que vai profundamente dentro da dor de uma mulher ante o desaparecimento do marido.
No entanto, seja em comédias ou em filmes dramáticos, é perceptível como diretor trabalha com os jogos de sedução que se estabelecem entre os sexos e as relações amorosas que daí se desenvolvem. Em Swimming Pool, a presença de Ludivine Sagnier trajando apenas um biquíni durante boa parte da narrativa, seduz e instiga a personagem de Charlotte Rampling, criando um jogo entre ficção e realidade que irá perturbar não só a escritora do filme como também o próprio público.
A maneira como Ozon desenvolve a linguagem cinematográfica e estabelece um diálogo entre os gêneros é também um aspecto determinante de sua filmografia, o que explica como em 8 Mulheres o diretor foi capaz de transformar um filme de mistério, moldado nos romances de Agatha Christie, num musical entoado por oito das maiores atrizes francesas. Ou seria o filme um musical transformado em filme de mistério? Independente da resposta, neste filme, Ozon consegue através de sua mise-en-scène, fazer aquilo que parecia impossível: não deixar-se ofuscar pelo elenco estrelar, encabeçado por Catherine Deneuve, Isabelle Huppert e Fanny Ardant.
A partir deste panorama, que busca identificar uma unidade temática na carreira de François Ozon, esta mostra espera ainda aquecer o espectador para o próximo lançamento do cineasta no Brasil, o forte 5x2, que representa talvez o ponto mais alto da carreira do diretor. Ao analisar cinco momentos a vida de um casal de maneira invertida, iniciando a narrativa pelo divórcio, Ozon cria uma fascinante obra sobre a crise de um relacionamento, fazendo do uso da linguagem uma ferramenta essencial para o impacto do filme. Imperdível.

Victor A. Biagioni.