RETROSPECTIVA ROSEMBERG CARIRY


A recente presença de filmes nordestinos nos cinemas paulistanos soma se a um processo histórico de tentativas de rasgar o bloqueio à exibição - e mesmo à produção - de obras erigidas fora do eixo Rio São Paulo. O cinema carioca ou paulista, que parecem brigar so zinhos contra o predomínio da produção norte americana, oculta uma questão na cional: a diversificação regional da cinematografia brasileira. Nesse front, o cearense Rosemberg Cariry armado com sua câmera inventiva tem mais de 30 anos de guerrilha, em uma carreira singular. O CINUSP “Paulo Emílio” apresenta a mostra Retrospectiva Rosemberg Cariry. Mais que uma homenagem ao diretor - que prescinde dela - é um presente ao público paulistano.
O cinema de Cariry soma ao resgate das manifestações populares uma inquietação filosófica que faz do sertão palco de tragédias que extrapolam sua localidade: o confronto com a autoridade paterna, os descaminhos do amor, o percurso da loucura, enfim, as (des)razões da existência. Isso em uma espécie de cinema cactos, que, potencialmente espinhoso, é cantil.
Esta mostra apresenta toda a obra de Rosemberg Cariry em longa-metragem (seis filmes), além de mais três curtas metragens (um deles com a participação do famoso personagem Zé do Caixão) O Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, primeiro longa de Rosemberg, um documentário histórico permeado de influências que passam por Eisenstein, Glauber e a poesia popular, conta a história do movimento messiânico liderado pelo beato José Lourenço, célebre protegido de Padre Cícero. Seguindo essa trilha, Rosemberg realiza Juazeiro - A Nova Jerusalém, se aprofundando nas romarias religiosas e na mística em torno de “Padim Ciço”.
Sua primeira ficção, A Saga do Guerreiro Alumioso, uma epopéia protagonizada por um Dom Quixote sertanejo, explicita muito bem a força e a resistência de Rosemberg na produção de seus filmes. O longa foi rodado em 1991, em plena crise pós-Embrafilme, ano em que foram produzidos não mais que cinco filmes no Brasil.
Corisco e Dadá, filme sempre citado nas retrospectivas sobre o cangaço, vai, no entanto, para além dele. Conforme o cineas ta Orlando Senna: “o objetivo artístico de Rosemberg Cariry é outro e aponta para veredas metafisicas da relação do canga ceiro com Deus, com o mistério da vida e da morte - com a questão essencial da filosofia”. É também em um registro místico que Rosemberg aborda a lenda de Lua Cambará, filha de uma escrava e de um coronel de terras. Lua Cambará é protagonizado pela mesma dupla de atores de Corisco e Dadá, Chico Diaz e Dira Paes. Programamos ain da para a mostra uma pré estréia do iné dito Cine Tapuia, seguido de um debate com o diretor.
Junto às informações e sinopses, o folder contém trechos de críticas de alguns dos filmes de Rosemberg, a íntegra delas pode ser encontrada no site do CINUSP: (www.usp.br/cinusp).

Lucas Keese e Maria Dora Mourão

Sobre Rosemberg Cariry
Filósofo de formação, cineasta por vocação, Rosemberg Cariry, nasceu em Farias Brito - Ceará, no ano de 1953. Começou sua carreira cinematográfica em 1975. Na década de oitenta, realizou os primeiros filmes documentários pro fissionais.
Em 1986, realizou seu primeiro filme de longa metragem (documentário), A Irmandade da Santa Cruz do Deserto, episódio de resistência camponesa que ocorreu em 1936 e que terminou tragicamente com a intervenção armada do governo e com milhares de camponeses mortos. O filme foi premiado nacionalmente e recebeu convite para participar de festivais em Portugal e Cuba. Em 1993, durante o go verno de Collor de Melo, quando a produção de cinema no País havia entrado em completo colapso, ele filmou, ainda como cineasta independente, seu segundo longa metra gem (ficção) A Saga do Guerreiro Alumioso.
A partir de 1999, Rosemberg Cariry realizou alguns filmes: A TV e o Ser Tao, Pedro Oliveira - O Cego que Viu o Mar (curta metragem Prêmio GNT de Renovação de Linguagem) e um filme documentário de longa-metragem chamado Juazeiro A Nova Jerusalém, premiado na Jornada Internacional de Cinema da Bahia e no CinePE - Recife. Em 2001, produziu e dirigiu um filme ficção de longa metragem chamado Lua Cambará - Nas Escadarias do Palácio, finalizado em 2002, que teve pré estréia mundial no Festival Internacional de Cinema de Calcutá índia, foi selecionado para o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e obteve premiação no CinePE Recife. Em 2006 finalizou o longa-metragem Cine Tapuia, filme-ensaio que mistura realidade e ficção e presta uma homenagem a José de Alencar. Atualmente está finalizando o documentário longa-metragem Patativa do Assaré - Ave Poesia, com prêmio ganho em concurso de filmes do Ministério da Cultura.
Paralelamente à sua atividade de cineasta, Rosemberg Cariry desenvolveu todo um trabalho como escritor e poeta, tendo publicado vários livros. Tem ativa participa ção nos movimentos artísticos e literários do Ceará. Em 2001, recebeu da Fundação Cultural de Fortaleza o título do Mérito Cultural em reconhecimento ao seu trabalho artístico e cinematográfico.