CONFLITOS MUNDIAIS


O CINUSP Paulo Emilio reabre suas portas com a mostra "Conflitos Mundiais" no dia 5 de março. A mostra aborda confrontos que, ao longo das últimas décadas, tem marcado a humanidade. Evitando composições épicas, as 12 obras selecionadas - documentários e ficções - constroem imagens sobre a vida das populações afetadas pelas guerras.
Há filmes que privilegiam a denúncia como estratégia cinematográfica, caso de Timor Lorosae - O Massacre que o Mundo Não Viu, sobre a recente devastação do Timor Leste pela Indonésia quando este teve sua autonomia decretada pela ONU em 1999, e de O Caminho para Guantánamo, sobre um grupo de amigos que sofrem as conseqüências da polícia mundial que os EUA se tornaram. Outras abordagens, contudo, ajudam a complementar e até questionar a denuncia, ampliando a significação de tais conflitos.
O clássico Hiroshima, Meu Amor faz da impossibilidade de retratar fielmente seu objeto - o horror pós-atômico - sua maior força, "você não viu nada em Hiroshima", diz um dos personagens. O limite das representações, da própria imagem cinematográfica em dar conta de episódios como esses, ajuda a perceber a singularidade de suas dimensões.
Conflitos regionais, marcados por questões étnicas, estão na mostra através de filmes como Hotel Ruanda, um episódio verídico da batalha entre tribos do país; Em Segredo, um drama familiar que faz referência à guerra nos Bálcãs; e Ararat, que discorre sobre o massacre armênio pelo exército turco. Também abordando essa temática, o documentário Promessas de um Novo Mundo expõe o sentimento de crianças judias e palestinas em relação à guerra que até hoje assola a região, filme que encontra na ficção Paradise Now uma perturbadora possibilidade de drama futuro aos seus personagens. Já ABC África, do iraniano Abbas Kiarostami é um contraponto formal a Hotel Ruanda, há ali um olhar que desfaz o fetichismo típico das imagens ocidentais criadas em relação ao continente, principalmente aquelas que se pretendem as mais heróicas.
Complementando, O Pianista, de Roman Polanski e Corações e Mentes, de Peter Davis, abordam respectivamente a Segunda Guerra Mundial e a Guerra do Vietnã, conflitos que marcaram a história no século passado. Corações e Mentes, lançado um ano antes do fim da guerra, causou enorme impacto no público americano e é considerado como uma das principais fontes iconográficas do célebre filme de Francis Ford Coppola, Apocalipse Now.

Lucas Keese e Ricardo Mordoch.