No dia 9 de abril o Cinusp "Paulo Emílio" dará continuidade a mostra seriada Para Gostar de Cinema, que depois de exibir clássicos das décadas de 50, 60 e 70, terá agora como foco a produção da década de 1980. Grande sucesso de público, essa mostra pretende promover uma iniciação cinéfila através de um panorama de determinada época. Extremamente revisitada nos últimos anos, principalmente no cenário musical, a década de 80 ainda não teve grande parte de sua produção cinematográfica relançada no circuito, o que acaba nos mantendo distante de marcos internacionais desses anos.
Para compor a mostra, privilegiamos na escolha dos filmes diretores consagrados cuja obra transcende a década de 80, mas no entanto sua produção na mesma é bastante característica do imaginário coletivo deste período. É o caso de Almodóvar, diretor que nas décadas seguintes firmou-se como um grande nome do cinema mundial, mas que explorou as características mais marcandes de seu estilo nos filmes desta época. Maus Hábitos, apresentado na mostra, é um exemplo de seu universo absurdo, pautado em drogas, perversões e imoralidades.
Outros realizadores que iniciaram suas carreiras ou são mais identificados com outros períodos - mas que possuem obras consagradas de suas cinematografias na década de 80 - terão seus clássicos revisitados na mostra. São eles Eric Rohmer (Pauline na Praia), Federico Fellini (E Ia Nave Va), Jim Jarmusch (Estranhos no Paraíso) e o recém ganhador do Oscar Martin Scorcese (Touro Indomável).
O estilo kitsch, tão marcante dessa época, está presente em diversos filmes como Fome de Viver, de Tony Scott, que conta com a participação de David Bowie, um dos maiores ícones dos anos 80. Há nesse filme uma célebre cena de amor entre Caterine Deneuve e Susan Sarandon, ambas vampiras bissexuais, que escandalizou os espectadores mais pudicos.
Da produção nacional, programaremos filmes marcantes de uma época extremamente diversificada em nossa cinematografia. Entre eles, podemos citar os filmes de um grupo de realizadores que iniciaram suas carreiras no contexto cinemanovista e que, de certa forma, encerraram um ciclo durante os anos 80, caso de Memórias do Cárcere, de Nelson Pereira dos Santos.
O ex-ecano André Klotzel, que havia sido assistente de Nelson Pereira em um filme sobre a cultura caipira, estava começando a carreira junto com alguns outros novos cineastas paulistas que constituíram mais uma das vertentes do cinema brasileiro da década, A Marvada Carne é uma das belas obras desse grupo.
Já"Pixote", de Hector Babenco, indica um projeto cinematográfico bem distinto do que tradição do cinema moderno no Brasil vinha consolidando, poisduranteoperíododaredemocratização muitos foram os filmes brasileiros que buscaram estéticas mais naturalistas e uma formatação dentro do regime de gêneros.
Faz-se ainda presente na mostra o clássico Eu Te Amo, de Arnaldo Jabor, um dos mais célebres filmes da obra deste cineasta, que foi grande sucesso de público e consagrou Paulo César Pereio e Sônia Braga no cinema. A obra se dedica a uma análise intimista e sexual, concentrando-se nas crises amorosas e existenciais de um homem e uma mulher.
A década de 80 também ficou marcada no cinema brasileiro por uma enorme produção de curta-metragens, novos nomes, como Jorge Furtado (O Dia que Dorival Enfrentou a Guarda, Ilha das Flores), estavam despontando através do formato. Realizadores oriundos das experiências com o Super-8 também adquiriram notoriedade pelo curta-metragem, como Edgar Navarro, aqui representado na mostra pelo lendário média Superoutro.
Desta maneira, a mostra Para gostar de Cinema - Anos 80 cumpre seu objetivo ao apresentar ao espectador àquilo que foi produzido de melhor na época, abrangendo a cinematografia nacional e internacional e sugerindo um novo olhar para esse período que ficou conhecido por muitos como"a década perdida".

Lucas Keese e Ricardo Mordoch.