3º FESTIVAL DE CINEMA LATINO AMERICANO


Com organização da Associação do Audiovisual e apoio da Cinemateca Brasileira e do Sesc São Paulo, o cineasta homenageado este ano é Fernando Solanas, polêmico realizador argentino. O que representa para o público uma oportunidade de assistir a uma aula magna do detentor do Urso de Ouro Honorário do Festival de Berlim 2004, pelo conjunto de sua obra, de acentuado caráter político.
A exibição de 40 títulos recém-produzidos desta terceira edição reforça o propósito de referendar a atual vitalidade desta cinematografia que desponta e (re)desponta em vários países. A programação aproveita também para oferecer grandes atrações, como De Quem é a Cinta-liga, comédia inspirada na obra de Pedro Almodóvar, segundo longa-metragem do agora também diretor Fito Páez, um dos principais expoentes do rock argentino. Desta vez, a tradicional retrospectiva centra-se no cinema latino-americano dos anos 70, período em que os realizadores experimentaram novas linguagens e muita combatividade. Completam o programa uma competição de filmes realizados em cursos audiovisuais de escolas brasileiras, chilenas, mexicanas e cubanas, entre outras; as oficinas ministradas por especialistas internacionais; e a série de debates voltada às principais questões ligadas ao fazer cinematográfico na América Latina.

Fernando Leça, Presidente do Memorial da América Latina.

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Curadoria

Pela terceira vez teremos a oportunidade de uma viagem que sempre nos toca nas veias: uma viagem pelo cinema latino-americano proporcionada pelo 3º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo 2008. Tal como propusemos desde o primeiro evento, em 2006, teremos ali uma seleção vigorosa do que há de mais atual no cinema latino-americano, ao lado de uma mostra - que sempre exibe grande interesse pelo público - de nossas forças históricas, dos filmes que fizeram a história, muitas vezes de luta, de nosso cinema. Essa é a idéia básica deste Festival: de um lado, a busca do novo, das novas propostas, dos novos talentos, das surpresas, do inesperado; de outro, a presença fundamental de nossas raízes, dos filmes que marcaram gerações, a força e as propostas dos cineastas que apontaram caminho em meio a tanta dificuldade de existir e de se propagar. No primeiro ano, expusemos nossa visão crítica quanto à estranha globalização que, perversamente, coleta entre nós os que em certos momentos, por razões muitas vezes inatingíveis - mas certamente também pelos seus talentos -, fazem sucesso e são festejados pela mídia internacional. Uma coleta que, se faz bem aos escolhidos e também aos nossos egos, deixa para trás os graves problemas das produções nacionais, sempre às voltas com a massacrante ocupação da cinematografia dominante em todo mundo. É justo, e merecido, o elogio e a abertura de oportunidades para os acertos, os talentos reconhecidos a cada momento. E essas vitórias são sempre um alento e um desafio aos jovens cineastas latino-americanos. Mas é preciso dizer que todos fomos formados em nossos países, em nossas cinematografias, mergulhados em nossos eternos problemas de sobrevivência e planejamento. Esse, aliás, é o teor do documento assinado por realizadores mexicanos, no ano passado, quando se encontravam no auge do prestígio internacional: como ficam nossas indústrias cinematográficas nacionais, nossos mercados?
O 3º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo 2008 reafirma essa visão crítica, certos de que o cinema latino-americano, em todas as suas correntes e propostas, é um cinema que ainda luta pela sua sobrevivência e por espaços em seus próprios países. Festejaremos, como sempre, a diversidade de propostas, o pluralismo cultural e regional, a surpresa e o prazer de fazer e de ver cinema.
O homenageado deste ano é, sem dúvida, uma feliz escolha. Fernando Pino Solanas é, em sua trajetória, um pouco de nossa origem, a força de nossa história cinematográfica e a continuidade, o atual. Solanas é um cineasta formado nas lutas políticas latino-americanas e que soube conduzir sua carreira construindo, até hoje, filmes que pairam acima do momento, acima das contingências, acima do local, como um cinema universal marcado pela fatalidade de ser latino-americano.

João Batista de Andrade.

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Associação do Audiovisual

Ao chegar à sua terceira edição, o Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo consolida-se como espaço privilegiado para a cinematografia da região, que nele tem seus caminhos discutidos e suas obras exibidas, e para a reflexão das identidades e particularidades da Nossa América.
Essa vocação se revela quando o Festival evolui em torno de sua própria proposta inicial, projetando-a para inovações. Assim, a publicação do conteúdo das mesas de debate da primeira edição do evento - um encontro de ressonância histórica que reuniu muitos dos maiores nomes da cinematografia do continente - mostra um saldo fundamental que o Festival e a comunidade estarão reaproveitando continuamente.
A homenagem a Tomás Gutiérrez Alea, escrita (livro), falada (debates) e filmada (mostra de filmes), também se inscreve nessa que talvez já possa ser chamada de tradição do Festival. Assim como a revisão da produção latino-americana também se consolidou como um dos "sucessos de público" - isto é, como demonstração do interesse, especialmente dos jovens, com a formação e evolução da nossa identidade cinematográfica.
Por outro lado, a criação de um espaço para a exposição e reflexão sobre a produção das escolas de cinema latino-americanas, e a promoção do intercâmbio de experiências, o investimento na formação transversal da nossa criatividade aponta para novas dimensões da ação.