MOSTRA: FILMES DE SUSPENSE


Platéias do mundo inteiro lotam salas de cinema em busca das emoções e sentimentos de personagens em uma situação de medo e risco. O interesse pelo suspense nas telas parece se explicar pelo fato de que os códigos narrativos deste gênero são rapidamente reconhecidos pelos espectadores: o mistério em torno do que virá a acontecer com as personagens dentro da trama e a suspensão do tempo de uma cena parecem ser ferramentas as mais utilizadas pelos filmes de suspense que fizeram sucesso.
Ao longo da história do cinema, foram muitos os diretores que percorreram o suspense. Alguns seguiram à risca os elementos principais; outros trouxeram novidades e até subverteram os códigos narrativos. Isto em nenhum momento afetou o interesse pelo gênero. Pelo contrário: pode-se aferir que o suspense é um dos gêneros mais consagrados do cinema mundial. Seus filmes frequentemente convidam o espectador a participar da narrativa de maneira mais ativa do que a habitual, dando a ele informações que faltam às personagens do filme para a compreensão de alguns mistérios. Neste sentido, o grande mestre deste verdadeiro jogo de tramas e mistérios é Alfred Hitchcock, cujos filmes em geral constroem uma relação de cumplicidade com o espectador, revelando-lhes informações ainda desconhecidas pelos protagonistas. Deste modo, as pessoas que assistem aos seus filmes sofrem com possíveis situações de risco que os protagonistas estão próximos de encontrar, mas não sabem o que está por vir.
No caso do diretor inglês, para a mostra há um de seus filmes mais emblemáticos: Um Corpo que Cai, bom exemplo deste jogo hitchcockiano de informações reveladas ao espectador. Aqui, o que a personagem principal Scottie, um ex-detetive, entende dos acontecimentos vai definir caminhos que ele percorre, e o espectador, melhor informado da trama, seguirá seus passos como se torcendo, aflito, por decisões e caminhos menos incertos.
Apesar do gênero suspense existir e se aplicar a uma gama de filmes, muitos diretores imprimem sua marca pessoal utilizando elementos próprios a este modelo cinematográfico: caso recente dos irmãos Coen no premiado Onde os Fracos Não Tem Vez, onde se encontram, ainda, códigos narrativos do western. Ainda em diálogo com outros gêneros, Os Suspeitos e Chinatown, filmes pertencentes também ao estilo policial e que fizeram bastante sucesso. O exemplo mais radical da relação inusitada com o estilo é Veludo Azul, de David Lynch, que parte de elementos do suspense para atingir outros caminhos da linguagem cinematográfica. Este um filme bastante livre se pensarmos na sua relação com o gênero.
Há espaço para clássicos como Laura, de Otto Preminger, geralmente relacionado ao gênero noir americano dos anos 40 e 50, que, em certa medida, se aproxima dos filmes de suspense na construção de atmosferas e na situação incômoda dos protagonistas na sua relação com algum fato mundano sem explicação aparente. Outro filme bastante reconhecido é O Silêncio dos Inocentes, que nos anos 90 ganhou Oscar de Melhor Diretor, Filme, Ator e Atriz principais ao contar a história de uma policial que deve se aproximar de um perigoso canibal a fim de descobrir pistas sobre um assassino de jovens mulheres. Também M, o Vampiro de Düsseldorf, uma das obras-primas do cineasta alemão Fritz Lang, realizado nos primórdios do cinema sonoro, compõe a mostra.
A exibição de filmes de um gênero específico impõe o risco de aproximar propostas cinematográficas bastante díspares, mas estas diferenças é que fazem o suspense sobreviver enquanto modelo. Este leque de realizadores que trabalharam a partir destes elementos do suspense, o medo, o mistério, o tempo suspenso de um acontecimento, as personagens alheias ao que está de fato acontecendo, trazem ao gênero uma nova gama de possibilidades, dando a ele mais frescor e sobrevida.