PARA GOSTAR DE CINEMA 6 - SÉCULO XXI: 2001-2005
Seguindo a tradição anual do CINUSP “Paulo Emílio” desde a realização da mostra “Para Gostar de Cinema - Anos 50”, em 2004, chegou o momento de revisitarmos o cinema do século XXI. Para esta mostra, percebendo a dificuldade de se rever uma produção cinematográfica tão próxima, escolhemos um primeiro momento do novo século: anos 2001 a 2005.
É possível que os filmes desta época representem certa continuidade no contexto da produção cinematográfica dos anos 90, já que temos apreciado, desde a década passada, diferentes cinematografias nacionais e possibilidades de linguagem da sétima arte, sendo que o quadro geral não mudou muito até o presente momento. Neste sentido de diversidade que se mantém no novo século, percebe-se, em cada filme, uma relação diferente com a época e com o próprio cinema, seja pelo olhar criativo do diretor, seja pelo que os filmes de determinado país têm a dizer sobre o mundo.
Não se trata, nesta seleção, dos “melhores filmes do período”. Neste caso, teríamos que levar a cabo a máxima de Robert Bresson, para quem “um belo filme é aquele que nos dá uma elevada idéia de cinema’”. Mas há nesta mostra, certamente, grandes exemplos de possibilidades cinematográficas, sobretudo nas questões temáticas mais urgentes da época e no frescor estético de muitos filmes que serão exibidos.
Ressurgiram neste período diferentes cinematografias nacionais, reveladoras de identidades culturais, além de produções alternativas que fizeram frente ao cinema dominante, Um bom exemplo é o filme O Fabuloso Destino de Amelie Poulain um filme cult bastante popularizado que se tornou um sucesso comercial da época. Como grande produção francesa, o filme traz elementos fantasiosos, com efeitos especiais utilizados para contar a história de uma moça que vive no seu mundo particular como garçonete, mas uma descoberta em sua própria casa lhe promete um novo destino. Próximo a esta proposta lúdica está Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, filme com ótimo elenco e uma história inusitada sobre um ex-casai que deseja apagar as memórias da relação através de um serviço especializado.
A mostra ainda traz filmes de grandes autores contemporâneos, já reconhecidos em anos anteriores, como Pedro Almodóvar, Wong Kar-Wai (diretores que frequentam o gênero melodrama, aqui com os elogiados Má Educação e 2046 - Os Segredos do Amor), e o documentarista Eduardo Coutinho com Edifício Master, uma obra singular na sua carreira, ao abordar a classe média de um prédio em Copacabana. Há espaço para novos cineastas, como Marcelo Gomes, diretor de Cinema, Aspirinas, Urubus, filme premiado em Cannes que conta a história de um alemão que vive no Brasil fugido da Segunda Guerra e sua amizade com um morador de uma vila do sertão nordestino. Os dois dirigem um caminhão pelo sol quente do Nordeste vendendo aspirinas para a população dos vilarejos. Este grande filme do cinema brasileiro recente chama a atenção pelo diálogo temático/estético com o Neo-Realismo Italiano e o Cinema Novo brasileiro.
Em Adeus, Lênin, vê-se um filme emblemático do espírito da vida moderna. Representa um pouco do mal-estar oriundo das novas mudanças no mundo atual. Em tom de comédia, os sonhos de uma geração devem ser esquecidos em prol de um mundo novo que surge com a queda do muro. Outra comédia interessante, Sideways - Entre umas e Outras tem uma interessante proposta narrativa ao acompanhar a viagem de dois amigos pelas vinhas do sul da Califórnia. Antigos colegas de faculdade, aos poucos eles reconhecem suas diferenças nas relações amorosas e na própria maneira de lidar com os insucessos da vida. Já no suspense Os Outros, a personagem de Nicole Kidman tem de lidar com problemas de ordem sobrenatural que atormentam a casa e seus filhos doentes.
A mostra “Para Gostar de Cinema: 2001-2005” traz filmes marcantes por diferentes motivos: tanto pela temática e culturas em que foram produzidos, quanto pelas diversas maneiras de criação narrativa dentro da linguagem cinematográfica, passando, inclusive, pela influência da época de realização dos filmes. A pluralidade de propostas cinematográficas desta mostra possibilita uma boa idéia da produção do período, passando tanto por gêneros quanto por variados estilos cinematográficos.
Boas sessões!
Daniel Ifanger.