GLAUBER ROCHA


Revelado o aspecto ingrato da introdução de uma filmografia tão forte, resta-nos sugerir o que se afigura como grande presença em cada um destes filmes - o seu próprio autor. Talvez nada mais sincero do que a poesia de Mário Faustino (tão bem colocada em momento-chave de Terra em Transe) para expor, minimamente, o grande artista homenageado na mostra:

Balada - (em memória de um poeta suicida)

“Não conseguiu firmar o nobre pacto
Entre o cosmos sangrento e a alma pura.
Porém, não se dobrou perante o facto
Da vitória do caos sobre a vontade
Augusta de ordenar a criatura
Ao menos: luz ao sul da tempestade.
Gladiador defunto mas intacto
(Tanta violência, mas tanta ternura)

Jogou-se contra um mar de sofrimentos
Nao para pôr-lhes fim, Hamlet, e sim
Para afirmar-se além de seus tormentos
De monstros cegos contra um só delfim,
Frágil porém vidente, morto ao som
De vagas de verdade e de loucura.
Bateu-se delicado e fino, com
Tanta violência, mas tanta ternura!

Cruel foi teu triunfo, torpe mar.
Celebrara-te tanto, te adorava
Do fundo atroz à superfície, altar
De seus deuses solares - tanto amava
Teu dorso cavalgado de tortura!
Com que fervor enfim te penetrou
No mergulho fatal com que mostrou
Tanta violência, mas tanta ternura!

Envoi

Senhor, que perdão tem o meu amigo
Por tão clara aventura, mas tão dura?
Não está mais comigo.
Nem contigo:
Tanta violência. Mas tanta ternura”.

Boas sessões!!