ASTRONOMIA
Ir além, eis o que permitiu e ainda nos permite a utilização de um telescópio, objeto que foi apontado para o céu pela primeira vez há quatrocentos anos por Galileu Galilei. Ir além, não só da nossa visão, mas também da nossa concepção de universo, dos nossos conceitos sobre a vida, das nossas percepções sobre o que o mundo é, e sobre o que nós somos. É dentro desse contexto que o ano de 2009 foi proclamado pela UNESCO como o Ano Internacional da Astronomia (AIA). Nessa comemoração dos 400 anos de uso do telescópio, o principal intuito é levar à população como um todo um pouco da ciência do espaço.
Um dos meios de divulgação encontrados pela IAU (International Astronomical Union) foi fazer um documentário, Eyes on the Skies, exibido nessa mostra do Cinusp "Paulo Emílio", que conta a história dos telescópios, desde a primeira observação de Galileu até os dias atuais, onde são utilizados telescópios gigantescos e caríssimos.
Esta mostra se justifica não só como parte da comemoração do AIA, mas também porque a Astronomia muito se assemelha ao cinema, não como entretenimento ou empreendimento artístico, mas em suas possibilidades transformadoras. A Astronomia busca no céu mundos novos, incita a imaginação pela descoberta de galáxias, estrelas, planetas e tantos outros objetos insólitos e intocáveis; ela tenta enxergar o passado, entender o futuro, e busca nos situar nesse universo que se mostra cada vez mais imenso e misterioso. O cinema, por sua vez, usa a imaginação como um poder criativo, revela pela ficção ou retratações da realidade um novo jeito de ver o mundo, faz a fantasia ser real, age como uma máquina do tempo para reviver o passado sobre um novo ponto de vista ou vivenciar um futuro possivelmente inexistente; e tem, invariavelmente, como o tema o homem e suas relações. Embora diferentes, as ópticas científica e artística acabam por convergir em um convite à contemplação do mundo em que vivemos e a uma reflexão sobre as nossas ações e sobre a nossa natureza.
No fundo o cinema acaba sendo um bom parceiro para quase tudo. O que não invalida o tempero especial que a Astronomia dá a um filme quando ela se faz presente. Em O Céu de Outubro a relação entre cinema-astronomia- realidade se revela. No filme, um grupo de garotos se encanta ao saber que os russos enviaram um satélite para fora da Terra, fato que desperta o interesse dos garotos pela ciência, levando-os não só a fazer estudos próprios que os conduzem a bem-sucedidas construções de minifoguetes, mas também a perceberem que o futuro poderia ser mais do que um trabalho em uma mina de carvão.
Sim, as ciências carregam em si grandes potencialidades, mas seria insensato dizer que com elas o final feliz é inevitável. Em 2001 - Uma Odisséia no Espaço, uma das obras primas de Stanley Kubrick escrita no auge da era da corrida espacial, um grande questionamento é posto em pauta: o homem dominou a tecnologia, mas não será um dia consumido por ela? A tecnologia pode ser encantadora, mas é preciso estar atento aos seus passos, pois o homem é um ser frágil e saber situar-se diante dela é necessário para evitar catástrofes. Tal premissa está presente em Apollo 13 (um pouco encoberta pelos exageros do heroísmo americano é verdade), um filme que relata um acontecimento real de uma tentativa malfadada do homem de chegará Lua.
Ainda em 2001, está também presente outro tema pertencente aos domínios da Astronomia: Estamos sós no universo? Pergunta esta que é o tema principal de Contato, filme baseado na obra homônima de Carl Sagan. Nesse filme, entre idas e vindas de uma tentativa de botar no espaço uma nave construída pelos seres humanos cujo projeto é alienígena, emerge a questão: por que nós, seres ínfimos, somos tão especiais?
Daniel Ifanger, Grupo Sputnik- IAG/USP.