ANIME


O Japão está aqui — pelo menos no imaginário de uma geração que cresceu tendo acesso a muitos produtos audiovisuais japoneses pela televisão e que agora está na universidade. Se houve uma inegável ocidentalização do Japão no Pós-Guerra, a arte japonesa sempre cativou o olhar ocidental. Como os mangás, quadrinhos japoneses, estão em toda a parte e atingem a todas as faixas etárias, também estão os animes, os desenhos animados japoneses.
Os animes são um dos mais importantes focos do audiovisual nipônico, e reconhecidos porsuas narrativas de complexidade dramática raramente vistas nas animações ocidentais, mesmo em obras com traços marcadamente infantis, como as de Hayao Miyazaki. Ao contrário dos animês realizados para a televisão, que costumam ter condições de produção bastante limitadas, as produções para cinema apresentadas nesta mostra apresentam um refinamento incrível em sua animação — nos clássicos de Miyazaki e nas técnicas computadorizadas dos filmes mais recentes.
Há um imaginário futurista — bastante apocalítipco — muito presente na cultura japonesa após a Segunda Guerra Mundial, que pode ser notado em quase todos os filmes da mostra. O futuro representa promessas de tecnologias incríveis num tempo em que as coisas — o mundo, a natureza, os próprios humanos saíram de controle. Desde a ieve dica de um futuro devastado em A garota que Saltava Pelo Tempo, até o exílio no espaço de toda a sociedade humana em Cowboy Bebop. Neste sentido, Animatrix, uma série americana de desenhos animados em curta-metragem sobre o universo de Matrix encaixa-se bem às outras produções genuinamente japonesas. Metrópoiis e Akira apresentam seus protagonistas em embates entre forças espirituais ,e engenho das máquinas.
Paprika e A Viagem de Chihiro deixam os sonhos dominarem a realidade, apresentando o grotesco e o sedutor, criando problemas insondáveis. Ponyo sugere que os mitos dominem o mundo palpável - uma das características mais marcantes das histórias de Miyazaki -, devido ao compreensível descontrole de sentimentos humanos, mesmo diante da improvável causa de um tsunami ser de responsabilidade de duas crianças. Abrindo espaço para discussão sobre o poder dos mais fracos, Tekkon-kinkreet desafia duas crianças a manterem sua autoridade no submundo da Cidade do Tesouro. Já O Castelo Animado, apesar de traços infantis, lida com a guerra, e assume um tom crítico ao apresentar seus protagonistas em outroslaãrâmetros de tempo-espaço para solucionar problemas políticos.
Ainda que envolvam seus personagens em mundos paralelos, futuristas ou oníricos, as obras apresentadas nesta mostra apresentam uma profunda reflexão sobre o presente — como um espelho que tudo distorce para evidenciar ainda melhortudo que marca nossa sociedade, tanto do Ocidente quanto do Oriente.


Boas sessões!