MOSTRA NOVÍSSIMO CINEMA BRASILEIRO - ESTUDAMOS CINEMA


Focada no trabalho de cineastas com formação universitária em comunicação e artes, programação gratuita inclui debates com realizadores e pré-estreias dos novos filmes de Cao Hamburger, Tata Amaral e Beto Brant.

O melhor do cinema brasileiro mais recente; a crescente presença no mercado de autores com formação universitária em cinema; as novas formas de produção e distribuição de filmes. A junção destes três elementos representa uma pesquisa interessante sobre o papel da academia no panorama atual da produção cinematográfica brasileira. A novíssima geração de cineastas, a primeira quase totalmente formada pela universidade, apresenta-se com perspectivas diferentes das gerações anteriores. E mesmo para os realizadores mais experientes, os tempos mudaram. Composta exclusivamente de filmes lançados no circuito comercial nos últimos dois anos, a mostra NOVÍSSIMO CINEMA BRASILEIRO – ESTUDAMOS CINEMA, em cartaz no CINUSP “Paulo Emílio” de 27 de fevereiro a 23 de março, pretende expor essa situação.

A denominada “retomada” trouxe expressividade de público e crítica de volta ao cinema brasileiro, mas seu fervor já passou. Agora, sem essa excitação de recomeço, o cinema brasileiro busca uma estabilidade, um rumo de crescimento contínuo. Ao mesmo tempo, o impacto da produção e distribuição digitais se mostra decisivo e abre inúmeras novas possibilidades de realização. O cinema hoje é cada vez mais englobado pela academia, e cada vez mais democratizado pela produção digital. Nesta mostra, o CINUSP busca apresentar dois lados dessa produção: o cinema mais voltado para o circuito de salas, ligado às grandes distribuidoras, e o cinema de produção independente, mais autoral, cuja distribuição costuma estar focada no circuito dos festivais e das chamadas salas de arte.

Filmes como A Alegria, Apenas o Fim, Os Monstros, Bollywood Dream – O Sonho Bollywoodiano e Os Famosos e os Duendes da Morte parecem feitos no frescor de uma juventude em que o filmar vem carregado de invenção, fluidez e improvisação. As formas dramáticas inovam e buscam caminhos diferentes dos tradicionais, e as referências a outros autores parecem caracterizar um pouco dessa geração graduada em cinema. Já Bróder e Trabalhar Cansa são exemplos de uma busca por uma marca autoral ligada a uma procura por um acesso maior ao público. A forma é mais regrada por conta de um enquadramento em determinado gênero: no caso de Bróder, o favela-movie; no de Trabalhar Cansa, o terror psicológico. Ao mesmo tempo, cineastas de uma geração imediatamente anterior, também marcada pela formação acadêmica em comunicação e artes, comparecem com seus trabalhos mais recentes, em diálogo com esta nova realidade do mercado: André Klotzel, dos poucos cineastas que despontaram nos anos 1980 aliando sucesso popular e consistência estética, investe novamente na combinação em Reflexões de um Liquidificador; Tadeu Jungle, outro nome da mesma geração e trajetória bastante diversa, consolidada na publicidade, na televisão e na vídeo-arte, apresenta em Amanhã Nunca Mais, sua estréia como realizador cinematográfico, uma abordagem semelhante, entre o popular e o cult. Karim Aïnouz, Marcelo Gomes, José Eduardo Belmonte e André Ristum, representantes de uma safra intermediária, posterior à retomada e anterior à explosão do cinema autoral independente, também se mostram preocupados em combinar inovação de linguagem à comunicação com uma audiência mais ampla. Em Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo, da dupla Aïnouz-Gomes, por exemplo, o desejo autoral se expande numa bela incorporação da geografia e da cultura do sertão nordestino, tornando-o um filme menos linear, mais poético e aberto a interpretações, mas ainda assim em busca de comunicação com o público. Todos eles exemplificam os caminhos que a o cinema brasileiro atual vem explorando.

Preocupada em não apenas oferecer ao público uma nova chance de conhecer esta produção autoral recente, mas também em estimular a reflexão sobre ela e o intercâmbio entre o ambiente acadêmico e o mercado, a mostra inclui também debates e encontros entre os espectadores e os realizadores. Os cineastas André Klotzel, Marco Dutra e Tadeu Jungle comparecem a sessões de seus filmes para trocar ideias e impressões com a platéia. Nesse mesmo sentido, a última semana da mostra é marcada pela exibição de três filmes bastante aguardados e ainda inéditos no circuito comercial, oferecendo ao público universitário uma oportunidade de ver e debater em primeira mão com cineastas já consagrados suas criações mais recentes. Na terça-feira, dia 20 de março, Cao Hamburger apresenta Xingu, sua versão da trajetória dos irmãos indigenistas Villas Boas, apresentada recentemente com sucesso no Festival de Cinema de Berlim. Beto Brant, um dos primeiros nomes dessa geração de “formados em cinema” a despontar como autor no período pós-retomada, comparece na quarta-feira, dia 21, para exibir e comentar o muito falado e ainda pouco visto Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios, dirigido em parceria com Renato Ciasca. Inspirado na obra homônima de Marçal Aquino, o filme tem conquistado crítica e público nos festivais por onde passou, principalmente pela atuação corajosa de Camila Pitanga, e tem sua estreia no circuito comercial prevista apenas para 20 de abril, um mês depois. Fechando a programação de pré-estreias, a cineasta Tata Amaral, também revelada ainda antes da “retomada”, nos anos 1980, participa de debate na quinta-feira, dia 22, após a projeção de seu mais novo longa-metragem, Hoje, que conta com roteiro de Jean-Claude Bernardet, Rubens Rewald e Felipe Sholl.

A diversidade parece ser um dos bons atributos dessa safra da produção cinematográfica brasileira e está refletida na seleção de filmes que compõem a programação. Há ficção e documentário e inúmeras propostas de aproximação entre o ficcional e o documental; há uma grande variação de formas narrativas e estilos; há comédia irônica, drama sentimental, retrato social lírico, terror psicológico. A era do digital é a era da diversidade e isso se exprime na produção atual. Esse cinema com raízes na universidade se revela um cinema mais consciente de sua forma e de suas capacidades. A geração formada pela academia apresenta grandes potencialidades. O canal com o público ainda precisa ser aprimorado, assim como a estabilidade de produção. De resto, os caminhos são promissores, como o panorama selecionado parece confirmar.

SERVIÇO:

mostra NOVÍSSIMO CINEMA BRASILEIRO – ESTUDAMOS CINEMA

de 27 de fevereiro a 23 de março de 2012

CINUSP "Paulo Emílio"

Rua do Anfiteatro, 181 – Colméia, Favo 04

Cidade Universitária

Entrada Franca

100 lugares

Fone: 11-3091-3540

Fax: 11-3091-3364

cinusp@usp.br