Famoso pela parceria com mestres do cinema europeu, roteirista italiano recém-falecido é tema de mostra gratuita com alguns de seus principais filmes.
Falecido recentemente, no dia 23 de março último, aos 92 anos de idade, Tonino Guerra foi um poeta, escritor e roteirista cinematográfico italiano, autor ou co-autor de mais de 100 roteiros durante 55 anos de carreira. Nascido em 16 de março de 1920 na cidade de Santarcangelo di Romagna, destacou-se inicialmente como poeta e contista, tendo publicado diversas obras importantes como "Scarabóce", escrito enquanto o autor esteve preso num campo de concentração, entre 1944 e 1945, "Lunario" (1954), "La Storia di Fortunato" (1952), "Equilibrio "(1967), "L´uomo Parallelo" (1969), "Il Polverone" (1978) e "Il Libro delle Chiese Abbandonate" (1988). No cinema, foi discípulo de Cesare Zavattini, o roteirista que definiu o estilo seco e amoral do neo-realismo italiano, e colaborou frequentemente com alguns dos mais importantes cineastas europeus, como Federico Fellini, Michelangelo Antonioni, Theo Angelopoulos, Andrei Tarkovsky, Giuseppe Tornatore, Francesco Rosi, Mario Monicelli e os irmãos Paolo e Vittorio Taviani, em clássicos do cinema mundial como Blow Up, A Aventura, A Noite, O Eclipse, Deserto Vermelho e Zabriskie Point (de Antonioni), Amarcord, E la Nave Va e Ginger e Fred (de Fellini), Nostalgia (de Andrei Tarkovsky), Paisagem na Neblina, A Eternidade e um Dia e O Passo Suspenso da Cegonha (de Theo Angelopoulos), Matrimonio à Italiana e Os Girassóis da Rússia (de Vittorio De Sica), Casanova 70 e Caro Michele (de Mario Monicelli), La Decima Vittima (de Elio Petri), Bom Dia, Babilônia, Noites com Sol e Kaos (dos irmãos Taviani). Com essa lista impressionante de colaborações, consolidou-se como o roteirista por excelência de filmes de fundo existencialista, um especialista em colocar em palavras o indizível.
Em virtude do falecimento de um mestre do cinema desse calibre, lamentado por cinéfilos de todo o mundo, o CINUSP “Paulo Emílio” presta-lhe uma singela homenagem, exibindo alguns títulos de destaque em sua carreira. Devido à urgência com que a programação foi reunida e organizada, a impossibilidade de apresentar ao público uma seleção extensiva dos filmes mais importantes de sua carreira é contornada pela opção de exibir alguns filmes marcantes que tornam claro o seu estilo e celebram sua parceria com os mais renomados diretores com quem trabalhou. A seleção reúne sete filmes que contaram com a participação de Tonino Guerra em seus roteiros e ainda uma raríssima exibição em película, em 35mm, do filme em episódios Sempre aos Domingos, no qual quatro renomados diretores italianos levam às telas contos de Tonino Guerra roteirizados por ele mesmo. Como atração especial e derradeira homenagem, a mostra inclui também, como complemento a duas sessões, a exibição de uma entrevista concedida por Guerra à televisão italiana no início dos anos 1990.