RETROSPECTIVA PIERRE PERRAULT


Chega a São Paulo no dia 11 de junho a caravana Pierre Perrault – Retrospectivas e Colóquios no Brasil, que está circulando pelo Brasil de norte a sul, levando a primeira retrospectiva integral dos filmes deste grande documentarista quebequense, considerado um expoente do cinema direto e praticamente desconhecido do público brasileiro. A caravana, que começou no dia 18 de maio no Rio de Janeiro, já passou também por Belo Horizonte e João Pessoa e ainda passará pelas capitais Porto Alegre e Salvador, sempre acompanhada de debates e conferências. Realizada pela associação cultural Balafon, em parceria com a Universidade Paris 3 – Sorbonne Nouvelle e com a Universidade de Montréal, a RETROSPECTIVA PIERRE PERRAULT chega a São Paulo graças à parceria com o CINUSP Paulo Emílio, que exibe com exclusividade na capital paulista todos os filmes integrantes da mostra. São mais de trinta filmes de curta, média e longa-metragem, produzidos entre os anos de 1958 e 1994, dirigidos, co-dirigidos e/ou roteirizados por Perrault, além de dois documentários sobre o cineasta e seu método de trabalho. Com esta mostra, a maioria desses filmes terá agora sua primeira exibição no Brasil, permitindo que o público paulistano tenha a chance excepcional de entrar em contato com todos os filmes de Pierre Perrault, legendados em língua portuguesa. Por meio da apreciação desses filmes em conjunto, emergem os temas e ciclos fundamentais da filmografia de Perrault: a trilogia fundadora da Île-aux-Coudres (formada pelos filmes Para que o Mundo Prossiga, O Reino do Dia e Os Carros d’Água) a busca da identidade coletiva, o ciclo de Abitibi (composto pelos documentários Um Reino vos Espera, O Retorno à Terra e Gente de Abitibi), o homem e a natureza, o rio Saint-Laurent e a série Au Pays de Neufve-France, que se constitui de treze curtas-metragens roteirizados ou co-roteirizados (com Judith Crawley) por Perrault e dirigidos por René Bonnière.

Nascido em 27 de junho de 1927 e falecido em 24 de junho de 1999, Pierre Perrault é um cineasta de proa da segunda metade do século vinte, considerado um dos expoentes do cinema direto canadense. Dirigiu onze longas-metragens e uma vintena de curtas e médias-metragens, dos quais apenas alguns poucos títulos mais célebres, como os da trilogia da Île-aux-Coudres, foram exibidos entre nós – e, ainda assim, apenas em raras ocasiões. Ao longo de uma trajetória artística que se desenvolveu em múltiplas plataformas, incluindo, além do cinema, também a literatura e o rádio, Perrault criou uma obra sempre marcada pela palavra falada e pelo estudo aprofundado das questões do Québec. Em seus documentários, Perrault interrogou a formação histórica e cultural dos povos quebequenses, suas identidades e seus destinos, sua memória oral, sua geografia e seu imaginário. Ao tratar de temas e questões específicas do Québec, pode-se imaginar que a obra cinematográfica de Pierre Perrault se apresente ao público brasileiro como pouco relevante ou muito distante de nossos interesses. No entanto, seus temas recorrentes encontram eco e permitem que sejam traçados diversos paralelos com temas bastante caros à sociedade brasileira, como, por exemplo, o desaparecimento progressivo de práticas tradicionais, hoje tão discutido no país, ou o tema do descobrimento e da colonização. Certamente, há muito o que explorar também em um trabalho comparativo entre o cinema brasileiro e o cinema de Perrault, particularmente no tocante à sua abordagem peculiar do documentário, que privilegia a palavra.

Pierre Perrault veio uma só vez ao Brasil, em 1996, na III Mostra Internacional do Filme Etnográfico no Rio de Janeiro, pouco antes de sua morte, em 1999. Ele se encontrou nessa ocasião com Jean Rouch, presente ao mesmo evento. As filmografias desses dois cineastas apresentam vários pontos em comum. Um, explorador do Sahel, do rio Niger e da África do Oeste; o outro, do rio Saint Laurent, da imensa floresta quebequense com seus milhares de lagos e da tundra ártica. Eles desestabilizaram, tanto um quanto o outro, as práticas do cinema documentário, disseminando o cinema direto. A organização dessa retrospectiva, justamente após a de Jean Rouch, realizada em 2009 e 2010 e também organizada pela Balafon, oferece ainda a possibilidade de multiplicar as confrontações entre os filmes e a problemática do cinema direto.

Para que esse objetivo possa ser alcançado, a RETROSPECTIVA PIERRE PERRAULT é acompanhada também por conferências, debates e sesões comentadas, que pretendem apresentar ao público uma discussão ampla sobre sua obra, assim como levantar pontos específicos sobre alguns filmes do diretor. De maneira geral, será nesses momentos que os espectadores da mostra terão a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a vida e a obra de Pierre Perrault, ainda muito pouco vista e discutida entre nós. Para isso, foram convidados estudiosos e professores de universidades brasileiras e internacionais, como Michel Marie, da Universidade Paris 3 – Sorbonne Nouvelle, Marcius Freire, da UNICAMP, e Henri Gervaiseau, da ECA-USP. Além de apresentarem uma conferência sobre aspectos específicos da filmografia de Perrault na terça-feira, dia 12 de junho, às 19h00, no CINUSP, os professores também colaboram com a compreensão e discussão da obra de Perrault ao apresentar e comentar sessões específicas da mostra (destacada abaixo na programação).

A mostra conta ainda com um extenso catálogo que inclui textos sobre a obra de Perrault, um importante texto do próprio cineasta, sua filmografia completa e uma bibliografia sobre sua obra, além dos programas do colóquio realizado no Rio de Janeiro e da retrospectiva de filmes. Uma publicação, enfim, que oferece ao espectador elementos que lhe permitirão prosseguir em suas reflexões após a “descoberta” dos filmes de Pierre Perrault na sala do CINUSP.