MÚLTIPLOS BRASIS


A mostra MÚLTIPLOS BRASIS busca contemplar a maneira como questões vinculadas ao estudo da antropologia vêm sendo abordadas pelo cinema brasileiro recente. Composta de cinco eixos temáticos (Cidades, Personagens, Fronteiras, Performance e Outros Brasis), a mostra ocupa quatro salas de exibição na cidade de São Paulo: CINUSP Paulo Emílio, Instituto Itaú Cultural, Cine Olido e Matilha Cultural. Cada local exibe os filmes de um programa distinto, com exceção do CINUSP, que exibe dois títulos de cada um dos cinco programas que compõem a mostra. Os filmes reunidos nessa mostra dialogam com questões atuais da antropologia, que estarão em evidência durante a 28ª RBA – Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 2 e 5 de julho, no campus da PUC-SP. São todos filmes selecionados e/ou premiados em festivais e alguns deles foram feitos por antropólogos. A ideia central da mostra é colocar o grande público em contato com temas que preocupam tanto cineastas quanto cientistas sociais.

Não é incomum que antropólogos sejam abordados no cotidiano com indagações sobre o sentido de sua prática. E não é raro que eles se deparem com a dificuldade de encontrar uma resposta simples para tal pergunta. A antropologia, na sua definição tout court, é a disciplina das Ciências Sociais que tem por ambição colocar-se nas lentes do Outro que pretende conhecer. Para tanto, tornando o estranho familiar, ela dialoga com realidades transculturais relacionadas a pessoas afrodescendentes, povos indígenas, transexuais, moradores de periferia, pais de santo, artistas, carnavalescos, artesãos e tantos outros, buscando, no conhecimento que produz compreender para ver e dar visibilidade às experiências da diversidade. Assim, trilhando caminhos cruzados e híbridos, desvela mundos constituídos de permanentes diferenças. Ora, é na diferença que se constituem as múltiplas identidades. Nesta mostra, focamos o cotidiano e as experiências que se revelam nas cidades, nos personagens, nas manifestações culturais, no ato performático de si e dos outros, cruzando fronteiras e produzindo um Brasil que vibra e é múltiplo.

O programa CIDADES reúne oito filmes cujo cenário de fundo é a grande metrópole, revelando suas diferentes faces, como a cultura urbana do soul em Belo Horizonte, ligada à música e à dança do funk dos anos setenta (BH Soul), ou a vida dos meninos e meninas de rua goianos, que falam de suas histórias em Número Zero.

O programa PERFORMANCE reúne sete filmes que nos instigam a pensar sobre a encenação que impregna a vida social, como na religião (Terra Deu, Terra Come) e na performance de três personagens (O Céu Sobre os Ombros). Em todos os filmes, a representação desempenha um papel relevante na construção da narrativa fílmica, desafiando as fronteiras entre ficção e realidade.

O programa FRONTEIRAS reúne nove filmes que abordam situações limítrofes vividas pelo corpo social, cultural e físico, nas quais experimenta estados de exceção como a detenção (Juízo) e a marginalidade social (Estamira).

Já o programa PERSONAGENS, composto de 9 filmes, apresenta um cinema documental no qual os personagens são o centro da narrativa, cada qual revelando um Brasil particular, como o universo de um ermitão que vive numa caverna (A Alma do Osso) e os anos de repressão militar no Brasil vistos através do caso de Marighella, transformado em inimigo público número um da ditadura brasileira nos anos 1960 (Marighella).

Finalmente, o programa OUTROS BRASIS reúne filmes onde se contrastam aspectos urbanos e rurais de um Brasil múltiplo. Abordando o universo rural, Corumbiara nos fala sobre o massacre de um grupo de índios isolados na Gleba Corumbiara, em Rondônia, enquanto conflitos econômicos, ecológicos e humanos deste mesmo Brasil rural são revelados pelo filme Nas Terras do Bem-Virá. No eixo urbano, estão filmes como Luz, Câmera e Ação, no qual faz-se uma reflexão sobre os significados da pichação tomando como foco a cidade do Rio de Janeiro e Luz – Processo de Gentrificação em São Paulo, no qual aborda-se o contravertido projeto em discussão do bairro da Luz, no centro de São Paulo.

De cada um destes programas, o CINUSP Paulo Emílio exibe dois filmes.

Curadoria: Paula Morgado (LISA/USP)

Realização: Associação Brasileira de Antropologia

Co-realização: CINUSP e Laboratório de Imagem e Som em Antropologia (LISA)

Apoio: Associação Brasileira de Antropologia, Instituto Itaú Cultural, Laboratório de Imagem e Som em Antropologia (USP), Matilha Cultural, Secretaria Municipal de Cultural, Pró-Reitoria de Cultura e Extensão, TV PUC