ROB ROMBOUT: A CULTURA EM DESLOCAMENTO


Holandês de nascença, o cineasta Rob Rombout pode ser considerado um cidadão do mundo, sobretudo pela facilidade com que aborda qualquer tema, em qualquer lugar. Radicado em Bruxelas, na Bélgica, e professor desde 1990, Rombout tem autêntico interesse pelo intercâmbio cultural entre as nações e tem buscado promovê-lo mediante seus filmes e as aulas e oficinas que ministra ao redor do mundo - já lecionou na Universidade de Estrasburgo, na Universidade de Paris 8 e na Universidade de Bruxelas, entre outras. Com uma filmografia de quinze documentários já lançados e outros tantos em finalização, rodados nos cinco continentes, Rombout é o artífice de uma obra na qual transparece claramente o ideal de um mundo sem fronteiras. De suas inúmeras viagens pelo mundo, extraiu filmes como Transatlantique, QE2 (1992), Black Island (1994), Canton, Ia Chinoise (2001), Les Passagers de l’Alsace (2002) e Amsterdam via Amsterdam (2004). Em Portugal, rodou Les Açores de Madredeus, sobre as raízes da consagrada banda portuguesa Madredeus, estreitando sua ligação com aquele país, onde também estabeleceu colaborações com profissionais, professores e estudantes portugueses. Seu mais recente trabalho é mais um road movie: Panamericana (2010), rodado durante uma viagem do Chile ao Alaska, cortando todo o continente americano.


Ao longo de sua carreira, Rombout desenvolveu uma metodologia para a preparação de roteiros de documentários a partir do diagnóstico da carência de sistematização e da falta de referências sobre este aspecto do documentário. Seu trabalho propõe a construção e leitura do mundo através de uma imagem estável e ponto de vista clássico: o ponto de fuga central chama o espectador, organiza seu campo de visão, explicita o lugar da escuta do realizador. A imagem, ainda que estável em termos de enquadramento, constantemente coloca o espectador em posição de deslocamento, expondo os interesses deste documentarista cidadão do mundo relacionados à diversidade cultural produzida e consolidada ao longo da história. Seus documentários são o resultado de pesquisas históricas que procuram rastros de antigos encontros e a promoção de novas aproximações entre povos distintos. Neste caminho, os temas são indiferentes: o que está em jogo é propor aos entrevistados e ao público uma reflexão sobre diferenças culturais pouco observadas: a presença holandesa no Polo Norte e no Polo Sul, vista em Amsterdam via Amsterdam; a China contemporânea e o choque entre tradições retratados em Canton, Ia chinoise; a persistência em Portugal do seu passado e das sua tradições, vista em Açores de Madredeus; as surpresas provocadas por deslocamentos físicos e no tempo, presentes em toda sua obra.


Em reconhecimento do valor dessa trajetória e buscando aproximá-la do público universitário brasileiro, o CINUSP Paulo Emílio apresenta, entre os dias 11 e 13 de abril, a mostra Rob Rombout: A Cultura em Deslocamento, uma retrospectiva com alguns dos principais documentários dirigidos por ele, além de um workshop, a ser realizado em dois encontros com o cineasta.