CENTENÁRIO DE JORGE AMADO


No dia 10 de agosto de 1912, cem anos atrás, na pequena cidade de Itabuna, na Bahia, nascia Jorge Amado, um dos escritores mais famosos da literatura brasileira. Seus romances foram sempre grandes sucessos de venda e suas obras estão entre as mais traduzidas no exterior, dentre aquelas escritas em língua portuguesa. Autor de quase meia centena de livros, Amado só foi superado como autor mais vendido da literatura brasileira por Paulo Coelho. Ainda assim, em seu gênero mais prolífico, o romance ficcional, a obra de Jorge Amado não encontra paralelo no Brasil em termos de relevância cultural ou popularidade.

Reconhecido em 1994 com o Prêmio Camões, o mais importante da literatura de língua portuguesa, Jorge Amado é um dos inventores da imagem de um Brasil exuberante, povoado por mulheres fortes e sensuais e por homens que, apesar de aspereza dos dias, ainda carregam a alegria de viver, encontram força nas maiores adversidades. O Brasil de suas páginas tem paisagens coloridas, sonoras e ardentes, e é habitado por um povo que vive para celebrar a vida, não levado por um otimismo vazio, mas por uma clara intenção de superar pela felicidade uma realidade marcada por contradições e incongruências. Este Brasil que Jorge Amado ajudou a construir e afirmar é o Brasil do sincretismo religioso, um país mestiço e de enorme fibra, multifacetado, diverso, que extrai justamente dessa mistura sua identidade e riqueza.

Com uma obra literária assim imagética, brasileira e de enorme apelo popular, não é de se estranhar que Jorge Amado tenha sido um dos autores mais adaptados para o cinema, o teatro e a televisão no Brasil. Particularmente na TV, sua obra foi revisitada inúmeras vezes, e quase sempre com enorme sucesso. Telenovelas como Tieta, Gabriela e Tocaia Grande e minisséries como Teresa Batista, Dona Flor e Seus Dois Maridos e Tenda dos Milagres marcaram época na televisão brasileira e se tornaram produto de exportação. Também no cinema, a obra literária de Jorge Amado conheceu inúmeras adaptações, incluindo a que deu origem a um dos maiores sucessos de bilheteria do cinema nacional, Dona Flor e Seus Dois Maridos.

Em homenagem ao centenário de Jorge Amado, uma das maiores figuras da cultura popular brasileira, o CINUSP Paulo Emílio apresenta agora uma pequena mostra de filmes que reúne algumas das mais importantes adaptações de seus livros para o cinema. Estão incluídas, dentre outras, as versões bastante recentes de Quincas Berro D’Água, dirigida por Sergio Machado, e Capitães da Areia, dirigida por uma das netas do escritor, Cecília Amado. Dona Flor e Seus Dois Maridos é outro filme que ganha nova chance de ser visto ou revisto em película, na tela do cinema, pouco depois de ter perdido para Tropa de Elite 2 o posto de filme nacional mais visto nos cinemas brasileiros. Tieta do Agreste, romance que deu origem a uma das telenovelas de maior sucesso da televisão brasileira nos anos 1980, também se faz presente na mostra por meio da adaptação cinematográfica realizada por Cacá Diegues em 1996, Tieta, com Sônia Braga assumindo o papel que fora de Betty Faria na versão televisiva.

Bem menos conhecida é Seara Vermelha, uma das primeiras produções cinematográficas a adaptar um romance de Jorge Amado, que ganha aqui uma rara exibição em 35mm. Também é oportuna a exibição de Gabriela, versão cinematográfica do romance Gabriela, Cravo e Canela, lançada em 1983 com vistas ao mercado internacional, buscando capitalizar sobre o imenso sucesso alcançado pela adaptação televisiva deste mesmo romance, feita oito anos antes e exportada para inúmeros países desde então. Trazendo no papel da protagonista a mesma atriz que a encarnara na famosa telenovela, Sônia Braga, e escalando para o papel de seu par romântico um astro internacional (Marcello Mastroianni), o filme foi dirigido por Bruno Barreto, o mesmo do sucesso Dona Flor. Como o mesmo romance acaba de ser novamente transformado em telenovela, atualmente em exibição na Rede Globo, a revisão deste filme pode dar ensejo a uma proveitosa comparação entre as linguagens televisiva e cinematográfica e ao modo como cada qual acolhe e traduz em imagens e sons o universo verbal do escritor.

Por fim, complementa a programação o curta-metragem O Capeta Carybé, documentário sobre o artista plástico responsável pelas ilustrações de inúmeros livros de Jorge Amado, que conta com um texto do próprio escritor sobre seu amigo e colaborador.

No conjunto, ainda que não dê conta de apresentar todos os filmes baseados em livros de Jorge Amado já produzidos, a mostra CENTENÁRIO DE JORGE AMADO é uma justa homenagem a um dos nomes fundamentais de nossa literatura e uma chance imperdível de analisar como ele teve seu imaginário transposto para o cinema.