II MOSTRA DIVERSIDADE EM CENA: AGORA É QUE SÃO ELAS


Pelo segundo ano consecutivo, o CINUSP apresenta a MOSTRA DIVERSIDADE EM CENA como parte das ações de promoção da cidadania LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) e do combate à homofobia promovidas pela Pró-Reitoria de Cultura e Extensão. A mostra, que ocupa o CINUSP de segunda à sexta, entre os dias 3 e 14 de setembro, tem como principal objetivo propiciar novos olhares sobre a diversidade sexual, pautados na defesa dos Direitos Humanos como forma de promover o respeito e a convivência sadia entre a comunidade universitária. Além disso, essa mostra tem o objetivo pedagógico de permitir a reflexão do quanto a riqueza de diferenças culturais contribui para a emancipação individual e para a convivência pacífica da sociedade.

Com o subtítulo AGORA É QUE SÃO ELAS, a programação deste ano reúne filmes que abordam relacionamentos afetivos entre mulheres e questões ligadas à homossexualidade feminina, como os recentes Tomboy e Minhas Mães e Meu Pai e o clássico Infâmia. Assim, diferentemente da mostra do ano passado, que apresentou uma programação generalista sobre a diversidade sexual, a II MOSTRA DIVERSIDADE EM CENA apresenta um recorte temático específico, abordando a diversidade a partir das diferentes histórias afetivas entre mulheres e, complementando a lista de filmes, duas emocionantes histórias de transexuais masculinos, desnaturalizando a masculinização dos desejos e promovendo uma nova diversidade na diversidade.

Comumente, quando se trata das relações afetivas, a sexualidade feminina é apresentada pela falta. Seja pela necessidade de realização afetiva por meio do namoro e/ou casamento com o macho alfa, seja pela total invisibilidade quando o tema é relativo à homossexualidade, os desejos, as frustrações, o drama em torno da sexualidade da mulher é secundarizado, produzindo a falsa ideia de que o desejo é natural à masculinidade. A mostra propõe outro olhar. No filme Fogo e Desejo, por exemplo, as cunhadas Rahda e Sita, condicionadas a esse tratamento patriarcal, descobrem na amizade a possibilidade de romper com essa lógica e se permitirem uma intimidade que ultrapasse os limites da invisibilidade para a realização de um desejo marcante e emocionante entre elas. Já em Aimée & Jaguar, a alemã Lilly Wust, de 29 anos, dona de casa, mãe de quatro filhos, mulher de militar, rompe com a submissão imposta a ela e se permite diferentes aventuras sexuais com outros homens na ausência do marido, até descobrir a judia Felice e suas amigas lésbicas, cuja tática de resistência à perseguição nazista é a camuflagem. Ambas descobrem a atração mútua e o desejo ardente que as fazem desafiar a polícia secreta nazista.

Apesar da criação machista à qual a mulher é submetida desde a mais tenra idade, Laure, personagem de Tomboy, não se intimida em assumir-se como Mikael e construir sua identidade masculina junto aos moleques do subúrbio de Paris para onde sua família se muda. Mesmo quando as aulas recomeçam, ele enfrenta as agruras da intolerância por ser entender sujeito de seu corpo e de seus desejos. Semelhante situação também é experimentada por Vera, protagonista do filme homônimo: uma órfã brasileira criada em um internato que, apesar de ser forçosamente educada a assumir uma feminilidade com a qual não se identifica, constrói sua masculinidade, percebendo-se como sujeito de seu próprio corpo. Do mesmo modo, em Elvis e Madona, as duas personagens que dão nome ao filme, além de vivenciarem a total liberdade de ressignificar seus desejos e construir autonomamente suas identidades, vão além: Elvis, transexual masculino, entregador de pizza, conhece a travesti Madona por quem sente uma atração forte que se transforma em desejo, amor e num lindo romance que coloca em questionamento qualquer limite identitário e afetivo imposto pela sociedade.

O peso das instituições sociais, como a escola, também está presente no belo clássico Infâmia, de William Wyler. No início dos anos 1960, em uma escola particular para meninas, uma garota rica e mimada acusa as duas professoras que mantém a instituição de terem um relacionamento lésbico. Esse fato faz com que as duas personagens, interpretadas por Shirley MacLaine e Audrey Hepburn, sejam perseguidas e tenham suas vidas transformadas em um pesadelo. Guardadas as devidas proporções, este sufocamento também é enfrentado por Elin na pequena cidade sueca de Amal em Amigas de Colégio. Após apaixonar-se por uma garota, ela tem que enfrentar a estreiteza da mentalidade da população local.

Completando o quadro da mostra, Minhas Mães e Meu Pai retrata laços familiares que mostram a tranquilidade e maturidade de duas mulheres, Jules e Nic, mães de dois filhos gerados por inseminação artificial a partir do esperma de um mesmo homem. Apesar dos contratempos surgidos pela vontade dos dois adolescentes de conhecer seu progenitor, o casal acaba entendendo que o amor entre elas e a relação familiar construída anos a fio na qual seus dois filhos foram criados não podem ser comprometidos pelas intempéries extra-conjugais provocadas pela aparição de Paul, o progenitor, na vida desse núcleo familiar. A experiência familiar também marca o filme Minha Mãe Gosta de Mulheres, que aborda a relação entre três irmãs, Elvira Jimena e Sol, com sua mãe Sofia, a partir do momento em que ela assume o amor que está vivenciando com uma mulher da República Tcheca, estabelecendo uma relação de tensão entre as três filhas e o novo relacionamento de sua mãe.

Experiências distintas poderão ser vistas nestes e nos outros filmes que compõem a II MOSTRA DIVERSIDADE EM CENA: AGORA É QUE SÃO ELAS. Conhecer essas experiências distintas, ficcionalizadas no cinema de diferentes países em diferentes épocas, certamente nos permitirá refletir sobre o desafio que temos para elaborar em nossas diferentes áreas de saber uma educação e um profissionalismo pautado no respeito pela diversidade e em defesa irrestrita dos Direitos Humanos.

boas sessões!