CINEMA PELA VERDADE


Promovida pelo ICEM – Instituto Cultura em Movimento, a primeira mostra CINEMA PELA VERDADE está rodando, desde maio, 27 capitais brasileiras, levando a 81 universidades uma programação gratuita de sessões de cinema e debates, com filmes que tratam do período da ditadura militar no Brasil e suas consequências. O projeto foi contemplado pelo edital Marcas da Memória, da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça do Governo Federal, e tem por objetivo de apresentar para os jovens, por meio do audiovisual, detalhes relevantes desse período da nossa história que muitos ainda desconhecem.

Entre os dias 25 e 29 de junho, a mostra chega à Universidade de São Paulo, graças ao apoio do CINUSP Paulo Emílio, que exibe no campus da Cidade Universitária quatro documentários recentes e premiados sobre o assunto, todos com sessões seguida de debate com a presença de realizadores, acadêmicos, pesquisadores, integrantes de movimentos sociais e culturais, nos quais estudantes e debatedores terão a chance de trocar conhecimento e experiências, fomentando assim a discussão.

A mostra se norteia por dois princípios muito claros. Primeiramente, a ideia de que o cinema, mais do que entretenimento, é uma forma de arte que pode, e deve, gerar debates sobre a nossa história e a nossa sociedade. Portanto, assistir um filme também é um ato político. No entanto, tal potencialidade política não é espontânea. Para se realizar ela precisa que o que se vê na tela possa ser confrontado com informações e conteúdos críticos que dialoguem com o filme. É necessário, portanto, que o espectador não seja um ser passivo, que se relaciona de modo superficial com o que se passa na tela, mas sim um agente que constrói conhecimento confrontando suas leituras de mundo com as leituras do filme. Outro princípio importante é o da recusa da neutralidade, presente no próprio nome da mostra. A expressão “Cinema pela Verdade” indica que, nesse caso, não é possível nem se manter neutro e nem se refugiar em relativismos do tipo “cada um tem sua verdade”. A mostra toma o partido da defesa dos Direitos Humanos, da denúncia das barbaridades impetradas pela ditadura civil-militar no Brasil e da afirmação do direito de toda sociedade brasileira, sobretudo das vítimas diretas do regime, de terem acesso a todas as informações que ajudem a conhecer e compreender essa história.

Nesse sentido, os filmes selecionados buscam iluminar alguns aspectos pouco explorados e pouco conhecidos do período da ditadura militar brasileira, como a questão do financiamento da repressão militar por importantes empresários, retratada no documentário Cidadão Boilesen, de Chaim Litewski, vencedor de diversos prêmios em importantes festivais no país (Melhor Documentário Brasileiro no É Tudo Verdade, Melhor Documentário pela votação do público no CINESUL e Melhor Direção no RECINE), e a cooperação entre governos militares sul-americanos para combater opositores às ditaduras do continente, tema do documentário Condor, de Roberto Mader, vencedor do Prêmio Especial do Júri como melhor longa-metragem brasileiro do Festival de Gramado de 2007. Também integra a programação da mostra o documentário dramatizado Uma Longa Viagem, que aborda a história verídica do envolvimento da diretora Lucia Murat e de seus irmãos na luta armada contra a ditadura. Estrelado por Caio Blat, o filme foi exibido recentemente nos cinemas paulistanos.

Para a produção da mostra CINEMA PELA VERDADE, o ICEM contou com 27 Agentes Mobilizadores, universitários previamente selecionados e treinados de cada capital que foram responsáveis por articular localmente as exibições nas universidades, divulgar o evento, ajudar na pesquisa de pessoas para compor as mesas de debates, além de escrever relatório acadêmico sobre cada sessão.