MONDO TARANTINO
Quentin Tarantino é, sem sombra de dúvida, um dos mais populares, influentes, controversos e originais cineastas em atividade. Não é exagero afirmar que seus filmes alteraram profundamente o panorama do cinema norte-americano das últimas décadas, introduzindo na estrutura de típicos filmes de gênero doses maciças de violência explícita e inesperada, diálogos longos e afiados e inúmeras referências à cultura pop e à história do cinema.
No momento em que o diretor lança nos cinemas mundiais seu mais recente longa-metragem (Django Livre), logo após completar 20 anos de carreira e prestes a comemorar seu aniversário de 50 anos (em 27 de março próximo), o CINUSP Paulo Emílio, em parceria com o Centro Cultural Banco do Brasil, convida a todos para um verdadeiro mergulho na obra desse cineasta, suas parcerias e suas influências, por meio da mostra MONDO TARANTINO. Trata-se de uma oportuna retrospectiva que reúne não apenas todos os filmes e episódios de séries de TV dirigidos por Quentin Tarantino, como também os filmes que ele apenas roteirizou, os que codirigiu e outros em que apenas aparece como ator, além de uma inédita seleção de mais de 30 filmes, incluindo clássicos e obscuridades dos mais diversos gêneros e países, que o influenciaram e forneceram elementos para seus próprios filmes, ou frequentemente citados como seus favoritos.
Em vinte anos de carreira profissional no cinema, iniciada em 1992 com o lançamento do longa-metragem Cães de Aluguel, Tarantino destacou-se por suas tramas policiais e filmes de gângster (Pulp Fiction, Jackie Brown, Cães...), mas também se arriscou no terror (Um Drink no Inferno, dirigido por Robert Rodriguez), no filme de artes marciais (Kill Bill), no road movie (À Prova de Morte), na aventura de guerra (Bastardos Inglórios) e no western (no recente Django Livre). Porém, plenamente consciente de quais são as convenções de cada gênero, Tarantino usa esse conhecimento para subvertê-las e surpreender o espectador. Construiu, assim, uma obra absolutamente original e particular, que muitos tentaram copiar nos últimos 20 anos. Impôs um estilo próprio e muito forte, que é extremamente autoral ao mesmo tempo em que consegue ser popular e comercial; calcado em referências, no pastiche, na intertextualidade, na citação, na homenagem e na paródia, ainda que jamais limitada a essas categorias. Conseguiu tornar sua marca um adjetivo, tarantinesco, feito que apenas alguns dos maiores cineastas de todos os tempos, como Fellini ou Hitchcock, foram capazes de conquistar.
Cineasta-cinéfilo, cujo olhar foi apurado no balcão das locadoras de VHS onde teve seus primeiros empregos, Tarantino promoveu com seus filmes um resgate de gêneros considerados menos nobres, revitalizando convenções dos filmes de artes marciais e de perseguições de carros, de aventuras de guerra de baixo orçamento, de western-spaghettis e de filmes de exploitation dos anos 1970, retrabalhando suas referências e as reapresentando de maneira palatável a um público que não as compartilha. Para fazer jus à obra de um artista como Tarantino, marcada por citações e homenagens a outros filmes, brincadeiras com as regras dos gêneros e inúmeras referências à cultura pop em geral, a mostra busca não apenas apresentar o seu trabalho, mas todo o universo que o rodeia e inspira. Assim, no MONDO TARANTINO estão reunidos indistintamente filmes efetivamente dirigidos por ele e aqueles nos quais apenas colaborou como roteirista, ator ou produtor, incluindo quatro filmes de seu parceiro mais constante, Robert Rodriguez, e o filme em segmentos Grande Hotel. São apresentados lado a lado clássicos do cinema frequentemente citados por Tarantino como seus favoritos (como Onde Começa o Inferno, Taxi Driver, Jejum de Amor e Três Homens em Conflito) e filmes recentes de cineastas dos quais ele igualmente se declara admirador ou com os quais colabora (como Richard Linklater, John Woo, Takeshi Kitano e Takashi Miike). E há, claro, filmes explicitamente citados, parodiados ou homenageados por Tarantino, verdadeiras pérolas obscuras e, em muitos casos, inéditas no Brasil, às quais apenas um cinéfilo dedicado e sem preconceitos como Tarantino poderia nos apresentar, caso de A Outra Face da Violência, Black Mama, White Mama, Foxy Brown, Lady Snowblood, Corrida Contra o Destino, Faster, Pussycat! Kill! Kill! e a versão original de O Sequestro do Metrô.
Além dos filmes propriamente ditos, a serem exibidos no CINUSP e no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo, a programação da mostra MONDO TARANTINO inclui ainda a realização de um debate com críticos e especialistas em sua obra e a publicação de um catálogo ilustrado com filmografia, fotos e textos críticos sobre o cineasta. Trata-se de uma oportunidade única de assistir em conjunto a toda a filmografia de um diretor e também aos filmes que contribuíram para sua formação e o influenciaram. E, acima de tudo, uma chance de o público atestar o sopro de originalidade, criatividade e energia que Tarantino trouxe ao cinema de gênero hollywoodiano quando surgiu para o mundo há vinte anos.
Boas sessões!