20 ANOS DE CINUSP: 1993 - 2013


Em cartaz de 30 de setembro a 18 de outubro na Cidade Universitária, e de 4 a 27 de outubro no Centro Universitário Maria Antônia, a mostra 20 ANOS DE CINUSP comemora as duas décadas da instituição, inaugurada em 13 de outubro de 1993, com um panorama dos últimos vinte anos de cinema a partir de vinte filmes antológicos realizados entre 1993 e 2013 por diretores que se consagraram durante esse período. A mostra oferece uma ampla gama de nacionalidades, gêneros, épocas e tendências no intuito de retratar a diversificação do circuito exibidor cinematográfico ocorrida no período. A intenção não é eleger os melhores filmes, os mais premiados, bem-sucedidos, significativos ou influentes para a definição do cinema desses vinte anos. Por outro lado, a programação reúne títulos que ilustram a pluralidade de temas, abordagens, propostas estéticas e explorações técnicas e tecnológicas que marcaram esta época. A seleção de apenas vinte filmes não expressa levantamento exaustivo ou definitivo do cinema das duas últimas décadas ou das nações que viram sua produção cinematográfica circular pelas salas de exibição brasileiras, mas busca contemplar as principais novidades surgidas em matéria de autores, países, poéticas e técnicas, ao mesmo tempo em que serve como amostragem justa daquela parcela do cinema contemporâneo exibida pelo CINUSP em suas atividades correntes.

A seleção de filmes da mostra 20 ANOS DE CINUSP valoriza conteúdos que não estão acessíveis no circuito exibidor ou nas redes de televisão e exclui autores, gêneros e cinematografias frequentemente ou recentemente contemplados pelas mostras do CINUSP. Por essa razão, documentários e filmes de animação, que têm lugar cativo em sua grade de programação anual, bem como filmes de cineastas que já ganharam retrospectivas exclusivas de seu trabalho, não foram incluídos.

Feitas essas ressalvas, a seleção de obras reunidas nesta mostra aponta alguns recortes da produção contemporânea que nortearam a programação do CINUSP em seus vinte anos de atividade e seguirão norteando suas programações futuras, chamando a atenção para cinematografias, realizadores e tendências que merecem destaque na produção cinematográfica contemporânea menos presente nas salas de exibição. Nesta “amostragem” do cinema das duas últimas décadas, estéticas e estilos os mais diversos confundem-se e dificultam a classificação fílmica em gêneros, evidenciando a pluralidade intrínseca à cinematografia do período. O esfacelamento das fronteiras entre ficção e documentário, o hibridismo de situações e elementos reais e fictícios que marca filmes como A Maçã,Aquele Querido Mês de Agosto11 de Setembro, Adaptação Reality – A Grande Ilusão, com suas inusitadas combinações de situações e personagens verídicos a reencenações e deslocamentos de contexto, questiona classificações caras à história do cinema.

Multipremiados, cultuados, influentes, os filmes reunidos nesta mostra também mapeiam os movimentos da pesquisa de linguagem, da teoria e crítica e da curadoria dos festivais de cinema de 1993 até hoje, relembrando, por exemplo, as contribuições do movimento Dogma 95 (Festa de Família) e dos aclamados realizadores Michael Haneke (A Professora de Piano) e Jean-Pierre e Luc Dardenne (O Filho). Oferecem também a chance de relembrar o início de trajetórias hoje consolidadas, como as do movimento mangue beat e do cinema pernambucano, aqui representadas pelo filme Baile Perfumado, que será assunto de palestra do professor Ismail Xavier no dia 14 de outubro. A mostra contempla também filmes do início da carreira de cineastas hoje populares, como Ang Lee (O Banquete de Casamento), Wong Kar-Wai (Amores Expressos) e Danny Boyle (Trainspotting – Sem Limites).

Desde 1993, o cinema que chega ao circuito exibidor vem se diversificando muito em termos de abrangência geográfica, temática e estilística. As cinematografias nacionais, reveladoras de situações culturais pouco familiares ao público brasileiro, extrapolaram os seus territórios de origem e chegam a salas de exibição em diversas partes do mundo, possibilitando um movimento inédito de difusão de culturas e problemáticas locais. Filmes como A Menina Santa A Maçã já não causam mais estranheza por serem dirigidos por mulheres e tampouco por sua nacionalidade de origem (Argentina e Irã, respectivamente, dois países cuja produção cinematográfica é bem mais presente no circuito exibidor brasileiro hoje do que há vinte anos). Refletindo essa transnacionalização do mercado de cinema, os vinte filmes reunidos nesta mostra contemplam a produção de países cuja cinematografia só há pouco se tornou reconhecida internacionalmente, como a Coréia do Sul (Oldboy), a Romênia (A Leste de Bucareste) e a Tailândia (Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas).

A seleção de filmes da mostra 20 ANOS DE CINUSP também reflete tendências comportamentais e assuntos que se tornaram cada vez mais prementes e comuns ao longo destes vinte anos. A obsessão pela intimidade e pela fama (dissecada em Reality – A Grande Ilusão) e a atual “onda” de histórias sobre zumbis (parodiada em Juan dos Mortos), assuntos “do momento”, contrastam com temas persistentes como as drogas (em Trainspotting – Sem Limites) e a condição dos imigrantes (em O Segredo do Grão e O Banquete de Casamento). As múltiplas formas de sexualidade, que não apenas ampliaram sua presença na mídia como passaram a contar com seu próprio nicho e festivais no mercado exibidor cinematográfico, também se fazem presentes nesta mostra, em filmes como Lúcia e o Sexo e, novamente, O Banquete de Casamento. Além de refletir a emergência desses temas, a mostra ainda serve como memória de alguns episódios marcantes da história mundial recente, como a Guerra Civil que desmembrou a antiga Iugoslávia, retratada em Antes da Chuva, e a queda de regimes socialistas ditatoriais como o da Romênia, revistada sob viés sarcástico em A Leste de Bucareste.  Nesse sentido, não é por acaso que o evento histórico mais relevante dos últimos vinte anos seja lembrado nesta programação com o filme coletivo 11 de Setembro. Reunindo onze diretores de grande importância para o cinema do período, provenientes de onze nacionalidades diferentes, o filme é por si só o retrato do recorte proposto por esta mostra: a multiplicidade de conteúdos e formatos relevantes do cinema dos últimos vinte anos.

Boas sessões!