CENTENÁRIO MARGUERITE DURAS


O ciclo de cinema CENTENÁRIO DE MARGUERITE DURAS traz a São Paulo algumas faces de uma das mais inventivas e provocadoras realizadoras do cinema, da literatura e do teatro do século XX, que teria completado 100 anos de vida no dia 4 de abril deste ano se não tivesse falecido em março de 1996. Depois de ocupar a sala Petrobrás da Cinemateca Brasileira entre os dias 15 e 18 de maio, a mostra chega à sala do CINUSP Paulo Emílio na Cidade Universitária para sessões diárias, às 14h, entre os dias 19 e 23 de maio, reunindo alguns dos curtas e longas-metragens mais célebres dessa artista fundamental. Essa mostra de cinema integra e complementa a programação do COLÓQUIO INTERNACIONAL CENTENÁRIO DE MARGUERITE DURAS, uma realização da FFLCH/USP e da Universidade Mackenzie com o apoio do Institut Français e da Cinemateca da Embaixada da França, que traz ao auditório da Faculdade de Letras da USP, nos dias 19 e 20 de maio, e ao auditório da Universidade Mackenzie, no dia 21 de maio, uma série de palestras e mesas-redondas em torno da vida e obra de Marguerite Duras e conta com a participação de importantes teóricos e pesquisadores, brasileiros, franceses, belgas e britânicos. Fornecendo bases para as discussões teóricas apresentadas ao longo do Colóquio, o ciclo de cinema apresenta um pouco do trabalho dessa artista multimídia avant la lettre, que realizou um diálogo inédito entre as linguagens em sua produção literária e cinematográfica, resultando numa poética tão original quanto potente.

Exibindo desde a sua primeira experiência em um longa-metragem de ficção, como roteirista do clássico Hiroshima Mon Amour, de Alain Resnais, no final dos anos 1950, até um documentário protagonizado por Duras realizado pouco tempo antes de sua morte, como Écrire, de Benoît Jacquot, o ciclo reúne uma seleção de filmes bastante representativa para se compreender a trajetória da autora. Também realizado por Benoît Jacquot, o curta-metragem La Mort du Jeune Aviateur Anglais, que tem roteiro e narração de Duras, funde ficção e história, procedimento recorrente na obra literária da autora, fazendo com que o documentário projete um sentido e um imaginário bastante peculiares, servindo como amostra das imbricações possíveis entre cinema e literatura que Duras investiga e materializa. Já o documentário Marguerite Telle Qu’en Elle Même, de Dominique Auvray, por sua vez, constrói um retrato de Duras a partir de fotos, imagens de arquivo e trechos das muitas entrevistas que a artista concedeu a programas de televisão e amigos.

Dos quase vinte filmes dirigidos por Marguerite Duras, a mostra apresenta três destaques de sua filmografia: o longa-metragem India Song, lançado em 1974 e considerado uma de suas obras-primas, e os curtas Les Mains Négatives e Aurélia Steiner (Melbourne), ambos de 1979. Todos esses filmes demonstram uma das marcas da poética fílmica de Duras: a dissociação entre sons e imagens, que se tornam duas camadas autônomas, mesmo que agenciadas de modo inter-relacionado. Levando em conta essa característica de seus trabalhos cinematográficos, Duras chegou a declarar, a propósito de India Song, que ele se reparte em dois: o “filme das imagens” e o “filme das vozes”.

A programação do Colóquio que chega agora ao CINUSP oferece ao público também duas sessões de filmes seguidos de bate-papos com especialistas. Na segunda-feira, dia 19 de maio, após a projeção de Marguerite Telle Qu’en Elle Même, a palestra de Maurício Ayer, doutor em literatura francesa pela USP e especialista na obra de Duras, procura mostrar de que modo a produção reunida no ciclo de cinema se articula com o restante dos debates que ocorrem no Colóquio como um todo. Já a palestra de Catherine Rodgers, professora da Universidade de Swansea, no Reino Unido, e vice-presidente da Société Internationale Marguerite Duras, programada para a terça-feira, dia 20 de maio, aprofunda as leituras possíveis de um dos filmes mais enigmáticos e, ao mesmo tempo, mais poéticos da diretora: Les Mains Négatives. Nesse filme, o instante mítico da pintura em negativo de mãos em cavernas no sul da França, retomado na narração em off com a voz de Duras, se sobrepõe às imagens inusuais de uma Paris ao amanhecer, juntamente com a música rude e intensa de um violino solo. Em sua fala, Rodgers mostra como funciona a química surpreendente desses elementos díspares.

Em seu conjunto, esta mostra de cinema e o ciclo de debates em torno do centenário de Marguerite Duras se apresentam como uma oportunidade única de introdução e aprofundamento na obra de uma das mais destacadas artistas do século XX. Confira a programação completa do COLÓQUIO INTERNACIONAL CENTENÁRIO DE MARGUERITE DURAS na página:

http://outraspalavras.net/projetos/coloquio-internacional-centenario-de-marguerite-duras-1914-2014/.