GREVE 2


Dando continuidade à sua programação especial que aproveita o estado de greve de funcionários, professores e estudantes da Universidade de São Paulo, em curso desde o dia 27 de maio último, para incentivar a reflexão e o debate em torno de questões vinculadas a greves de trabalhadores, mobilização social e estudantil, sindicalismo e estruturas de poder e representação, o CINUSP Paulo Emílio segue exibindo, até o dia 25 de julho, uma seleção de filmes que abordam, direta ou indiretamente, temas ligados à presente situação da USP. Nessa segunda etapa de sua programação especial de GREVE, o CINUSP volta a apresentar sessões em todos os horários da tradicional grade de programação da sua sala de cinema localizada na Cidade Universitária, de segunda à sexta-feira, às 16 e às 19 horas. A sala Carlos Reichenbach, localizada no Centro Universitário Maria Antônia, segue sem programação alguma. Durante mais essas duas semanas dessa programação especial do CINUSP em GREVE, a instituição apresenta novamente uma mescla de filmes clássicos e contemporâneos, documentais e de ficção, que tocam em aspectos diversos das condições de trabalho, da mobilização e das negociações políticas.

Nesse período, ganham novas exibições alguns títulos já exibidos durante as duas primeiras semanas dessa programação especial: Eles Não Usam Black-tie, clássico do cinema brasileiro incontornável quando o assunto é greve e mobilização social; A Greve, primeiro longa-metragem de Sergei Eisenstein e talvez primeiro marco do cinema sobre esse assunto; Peões, documentário de Eduardo Coutinho sobre as greves realizadas na periferia de São Paulo durante os anos de 1979 e 1980; Tudo Vai Bem, de Jean-Luc Godarde Jean-Pierre Gorin, que se passa durante uma greve de operários na França; e o longa-metragem coletivo italiano Amor e Raiva, dividido em cinco segmentos independentes que colocam em pauta discussões acerca do engajamento político. Essa programação é agora complementada e enriquecida com outros filmes que prometem ampliar o escopo da discussão e adensá-la.

Ainda em torno de greves de trabalhadores e sindicalismo, a seleção de filmes inclui também, como complemento de algumas sessões, outros três documentários brasileiros que, assim como Peões, retratam as greves operárias realizadas na periferia paulistana em 1979: ABC Brasil, de Sérgio Péo, José Carlos Asbeg e Luiz Arnaldo Campos; Greve!, de João Batista de Andrade; e Greve de Março, de Renato Tapajós. Também produzido no mesmo período e contexto, O Homem que Virou Suco, outra obra de João Batista de Andrade, utiliza a ficção e o bom-humor em sua história de um imigrante nordestino que se torna operário na cidade de São Paulo. Oferecendo também um pouco de contexto histórico sobre o sindicalismo em outros países, foram incluídos na seleção os dramas norte-americanos Norma Rae, de Martin Ritt, sobre uma operária têxtil que se torna líder sindical, e Hoffa – Um Homem, uma Lenda, de Danny DeVito, sobre um importante sindicalista dos caminhoneiros daquele país, além do clássico político italiano A Classe Operária Vai ao Paraíso, de Elio Petri. Ainda sobre condições de trabalho em outros países, a mostra inclui agora também o espanhol Segunda-feira ao Sol, de Fernando León de Aranoa, já sobre o contexto da atual crise do capitalismo global, e o britânico Pão e Rosas, de outro mestre do cinema político, Ken Loach, aqui em um de seus mais contundentes e engajados painéis da classe operária inglesa.

Por fim, trazendo ao centro do foco a questão da crise política e das negociações entre distintas esferas do poder, Crise, documentário de Robert Drew sobre um momento-chave do governo do presidente norte-americano John F. Kennedy, junta-se à essa seleção de filmes como um exemplo bastante didático dos caminhos pelos quais se pode resolver um impasse entre anseios da sociedade e de uma universidade por meio dos seus representantes políticos. Complementando a programação, na quinta-feira, dia 24 de julho, às 19 horas, uma sessão com três curtas-metragens documentais brasileiros sobre moradia e desapropriação que receberam apoio do Fundo Socioambiental CASA (o cearense A Comunidade que Desviou o Trem, o pernambucano Gol Contra e o paulistano Viela G Casa 3) será seguida de debate sobre o assunto com Benedito Barbosa, advogado popular da União Nacional dos Movimentos de Moradias (UNMM) e do Centro Gaspar de Direitos Humanos que atua há trinta anos junto ao Ministério Público em causas como as retratadas nos filmes, e com Guilherme Balza, jornalista que vem fazendo diversas coberturas de casos semelhantes aos documentados. Ao seguir apresentando um conjunto de filmes assim diversificado, no qual questões diretamente ligadas à greve ou pertinentes a ela se somam a outras adjacentes que podem enriquecê-las ou oferecer novos olhares sobre elas, o CINSUP Paulo Emílio segue buscando enriquecer as visões sobre a mobilização dos trabalhadores, seja fornecendo uma perspectiva histórica, seja propondo novas relações possíveis para pensar o momento atual. Um convite para que a comunidade universitária e o público do CINUSP possam assistir a filmes, refletir, debater e engajar-se nesse processo de mudança deflagrado pela greve na Universidade.

Boas sessões!