CINECIDADANIA - 2ª MOSTRA DO NÚCLEO DOS DIREITOS


Discriminação. Homofobia. Racismo. Xenofobia. Desigualdade social. Violência sexual. Delinquência juvenil. Acesso à educação. Questões ainda sempre presentes no debate sobre a sociedade brasileira e que, como não poderia deixar de ser, frequentemente se refletem no cotidiano da USP, maior instituição de ensino do país. São, portanto, questões a respeito das quais a Universidade não pode deixar de se posicionar, sempre incentivando a reflexão e promovendo a mudança de paradigmas. O desejo de avançar no debate sobre estes e outros temas sociais ainda prementes, bem como sobre o papel da Universidade frente aos desafios que eles propõem, é o que move as ações do Núcleo dos Direitos e os eventos realizados para a comemoração de seus três anos de atividade – dentre os quais, esta mostra de cinema e a terceira edição de seu seminário anual.

Fundado em agosto de 2012, o Núcleo dos Direitos da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da Universidade de São Paulo congrega atualmente cinco programas de extensão – Aproxima-Ação, Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares, Novos Talentos da USP – Capital, Universidade Aberta à Terceira Idade, USP Diversidade e USP Legal – e tem como principal missão promover a cidadania e a cultura dos direitos fundamentais dentro da Universidade. Nesse sentido, o Seminário do Núcleo dos Direitos, realizado anualmente desde agosto de 2013, vem se consolidando como um como espaço democrático de debate sobre problemas de grande urgência para a Universidade e para a sociedade. Marcado para os dias 24 e 25 de agosto, o III Seminário se propõe este ano a discutir o tema “Universidade Responsável: Educação dos Direitos e a Construção da Cidadania”, buscando reforçar a importância de uma presença transversal da questão dos direitos humanos em todas as ações da Universidade. O evento contempla três mesas de discussão com pesquisadores, docentes, gestores, líderes sociais e ativistas, que devem refletir sobre o papel da Universidade frente às ameaças e violações de direitos que vêm se fazendo presentes no seu cotidiano e no do país, bem como sobre a transversalidade da diversidade e dos direitos nos seus programas de ensino e sobre o papel das atividades de extensão na defesa e promoção destes direitos. Antecipando algumas das questões que serão debatidas neste evento, a CINECIDADANIA – 2ª MOSTRA DO NÚCLEO DOS DIREITOS ocupa as salas de exibição do CINUSP Paulo Emílio na Cidade Universitária e no Centro Universitário Maria Antônia, entre os dias 7 e 23 de agosto, com uma programação de filmes nacionais e estrangeiros, documentais e de ficção, que abordam temas como diversidade sexual, racismo, violência contra mulheres, educação, relações de trabalho, desigualdade econômica, acessibilidade e inclusão social. A ideia da mostra é reunir filmes aclamados que aliem qualidade estética à discussão de temas urgentes que atravessam o âmbito de atuação dos diversos programas que hoje compõem o Núcleo dos Direitos e estarão em discussão no seu III Seminário.

É indiscutível que o cinema, ao colocar o espectador em contato com diferentes perspectivas da realidade e problemas sociais das mais diversas naturezas, age como um instrumento de grande valor na promoção da cidadania, da solidariedade e da reflexão. Reconhecendo esta importante função social da sétima arte, o CINUSP Paulo Emílio e o Núcleo dos Direitos estabeleceram desde sempre parcerias para a realização de mostras de cinema de temática vinculada aos programas do Núcleo, como a 1ª Mostra do Núcleo dos Direitos, realizada em agosto de 2013, as duas mostras sobre diversidade sexual, realizadas em 2012 e 2014, e a mostra sobre economia solidária realizada em 2014.

Assim, funcionando como preparação para as atividades do III Seminário do Núcleo dos Direitos, a mostra CINECIDANIA busca novamente atestar a pertinência dessa utilização do cinema como um instrumento de conscientização a respeito dos direitos fundamentais individuais e coletivos e das ameaças e violações que lhes são impostas cotidianamente. Para isso, a programação reúne obras cujas temáticas abrangem um grande leque de problemas sociais refletidos na vida da Universidade e nas atividades do Núcleo dos Direitos.

A integração à sociedade de pessoas com deficiências físicas, por exemplo, que move as ações do programa USP Legal, é o tema central de três filmes recentes e multipremiados: o polêmico ucraniano A Gangue, que conta apenas com a linguagem de sinais, inteiramente sem falas ou legendas, para narrar uma história repleta de sexo e violência; a comédia belga Hasta La Vista – Venha Como Você É, um road-movie sobre três rapazes com diferentes formas de deficiência em busca de sua iniciação sexual; e o surpreendente sucesso brasileiro protagonizado por um jovem cego, Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, que também discute homofobia – e será apresentado em uma sessão especial com áudio-descrição para deficientes auditivos no dia 20, às 16 horas.

A diversidade sexual e racial, promovida pelo programa USP Diversidade, perpassa ainda diversos outros filmes da programação, sob os mais diversos aspectos. A violência contra a mulher, por exemplo, cuja presença dentro da Universidade tem sido frequentemente denunciada, é revista sob a ótica de um grande sucesso dos anos 1980,Acusados, que discute um caso de estupro de forma contundente. Sob uma perspectiva histórica, o problema da homofobia é resgatado por um filme marcante do cinema britânico dos anos 1960, de profundo engajamento em questões sociais (Um Gosto de Mel), e por outra obra vinda da Inglaterra, mas bem mais recente – e ainda inédita no circuito exibidor comercial brasileiro – que reconta um episódio marcante do movimento gay daquele país (Pride). Interessante notar como em ambos os filmes a questão sexual se mescla a problemas trabalhistas e socioeconômicos, de modo que eles também possam ser vistos como vinculados às preocupações com a economia solidária que mobilizam a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares, outro programa do Núcleo dos Direitos – cujas diretrizes motivam também a inclusão na mostra do drama búlgaro A Lição e de uma sessão de pré-estreia do documentário brasileiro Jaci – Sete Pecados de Uma Obra Amazônica, sobre especulação imobiliária e seu impacto social, que será seguida por um debate entre seus realizadores e o público no dia 13 de agosto, às 19 horas.

Já em O Amor é Estranho, filme recente e premiado sobre um casal homoafetivo de septuagenários em dificuldades financeiras, a discussão da diversidade sexual é perpassada não só pela questão do dinheiro e da especulação imobiliária, como também por outras ligadas à maturidade e ao tratamento dispensado aos idosos em nossa sociedade – âmbito de atuação do programa Universidade Aberta à Terceira Idade, que também se faz presente no drama francês E Se Vivêssemos Todos Juntos?. Ampliando ainda mais o escopo de intersecções desse tipo, a produção brasileira Jardim das Folhas Sagradas discute questões socioeconômicas e diversidade sexual apenas como parte de um panorama que também traz à tona a tolerância religiosa e o racismo. E a discriminação racial, por sua vez, é o cerne do já clássico Faça a Coisa Certa, obra que revelou ao mundo o cineasta Spike Lee, e também do documentário A Negação do Brasil, que investiga os estereótipos frequentemente usados para retratar personagens negros nas telenovelas do país. Outro documentário de grande valor histórico sobre o racismo – e também sobre ensino superior e política – é Crise, que retrata sem intermediações a famosa celeuma desencadeada nos Estados Unidos em 1963 pela tentativa do então governador do Alabama de impedir a matrícula de dois jovens estudantes negros na universidade local.

Dois curtas-metragens produzidos dentro da USP trazem a reflexão sobre esses problemas de forma bastante concreta para o âmbito da Universidade, constituindo-se em bons pontos de partida para as discussões do III Seminário: USP 7%, que questiona o acesso ao ensino, o vestibular e as cotas, e Grêmio Treinamicro – Uma Experiência Sociocultural na USP, que nos apresenta a uma bem-sucedida iniciativa de inclusão digital do programa Aproxima-Ação do Núcleo dos Direitos – articulando uma integração entre Universidade, escola e comunidade que é buscada também pelo programa Novos Talentos da USP – Capital.

Nesse mesmo sentido, a importância da educação no combate à delinquência e na construção da cidadania, bem como a valorização dos profissionais de ensino, temas centrais para o III Seminário do Núcleo dos Direitos, fazem-se presentes também no já citado A Lição e em outros dois longas-metragens ainda inéditos no circuito comercial brasileiro: Temporário 12, que retrata de forma realista e envolvente o cotidiano de uma instituição para adolescentes problemáticos e, de forma bem mais direta, no documentário Torre de Marfim: A Crise Universitária Americana, verdadeiro inventário dos atuais desafios enfrentados pelo ensino superior não só nos Estados Unidos, mas em todo o mundo.

Com mais essa parceria, o CINUSP Paulo Emílio alinha-se ao Núcleo dos Direitos da USP em sua promoção da tolerância e de uma cultura de inclusão e justiça social no âmbito da Universidade. Não deixe, portanto, de assistir aos filmes, participar do Seminário e engajar-se na construção de uma Universidade e de uma sociedade mais justas, igualitárias e tolerantes.

Mais informações sobre o "Seminário Universidade Responsável: Educação dos Direitos e a Construção da Cidadania", sua programação completa e o formulário para inscrição online podem ser encontrados no site: http://prceu.usp.br/nucleodosdireitos/seminario.