VIRADA CINEMATOGRÁFICA


O CINUSP Paulo Emílio apresenta a “Virada Cinematográfica”, uma maratona de 10 longas-metragens totalizando 24 horas seguidas de programação, visando a inspirar o debate entre cinema e ciência; linguagem e tecnologia. A mostra faz parte da II Virada Científica, promovida pela USP em parceria com o CNPq/MCTI, e está em cartaz na Cidade Universitária, no CINUSP, das 10h30 do sábado (17) até as 09h30 do domingo (18) e no Centro Universitário Maria Antônia, com três sessões: às 16h00, 18h00 e 20h00, no sábado (17).

 A palavra “Cinema”, κίνημα do grego, tem como raiz etimológica kino que significa "movimento”. Sua história nos mostra que as aproximações com o mundo da ciência se deram desde sua origem. Enquanto sistema de captação da imagem sequencial, o cinema nasce com as experiências de inventores como Eadweard Muybridge na Inglaterra e Étienne-Jules Marey na França. Para se chegar à projeção cinematográfica atual, muitos processos de investigação foram feitos em relação aos fundamentos da ciência óptica, aos processos de revelação fotoquímica da película, à velocidade de projeção e sua relação com a percepção humana. A tecnologia do cinema percorreu séculos e vem se desenvolvendo desde o teatro de sombras, a lanterna mágica, passando pelo "Kinetoscópio", deThomas Edison, e pelo cinematógrafo dos irmãos Lumière.

No cinema analógico, a película é o anteparo utilizado, onde ocorre uma reação química entre os sais do filme e a luz que incide nele. No cinema digital, o dispositivo eletrônico converte as intensidades de luz que incidem sobre ele em valores digitais armazenáveis, transmissíveis e manipuláveis. Cinema-máquina, do laboratório para a tela, do experimento científico para a experiência afetiva. O cinema é uma forma de arte que depende da máquina para existir, mas cujo funcionamento é análogo no corpo humano, ao pensamento, pela capacidade cerebral de projetar imagens mentais. A imaginação conecta a ciência ao cinema no cerne, de maneira íntima. Do desejo nasce uma ideia, da projeção desse desejo, uma invenção.

Dentre os 10 longas metragem da programação, serão exibidos dois documentários sobre ciência: Em Busca da Memória, sobre o neurocientista Eric Kandel, e Particle Fever, que acompanha a pesquisa de cientistas sobre partículas no Grande Colisor de Hadróns. Também há uma cinebiografia, sobre uma reconhecida cientista diagnosticada com autismo, Temple Grandin, de 2010.

A curadoria também conta com ficções científicas clássicas, como Mundo por um Fio, dirigido por R. W. Fassbinder em 1973 e A Mulher na Lua, de Fritz Lang, 1929. Dentre as produções mais recentes, será exibida a ficção científica distópica de 1997: Gattaca – Experiência Genética e há destaque para o filme Interestelar, de Christopher Nolan sendo acompanhado por uma palestra na FAU às 18h sobre a ciência por trás do filme, após a exibição no CINUSP. Para as crianças, haverá exibição da animação da Pixar de 2015, Divertida Mente, e também dos filmes Osmose Jones – Uma Aventura Radical no Corpo Humano e Uma Viagem Extraordinária, produzidos respectivamente em 2001 e 2013.

O gênero de ficção científica, bastante popular, é capaz de projetar histórias que ultrapassam o impossível: viagens à lua e outros planetas, comunicação ao vivo e a cores com alguém que está do outro lado do mundo, realidades virtuais programadas. Os temas relacionados a novas invenções e especulações em torno de teorias científicas habitam o imaginário do espectador cinematográfico há muitas décadas. Aos poucos, a fantasia e o real começam a se amalgamar e se confundir, já que muito do que “era coisa de filme” agora existe na prática. Podemos expectar máquinas de movimento perpétuo que produzem energia infinita, tele transporte, viagens intergalácticas?

A temática científica nos filmes traz à tona aproximações entre diferentes públicos e âmbitos teóricos, pois conecta de forma criativa e inesperada múltiplos agentes: a ciência, sua influência na linguagem e no desenvolvimento da sociedade e o cinema enquanto fator de popularização da ciência no cotidiano, e terreno fértil para a materialização de realidades futuras ainda especulativas, que traduzidas em imagens, dentro da sala escura, são capazes de inspirar gerações. A “Virada Cinematográfica” pretende instigar o espectador de forma sensível a interagir com os aspectos lúdicos e tecnológicos da ciência e do cinema, nascidos dos questionamentos primordiais e da fissura por descobertas.

AYUME OLIVEIRA

CÉDRIC FANTI