FILMES DE MORTE PARA VER ANTES DE MORRER
Dos dias 9 a 29 de Maio de 2016, acontece no CINUSP a mostra Filmes de Morte para ver Antes de Morrer, nas salas Paulo Emílio da Cidade Universitária, e Carlos Reichenbach no Centro Universitário Maria Antônia.
O cinema historicamente ecoa alguns motivos que são caros a nós, seres humanos, enquanto questionamentos existenciais. A ponderação sobre o amor, o sexo, a violência, o nascimento são exemplos destes questionamentos sobre os quais todos nós refletimos e que o cinema, como ferramenta artística, buscou retratar e interpretar sob as ópticas mais diversas. Mas talvez a reflexão mais latente resida na questão sobre o destino inevitável de tudo aquilo que vive: a morte. Desde seu início, o cinema retrata a morte. De uma abordagem tangencial, dissimulada, aos filmes sobre a miséria e a guerra, às primeiras filmagens de mortes reais (como o elefante eletrocutado de Thomas Edison).
O amadurecimento da arte cinematográfica resultou em um aprofundamento das reflexões sobre a morte, abordando a questão não apenas enquanto tema, mas também incorporando-a à própria linguagem do filme, explorando-a através da decupagem, da montagem, da narrativa, do som… E são estas abordagens que mais interessam à mostra. Que não são apenas “sobre” a morte, mas que são, sintetizados em um termo um pouco vulgar mas eficiente, filmes “de morte”.
Se os “filmes de morte” são recorrentes ao longo de toda a história do cinema é dado o fato de que o público, envolvido em uma atração frente ao retrato do fenômeno da morte, sempre encheu as salas para assisti-los. Encantados com as mais diversas representações postas na tela, enquanto público empatizamos com o luto de uma personagem, sentimos a angústia do desconhecido, o medo do fim, a repulsa ao horror, a redenção e uma infinidade de emoções que são compartilhadas na sala escura frente a, por vezes tão poderosas representações.
Se a linguagem é característica fundamental no tratamento da morte, o cinema trabalha também na abordagem perspectiva ao tema. Um filme como Viver, de Akira Kurosawa, faz com que o espectador se identifique com o personagem de Kanji Watanabe que, após passar uma vida inteira em um entediante emprego burocrático, enfrenta sua morte iminente e inicia uma busca por um sentido de viver. Em um exercício de experiência pós-morte, Gaspar Noé em Enter the Void cria um estudo estilístico do “Livro Tibetano do Mortos”, no qual assumimos a perspectiva em primeira pessoa do protagonista. Ambos abordam a morte de maneira intimista: o “eu” frente a morte, gerando no espectador uma reflexão a respeito de si mesmo e de seu destino.
Talvez um dos filmes mais emblemáticos quando se trata da morte no cinema seja o consagrado O Sétimo Selo de Ingmar Bergman. Aqui ela se torna personagem, compondo uma poderosa alegoria com sua presença física, buscando uma dimensão simbólica do enfrentamento do homem com a morte...
Filmes como Amor de Michael Haneke, A Liberdade é Azul de Krzysztof Kieslowski e Um Filme para Nick de Nicholas Ray e Wim Wenders criam uma relação do espectador com o luto e a necessidade de lidar com a morte daqueles que são próximos a nós. No caso do filme de Ray e Wenders, uma associação ainda mais imediata se estabelece com o cinema, ao acompanharmos a doença do próprio cineasta norte-americano em um processo de ambiguidade entre o real e o encenado.
Ato de Matar de Joshua Oppenheimer trata a morte sob uma óptica política e social. No filme, acompanhamos torturadores da findada ditadura militar Indonésia, responsáveis pelas mortes de milhares de militantes comunistas e da população em geral. Oppenheimer, buscando expor o horror das torturas, pede aos personagens que reencenem suas práticas na frente da câmera.
Inspirado na obra de Nelson Rodrigues, Leon Hirszman cria em A Falecida uma abordagem sóbria de sua protagonista, que pressentindo a iminência de sua morte organiza seu próprio funeral, para colocar em pauta os valores e máscaras sociais associadas à classe média brasileira dos anos 60.
Fundindo tema e linguagem, os filmes selecionados para a mostra são exemplos das possibilidades criadas pelo cinema para expressar as percepções a respeito de tão enigmático fenômeno. Vá logo, antes que seja tarde demais. Boas sessões!