V MOSTRA DE ANIMAÇÃO
Entre os dias 4 e 24 de julho o CINUSP novamente dedica sua programação a animação. Curtas e longas-metragens de diferentes épocas e nacionalidades, realizados com uma grande variedade de técnicas compõem a curadoria, reafirmando o potencial criativo da animação, capaz de dar vasão às mais complexas narrativas e atrair públicos de todas as idades.
Os estúdios Disney/Pixar são conhecidos pelo pioneirismo na animação 3D aliado a riqueza de criação em dramaturgia. O curta-metragem Knick-knack, de 1989, e o recente Divertida Mente comprovam a evolução dessa produção.
Embora a Pixar tenha popularizado a opção por uma animação 3D computadorizada com visual realista, em Snoopy e Charlie Brown ela ganha outra cara, ao aproximar-se da origem de seus personagens, os quadrinhos. O filme mescla tridimensionalidade com traços manuais e investe na profundidade de campo como principal diferencial do HQ, criando cenas com mais de uma camada de ação. Em Ernest e Celestine são as aquarelas do livro homônimo que ganham versão animada, mantendo suas caraterísticas originais.
A técnica de stop motion utilizando massa de modelar é também amplamente difundida. No filme infanto-juvenil ParaNorman, além de massinha são utilizados materiais de impressora 3D para criar cenários ricos em detalhes que criam uma atmosfera que faz referência aos filmes B de terror. Shaun, O Carneiro, versão longa-metragem da série televisiva, derivada do sucesso Wallace e Gromit, também faz uso do stop motion, mas possui cores mais vibrantes e personagens carismáticos que interagem sem falas, tornando seu público-alvo as crianças mais novas.
Num outro extremo, provando que o stop motion não é um limitante de conteúdo e faixa etária, está o curta universitário dinamarquês Cirkus; e o brasileiro Dossiê Re Bordosa, sobre a personagem do cartunista Angeli. Se valendo da linguagem de documentários, a personagem Rê Bordosa interage com versões animadas de pessoas reais, sem perder de vista o caráter explícito e desbocado presente nos quadrinhos. Compondo a sessão com o curta será exibido o longa também inspirado na obra de Angeli, Wood & Stock: Sexo, orégano e Rock’n’roll.
Para além da conhecida produção mainstream infantil os Estados Unidos também são grande produtor de animações independentes destinadas a adultos. Bill Plympton é um dos mais afamados nomes dessa área, e em todos os seus trabalhos ele realiza sozinho e à mão todos os desenhos do filme, quadro a quadro. Exibiremos seu mais recente longa-metragem que trata de relações amorosas e traições, Cheatin’.
Don Hertzfeldt é outro diretor independente, conhecido por seus filmes protagonizados por simples bonecos de palitinhos em cenários repletos de efeitos, que tematizam a sensação de insignificância cósmica. Essa abordagem está presente no tanto no longa It’s Such a Beautiful Day, quanto no curta World Of Tomorrow, indicado ao Oscar e premiado no festival de Sundance.
Responsável por uma pequena revolução na animação, Waking Life, de Richard Linklater, popularizou uma técnica de rotoscopia aplicada sob material captado com atores reais.
Também voltado ao público adulto, Persépolis reproduz o desenho monocromático da HQ autobiográfica de maneira a reforçar as tensões políticas que acompanham a juventude da protagonista em meio à revolução iraniana. Já o curta História de Urso, vencedor do Oscar em 2016, inspirou-se em histórias reais do período da ditadura chilena, e utiliza o recurso da fábula para dialogar sobre repressão e política. Sita Sings the Blues exercita uma mescla de técnicas, funcionando como uma curiosa colagem sobre o Ramayana, conto épico que faz parte do cânone hindu.
No filme húngaro de 1981, O Filho da Égua Branca, os enquadramentos caleidoscópicos apresentam-se como visões da lenda ancestral na qual o filme se baseia. Já em The Caged Pillows a psicodelia faz referência nostálgicas ao anos 90, flertando com vaporwave.
A curadoria não estaria completa sem representantes da popular produção de anime. Dimension Bomb utiliza a montagem paralela de modo frenético, não cronológico, e ao mesmo tempo contemplativo. O clássico Millennium Actress trabalha com a metalinguagem ao retratar a produção de um documentário diversas épocas, apresentando mudanças graduais em sua paleta de cores, e construindo uma narrativa com ares surreais. O recente Miss Hokusai, por sua vez, tem como diferencial a construção episódica, mantendo fidelidade ao mangá. Curiosamente, as protagonistas femininas de ambos os filmes tomam parte em ações que subvertem os papéis da mulher, em especial no contexto do Japão do início dos séculos XX e XIX respectivamente.
Mais do que um gênero, a animação continuamente se prova como uma forma de arte, com possibilidades de expressão infinitas, desafiando constantemente os limites da criatividade e imaginação de cineastas do mundo todo. Convidamos nosso público a conhecer a riqueza dessa produção.
Boas Sessões.
AYUME OLIVEIRA
GIULIA MARTINI
NAYARA XAVIER