MONSTRA: CINEMA QUEER


Entre os dias 29 de outubro e 13 de novembro, o CINUSP apresenta: MONSTRA - Cinema Queer, propondo debates sobre identidade de gênero e diversidade sexual. O termo monstra é apresentado no título como um substitutivo brasileiro para queer, antes pejorativo (traduzido como “estranho”, “anormal”, “bicha”, “viado”), foi apropriado pelo ativismo LGBT dos EUA no final da década de 1960 e utilizado como força política afirmativa de desfrute da diferença; o ser queer como ferramenta para a transgressão de padrões hegemônicos de gênero e sexualidade, colocando em perspectiva também questões de raça, classe, nacionalidade, religião etc.

No dia 03 de novembro, às 19h00 haverá um debate com o Prof. Dário Neto, da Universidade Estadual do Paraná, militante de pautas relacionadas às questões de raça, gênero e sexualidade, ex-conselheiro estadual LGBT de São Paulo. No dia 04 de novembro às 19h00 acontecerá uma sessão especial de curtas metragens seguida de performances drag e debate com realizadores e performers.

Sem se ater às várias acepções do termo queer, a curadoria da mostra privilegia filmes que não utilizam o modo narrativo melodramático (cujas histórias são pautadas na crise da auto-aceitação) e busca celebrar a resistência dos corpos subversivos com personagens que assumem lugar ativo na dramaturgia. Paris is burning (1990), marco do New Queer Cinema, apresenta figuras icônicas dos ballrooms americanos.  A força de Bent (1997) emerge a partir do personagem Horst que, no campo de concentração de Dachau, adota o triângulo rosa sinalizador de sua orientação sexual com orgulho, como forma de resistência.

Em Pink flamingos (1972), o ícone contracultural John Waters expõe uma marginalidade explosiva. O “elogio da bizarrice” proposto por Waters em suas parcerias com a drag queen Divine caminha junto com a apropriação queer do excêntrico, que passa a ser defendido em sua dimensão política, em vez de meramente rejeitado. O filme, que combina trash, exploitation e arthouse, debocha desafiadoramente do “bom gosto” e dos bons costumes.

Nunca fui santa (1999) se destaca por ser uma das raras comédias românticas lésbicas já realizadas. No enredo, a protagonista é internada em um “centro de cura gay” e por meio de situações que beiram o absurdo, o filme constrói uma crítica irônica a essa instituição LGBTfóbica. A comédia dramática Aprendendo com a vovó (2015) também elege uma protagonista lésbica cuja orientação sexual aparece no filme como um dado e não um conflito.

Maus hábitos (1983), de Pedro Almodóvar, questiona a moral cristã com muita ironia e ousadia, expondo as fissuras da Igreja ao abordar freiras em situações pouco ortodoxas. Mal dos trópicos (2004), do tailandês Apichatpong Weerasethakul, nega uma abordagem melodramática da relação gay entre os protagonistas ao não apresentar um olhar externo reprovador. A vivência de Tong e Keng é marcada por romantismo irônico e espiritualidade de raízes budistas e animistas, abrindo possibilidades para o corpo queer se expressar religiosamente. Kenneth Anger também explora expressões espirituais em Invocation of my demon brother (1969) com práticas de ocultismo e investigações do corpo masculino em tons fetichistas.

Representante brasileiro na curadoria, Doce amianto (2013), do coletivo cearense Alumbramento, utiliza uma estética kitsch, do exagero, para explorar a tensão entre o desejo de se adequar ao sistema, dadas as normas segregadoras de corpos trans. A trajetória de Amianto é pontuada por lampejos de gozo ultra estilizado, onírico.

A teoria queer propõe gêneros e sexualidades híbridas. Esta  proposta na forma cinematogrática produz filmes transitórios entre os gêneros cinematográficos. A montagem fragmentada aponta para a instabilidade do presente queer, em constante trânsito. Derek Jarman se vale de uma estética de sobreposição, com destaque para The queen is dead (1986), que reúne três videoclipes feitos para a banda The Smiths.

Em Línguas desatadas (1989), Marlon Riggs faz da fragmentação uma das estratégias para se explorar o documental e o experimental. Os diálogos são construídos poeticamente com rimas, sob a influência da cultura do hip hop, trazendo perspectivas tanto histórica quanto subjetiva relacionadas ao auto reconhecimento negro e gay nos Estados Unidos.

Além de longas e curtas metragens, exibiremos produções em outros formatos como a websérie Her Story, escrita por mulheres trans e lésbicas e financiada coletivamente. Lacram a programação os curtas Um canto de Amor (1950) de Jean Genet, Mario Banana #1 (1964), de Andy Warhol, Borboleta (1974), de Shuji Terayama, Temporada de Caça (1989) de Rita Moreira, Secret Project Revolution (2013) de Madonna e Steven Klein, o videoclipe Talento (2016) da MC Linn da Quebrada, V e Queer, pré-estreia de Ayume Oliveira e Felipe Lemos. Convidamos você para refletir sobre a desconstrução proposta pelo queer, reconhecendo seu potencial expressivo de descortinar novas e múltiplas realidades identitárias. Boas sessões!

 

Ayume Oliveira

Giulia Martini

Rena Zoé