NOVÍSSIMO CINEMA BRASILEIRO


A mostra NOVÍSSIMO CINEMA BRASILEIRO do CINUSP Paulo Emílio chega a sua 6ª edição, abrindo o ano letivo de 2017 com um panorama do cenário cinematográfico nacional recente. A mostra se debruça sobre a produção contemporânea à procura de tendências. Ela é também um convite ao público para prestigiar o que há de melhor em nosso cinema atual. São 22 longas-metragens, 6 pré-estreias e várias sessões especiais com debates, além de curtas-metragens.

Os debates variam de conversas com os diretores sobre seus filmes a mesas voltadas a temas específicos levantados pelas obras. Já no primeiro dia de mostra, Beto Brant debate Pitanga, que dirigiu com Camila Pitanga. O filme percorre a trajetória de Antônio Pitanga, que começou a atuar no início da década de 60 em filmes precursores ao Cinema Novo, tendo construído uma carreira na televisão e no cinema até os dias de hoje.

A memória do Cinema Novo também é reavivada com o filme de mesmo nome dirigido por Eryk Rocha e premiado com o Olho de Ouro no Festival de Cannes. Trata-se de um ensaio poético sobre os filmes e diretores de um dos mais consagrados períodos de nossa história cinematográfica.

Nos últimos anos, o cinema brasileiro tem crescido não somente em quantidade de filmes - foram mais de 140 estreias de filmes brasileiros no circuito nacional em 2016 - mas também em projeção internacional, com constantes seleções em festivais internacionais. A alta dependência do financiamento público e o turbulento cenário político, no entanto, são motivo de angústia e preocupação aos profissionais da área, diante do futuro nebuloso dos órgãos públicos de cultura. Alvo de polêmicas, Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, foi premiado em festivais internacionais como o de Roterdã e integra a programação da mostra.

Nossa curadoria destaca diversos filmes que perpassam questões históricas e políticas que vêm se desenrolando e continuam em evidência na atualidade. Rifle, de Davi Pretto, discute a expansão latifundiária a partir da história de um pequeno fazendeiro. O filme terá pré-estreia no CINUSP no dia 29 de março.

Martírio retrata visceralmente o genocídio de indígenas da tribo Guarani Kaiowá. Um dos documentários nacionais recentes de maior repercussão, o filme foi premiado no Festival de Brasília. Os diretores Vincent Carelli e Tatiana Soares de Almeida, também montadora, e a professora Esther Hamburger estarão presentes para um debate no dia 4 de abril. O Último Trago, do coletivo Alumbramento, toca em temas políticos a partir de uma estética singular.

O momento atual no Brasil é tema de Entre os Homens de Bem, de Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros, jornalistas formados pela ECA-USP. O filme acompanha a trajetória de Jean Wyllys no Congresso Nacional. O deputado e os diretores estarão no CINUSP no dia 24 de março para debate.

Os filmes ambientados nas cidades também contemplam preocupações similares. Jovens Infelizes ou Um Homem que Grita não é um Urso que Dança, de Thiago B. Mendonça e vencedor do Festival de Tiradentes em 2016, discute a todo momento as relações entre estética e política enquanto segue as intervenções de uma trupe de teatro nas ruas de São Paulo. Mate-me Por Favor, de Anita Rocha da Silveira, acompanha uma adolescente de um colégio carioca ameaçado por uma onda misteriosa de assassinatos. Observamos a violência em suas diversas formas e contextos como tema recorrente em grande parte da curadoria.

Para Minha Amada Morta, de Aly Muritiba, vencedor de inúmeros prêmios nacionais e internacionais, flerta com o cinema de gênero, trazendo elementos do thriller americano, ao contar a história de um viúvo em busca de vingança. Elon Não Acredita na Morte, de Ricardo Alves Jr., com diversos planos-sequência e um notável trabalho em profundidade de campo, conta a história de Elon, que busca sua esposa pelas ruas da cidade, e dos desencontros nesse percurso. No dia 5 de abril, haverá debate com o diretor e a produtora após o filme.

Aracati, de Aline Portugal e Julia de Simone, percorre paisagens do Ceará partindo do litoral ao interior até chegar a uma cidade em meio à zona rural que foi alagada, onde restam alguns moradores que lá decidiram permanecer. Como um sertanejo, o filme fala de assuntos profundos sem apelar para a razão.

Com 12 diretoras participando da mostra, notamos que as mulheres continuam conquistando este espaço ocupado majoritariamente por homens. Temos a exemplo o novo filme de Anna Muylaert, Mãe só Há Uma, e A Cidade onde Envelheço, de Marília Rocha e vencedor do Festival de Brasília em 2016. Já Sinfonia da Necrópole, da diretora Juliana Rojas, parte de uma proposta de experimentação de gênero, unindo terror com a comédia-musical e abordando a especulação imobiliária paulistana.

A artista plástica Dora Longo Bahia também faz parte da programação e fala sobre seu filme, O Caso Dora, no CINUSP no dia 22 de março juntamente com Vladimir Safatle. Dirigido e atuado por um casal, Melissa Dullius e Gustavo Jahn, o filme experimental Muito Romântico retrata o universo de um casal de brasileiros que vai morar em Berlim. Com pré-estreia no CINUSP no dia 21 de março, a auto-ficção foi filmada em 16mm, suporte que, no passado, foi comercializado como filme doméstico.

No documentário Futuro Junho, a diretora Maria Augusta Ramos representa São Paulo a partir de fragmentos das vidas de quatro trabalhadores de diferentes classes às vésperas da Copa do Mundo. Em O Futebol, vemos o reencontro do diretor Sérgio Oksman com seu pai que, após 20 anos distantes, se reúnem para assistir à Copa no Brasil.

Já no dia 16 de março, haverá debate sobre violência contra a mulher após a exibição de O Silêncio do Céu, com a presença do diretor, Marco Dutra, e a professora Cecília Mello.

Esta edição da NOVÍSSIMO terá também uma sessão especial de curtas-metragens: Resistência e Vivência do Feminino. Os filmes compõem um mosaico sobre o tema, trazendo discussões como a identidade negra, a repressão sexual e a violência doméstica.

Baseado no livro Barco a seco, do escritor brasileiro Rubens Figueiredo, Maresia, de Marcos Guttmann, mostra duas tramas separadas pelo tempo: a vida de um pescador-pintor espanhol do passado e o trabalho de um crítico de arte especialista no pintor que se ver obrigado a repensar suas certezas. José Luiz Villamarim, diretor da novela Avenida Brasil, estreia no cinema com Redemoinho, baseado em livro de Luiz Ruffato, retratando a classe baixa operária, um estrato social que dificilmente se encontra na posição de protagonista.

Convidamos todos a apreciar os filmes e refletir sobre os caminhos do cinema brasileiro. Boas sessões!