SCI-FI ANOS 80


No século XIX, a literatura fantástica passou a incorporar elementos advindos da ciência, muito devido à crescente importância que esta vinha construindo. Escritores como Jules Verne e H. G. Wells e clássicos como Frankenstein e O Médico e O Monstro abriram caminho a um gênero que se consolidaria no século XX, sendo presente também no cinema, desde seus primeiros anos. Viagem à Lua (1902), de Georges Méliès, considerado o primeiro filme do gênero, mostrou como este estilo narrativo se adequava bem ao formato audiovisual, e o gênero foi explorado no cinema mais algumas vezes durante a primeira metade do século XX.

Os anos 70 marcaram o restabelecimento da indústria cinematográfica americana, com os diretores da Nova Hollywood conseguindo produzir grandes sucessos. Devido aos avanços tecnológicos e ao início da computação gráfica para a produção de efeitos especiais, o final da década ainda trouxe filmes como Contatos Imediatos de Terceiro Grau, Alien e Guerra nas Estrelas, que foram grandes sucessos em sua época e reavivaram o imaginário popular em torno da ficção-científica.

Estes fatores impulsionaram o gênero na década de 80, quando houve o maior número de lançamentos de ficção-científica já visto, incluindo muitos filmes que se tornaram clássicos. Tais filmes foram tão impactantes na história do sci-fi que o gênero foi permanentemente marcado pela estética dos anos 80, sendo impossível, nos dias de hoje, escapar de tais referências.

O CINUSP apresenta, entre os dias 4 e 29 de setembro, a mostra SCI-FI: ANOS 80, selecionando alguns dos clássicos do gênero no período. A mostra inclui filmes de grandes cineastas hollywoodianos, como James Cameron, Paul Verhoeven, John Carpenter e Ridley Scott, e conta também com uma maratona especial da primeira temporada de Stranger Things em seu último dia.

O sci-fi é um gênero de difícil definição, principalmente porque seus filmes costumam ser híbridos, podendo conter elementos de comédia, fantasia, ação ou terror. O ponto em comum entre suas histórias é a inserção de dispositivos tecnológicos que, no mundo real, são meras especulações. Assim, as ficções-científicas podem se passar no futuro ou em realidades alternativas, e suas narrativas são conduzidas por fenômenos hipotéticos, como as viagens intergalácticas, as máquinas de teletransporte e a presença de vida inteligente alienígena.

Por serem histórias que, apesar de verossímeis, são distanciadas da realidade do público, muitos autores aproveitaram-se disso para analisar criticamente algumas questões sócio-políticas, a partir de analogias e hipóteses sobre os possíveis rumos da sociedade. São exemplos Brazil – O filme, de Terry Gilliam, e 1984, de Michael Radford, que retratam visões distópicas do mundo. Enquanto o primeiro é irônico e fantasioso, tocando em temas como o tédio do funcionalismo público e a ineficiência de sua burocracia, a adaptação do clássico de George Orwell é sombria e deprimente, criando paralelos entre o futuro e o despotismo totalitarista que assolou o mundo na primeira metade do século XX.

O japonês Akira também apresenta uma distopia, destacando-se por sua estética cyberpunk. Em 2019, uma gangue de motoqueiros vive em Neo-Tokyo, reconstruída após a III Guerra Mundial. Tecnicamente, o filme apresenta um marco para as animações japonesas, com seus efeitos visuais e sonoros que impressionam até hoje. No mesmo ano do futuro, mas em Los Angeles, se passa Blade Runner, o Caçador de Androides. No filme, um policial aposentado é incumbido de caçar androides rebeldes na Terra, discutindo os limiares entre a vida humana e robótica.

Diretamente ligado à própria natureza do sci-fi, a questão do embate entre o homem e a ciência pode ser destacada em alguns filmes da mostra. A ciência é vista como uma criação humana que, por muitas vezes, escapa do controle humano e pode ameaçar a nossa existência. Em A Mosca, de David Cronenberg, um cientista tem seu DNA fundido com o de uma mosca em um de seus experimentos e, lentamente, sofre um processo agonizante de metamorfose. RoboCop, de Paul Verhoeven, é uma sátira política sobre violência policial e decadência urbana, na qual a tecnologia aparece como ferramenta de combate à criminalidade.

O mundo dos computadores e dos videogames está presente em Tron: Uma Odisseia Eletrônica e O Último Guerreiro das Estrelas, marcos da indústria cinematográfica pelo uso extensivo de computação gráfica e animação digital. No primeiro, acompanhamos um programador que é aprisionado em um mundo digital e forçado a participar de jogos mortais enquanto tenta voltar ao mundo real. No segundo filme, o videogame é um método desenvolvido por aliens para recrutar novos guerreiros estelares.

A existência de vida extraterrestre também é tema de outros filmes, como O Segredo do Abismo, de James Cameron. Durante a Guerra Fria, uma equipe em missão para as profundezas do oceano encontra uma nova forma de vida. Já em Eles Vivem, um par de óculos achados por um trabalhador o acordam para o fato de que aliens vivem entre os humanos, vigiando e controlando suas vidas.

Completando a mostra, teremos exibições das continuações Aliens, O Resgate, O Império Contra-Ataca e Mad Max 2 - A Caçada Continua, filmes que, por sua qualidade, são tão cultuados hoje quanto seus antecessores; ainda, teremos o clássico infantil E.T - O Extraterrestre, de Steven Spielberg; o primeiro sucesso da carreira de David Cronenberg, Scanners - Sua Mente Pode Destruir, o filme de ação pós-apocalíptico Fuga de Nova York e uma pérola de terror psicodélico, Viagens Alucinantes, dirigida pelo diretor underground Ken Russell.

A mostra conta também com uma maratona no dia 29 de setembro da primeira temporada da série Stranger Things, lançada pela Netflix em 2016, que retoma o estilo dos filmes oitentistas e de ficção-científica, trazendo referência a diversos clássicos.

O CINUSP convida tanto os que não conhecem quanto os nostálgicos para assistir a esses filmes que marcaram uma geração e são cultuados até hoje.

 

Luca Dourado
Maria Carolina Gonçalves
Vitoria Freitas