CINEMA E ANTROPOLOGIA


Entre os dias 07 e 30 de maio, o CINUSP Paulo Emílio apresenta a mostra Cinema e Antropologia, explorando algumas das teorias e práticas do cinema antropológico desenvolvidas durante o último século. A curadoria realizada pelo CINUSP em parceria com Richard Peña, professor emérito da Columbia University, busca estimular a produção e transmissão de conhecimento antropológico, estabelecendo um diálogo e uma reflexão a respeito da relação entre cultura e indivíduo, entre reencenações, rituais, viagens e olhares.

Quando o cinema surgiu, enormes partes do globo estavam sob o controle de potências europeias ou dos Estados Unidos sob a lógica do imperialismo. Desde o princípio, o cinema foi usado como meio de ligar e informar as populações das potências dominantes sobre os povos dominados, transformando essas imagens em entretenimento. Assim, um “impulso antropológico” o acompanha, com o desejo de usar o meio como forma de estudar estilos de vida variados, assim como as crenças e experiências de comunidades distantes. É possível inserir Robert Flaherty nesse contexto, com sua obra Nanook, o esquimó.

Na década de 1950 foram exploradas novas metodologias. O trabalho de Jean Rouch na França e de Robert Gardner e Timothy Asch nos EUA trouxe inovadoras abordagens na medida em que os cineastas entraram em contato com a cultura alheia sem intenção paternalista ou de julgamento. Nessa mesma época, o cinema verité fixava as lentes de suas câmeras também no cidadão urbano, ser humano que habitava o mesmo meio dos cineastas. Frederick Wiseman, que iniciou sua carreira trabalhando com vários cineastas de Harvard, também foi uma figura-chave nessa nova onda antropológica, com filmes que exploram o cotidiano de instituições públicas da cidade.

De outro lado, realizadores como Lionel Rogosin buscaram desenvolver um cinema antropológico em diálogo com as tendências modernistas no cinema de ficção. Essa abordagem consistia em procurar personagens na vida real que estivessem dispostas a encenar para a câmera situações vividas por elas. Nesses documentários, a linguagem narrativa ajuda a aproximar o público do cotidiano do sujeito fílmico. Outra forma de atingir esse resultado é encontrada nos filmes do Laboratório de Etnografia Sensorial da Universidade de Harvard (SEL), como Leviatã e Sweetgrass, que operam num princípio de imersão do espectador, sem qualquer narração ou texto que induza a um julgamento pré-determinado.

Com este pensamento, o CINUSP convida o público a conhecer mais sobre a antropologia na sétima arte, a partir de uma seleção de filmes que propõe, em conjunto com palestras e apresentações abertas a todo público, explorar as teorias e práticas dos cineastas antropológicos, durante a história de 120 anos do cinema.