NOVÍSSIMO CINEMA BRASILEIRO 2019


Entre os dias 25 de fevereiro e 24 de março, o CINUSP apresenta a oitava edição do NOVÍSSIMO CINEMA BRASILEIRO, mostra anual que explora a valiosa diversidade da cinematografia brasileira atual. Neste ano, contamos com uma seleção de 21 filmes nacionais, sendo 7 deles exibidos em caráter de pré-estreia. Além das sessões, temos ainda 7 debates com realizadores e professores.

Sempre trazendo filmes recentes que se destacaram pela qualidade, reconhecimento e relevância, a seleção inclui diferentes regionalidades e vai de obras com bons resultados comerciais a outras mais experimentais, de narrativas realistas a histórias fantásticas, de documentários poéticos a filmes políticos. Assim, abrimos o ano letivo de 2019 apresentando a riqueza do cinema nacional, sempre com sessões gratuitas e abertas ao público em geral.

Obras brasileiras têm estado cada vez mais presentes no circuito internacional de festivais. Entre elas, As boas maneiras, premiada no Festival de Locarno, chamou atenção do público por brincar com o cinema de horror em uma narrativa densa, com uso de efeitos especiais primorosos. Benzinho, drama familiar centrado na experiência de uma mãe se despedindo do filho que parte para outro país, participou da competição do Festival de Sundance e foi exibido no Festival de Roterdã, tendo sido elogiado em ambos pela performance marcante de Karine Telles, protagonista e roteirista do filme.

Histórias que nosso cinema (não) contava, da diretora Fernanda Pessoa, se debruça sobre a história da produção de pornochanchadas na década de 1970, investigando imagens e sons dos filmes desse período para remontar os anos de ditadura militar no país, o que resulta em não só um recorte repleto de valor histórico e simbólico, como também uma obra capaz de incomodar. Também contaremos com Bingo: O rei das manhãs, estreia na direção de Daniel Rezende, montador de Cidade de Deus e Tropa de Elite, que aqui desconstrói a figura icônica do palhaço Bozo, subvertendo o imaginário infantil dos anos 1980.

Continuando uma tendência já observada nos últimos anos, segue crescente a produção audiovisual dos estados de fora do eixo Rio-São Paulo, com destaque para o cinema baiano e mineiro. A cidade de Contagem, periferia de Belo Horizonte, vem se transformando em um significativo polo de produção nacional com grande destaque nas competições nacionais, e é aqui representada por três filmes. No Festival de Brasília de 2018, Temporada levou o prêmio de Melhor Filme e de Melhor Atriz com a atuação hipnotizante de Grace Passô. O filme de André Novais acompanha o cotidiano de suas personagens com olhar sóbrio, mas sem perder a afetividade. Baronesa, produção realizada quase exclusivamente por mulheres, explora a instabilidade na vida de uma mulher de periferia e transita entre documentário e ficção. Sua força em retratar essa realidade lhe rendeu o prêmio de Melhor Longa na mostra competitiva do Festival de Tiradentes. Reconhecido no exterior ao ser selecionado pelo Festival de Roterdã e ganhador dos prêmios de Melhor Filme e Melhor Ator no Festival de Brasília de 2017, Arábia é uma narrativa comovente que segue a dura trajetória de um operário a partir de seu diário, única companhia constante.

Segundo filme da dupla baiana Ary Rosa e Glenda Nicácio, Ilha tem a metalinguagem como ponto chave, colocando o espectador no ponto de vista de um documentarista em uma narrativa que estabelece o sequestro de um diretor como o início de um processo artístico. Haverá pré-estreia do filme no dia 11/03, seguida de debate com Ary Rosa. Café com canela, début cinematográfico da mesma dupla, também estará na mostra. O filme retrata com simplicidade e afeto o processo de luto de uma mãe que perde o filho, e seu reencontro com a vida graças ao auxílio de uma velha conhecida. Em A cidade do futuro, temas como não-monogamia e família são discutidos no contexto do interior baiano, lançando um novo olhar sobre a imagem conservadora que muitos têm da região.

Representando a cena cearense, que também vem conquistando destaque na produção nacional, Inferninho explora a estética brega e o realismo fantástico para discutir as angústias de seus personagens, reunidos todo o tempo dentro de um bar. O filme de Guto Parente e Pedro Diógenes foi selecionado pelo Festival de Roterdã e será uma das pré-estreias na mostra.

Assunto tão presente na discussão política brasileira atual, a questão indígena é tema de reflexão em dois filmes: em Ex-Pajé, o conflito interno de um pajé diante da demonização da sua religião pelos brancos tematiza o etnocídio do pensamento e do modo de vida indígena; já em Chuva é cantoria na aldeia dos mortos, um jovem que é visitado pelo espírito do seu falecido pai se sente obrigado a fazer uma festa em sua aldeia para marcar o fim do luto. O filme, de toques fantasmagóricos, ganhou prêmios importantes em Cannes e no Festival de Brasília e terá sua pré-estreia na mostra.

Uma boa parcela dos filmes foca suas lentes sobre a juventude brasileira. O documentário Eleições, de Alice Riff, observa as eleições do grêmio estudantil de uma escola estadual em SP, revelando como os estudantes têm se organizado politicamente em torno de suas vivências. No dia 08/03, receberemos a diretora e parte do elenco para debate após a sessão de pré-estreia. Yonlu é baseado na história de um músico gaúcho de 16 anos que teve a internet como meio de compartilhar seu talento para a música e para a arte, mas também de planejar e discutir o seu suicídio. Após a exibição no dia 13/03, teremos um debate com a professora Maria Júlia Kovács, do Instituto de Psicologia da USP, sobre saúde mental na adolescência. Tinta bruta, que também trata de espaços obscuros da juventude na internet, destaca-se na forma íntima e autêntica com que filma seus personagens queer, opondo-se à hostilidade do olhar de estranhos. O filme ganhou os prêmios de melhor longa de ficção, roteiro, ator e ator coadjuvante no Festival do Rio de 2018, tendo recebido destaque internacional ao receber o Teddy Award no Festival de Berlim, prêmio dedicado a filmes de temática LGBT.

Também está presente na mostra a poesia nacional e a sua relação com a imagem. Em O silêncio da noite é que tem sido testemunha das minhas amarguras, Petrônio Lorena colhe o depoimento de antigos repentistas e moradores da região na fronteira entre Pernambuco e Paraíba a fim de destacar o constante papel da poesia na vida dessas pessoas. Ele se debruça sobre o cotidiano dos moradores para explorar a criatividade e o improviso poético típicos da região. Em Hilda Hilst pede contato, a diretora Gabriela Greeb usa diferentes estilos narrativos, mesclando entrevistas com amigos próximos, encenações de trechos de obras como A Obscena Senhora D e de momentos da vida da autora. O filme usa a poesia em imagens para revelar uma nova faceta da ousada e polêmica escritora, 15 anos após sua morte. No dia 21/03, antes da exibição do filme, teremos uma aula aberta com as professoras Eliane Robert Moraes (FFLCH) e Esther Hamburger (ECA), que continuarão debatendo com o público após a sessão, acompanhadas da diretora do filme.

Completando as pré-estreias da mostra, teremos três filmes de cineastas já presentes na cena brasileira. Após dirigir O animal cordial, Gabriela Almeida Amaral continua desenvolvendo o terror nacional com A sombra do pai, uma história envolta em misticismo e crenças populares sobre uma menina que vê o pai perdendo a sanidade e se tornando uma ameaça. Após a sessão do filme, no dia 28/02, teremos um debate com a realizadora. Mormaço, filme roteirizado e dirigido por Marina Meliande, é um exercício sobre a corrupção da vida urbana em face das mudanças sociais e políticas, caminhando entre o realismo e a alegoria ao mostrar o efeito claustrofóbico causado nos habitantes de uma metrópole. A diretora estará presente após a sessão do dia 19/03 para um debate com o público. Por fim, em seu novo filme, Era uma vez Brasília, Adirley Queirós dialoga novamente com a ficção científica. Aqui, o Brasil do presente é uma locação distópica ancorada na crise política pós-impeachment.

Muito mais do que traçar caminhos na produção do cinema nacional ou estabelecer um recorte concentrado nas obras mais importantes, a mostra NOVÍSSIMO CINEMA BRASILEIRO busca abrir espaço para o debate da diversidade, qualidade e relevância da produção no cinema recente, seja por seus valores estéticos e formais, seja pelos ecos de discursos sociais e políticos inseridos nos filmes.

Convidamos a todos, dos que já admiram nossa programação àqueles que acabaram de descobrir o CINUSP, para se deliciar com nosso cardápio nacional e continuar acompanhando nossa variada seleção de filmes durante todo o ano.

Boas sessões!