ELES ESTÃO ENTRE NÓS


De olhos fixos no brilho das estrelas, nas fases da lua e na jornada diária do sol, a imaginação humana percorreu eras de observações e experimentos buscando explicar o universo. No século XX, o dinheiro e trabalho investidos na corrida espacial nos permitiram ver o planeta Terra de fora, um astro entre incontáveis outros, o pálido ponto azul que reconhecemos como lar.

Mas, apesar do acúmulo de descobertas científicas, olhar o céu à noite ainda nos deixa muitas perguntas sem resposta. Existe vida nas galáxias distantes? De que tipo? Alguma espécie extraterrestre estaria de olhos no nosso planeta? E se um dia você avistasse um disco voador pairando sobre a mata ou uma rua escura, saberia reagir? Alguém acreditaria em você?

Entre os dias 3 e 30 de junho, o CINUSP apresenta a mostra ELES ESTÃO ENTRE NÓS, com uma seleção de filmes de outro mundo e um noitão que mostram contatos entre a vida alienígena inteligente e a civilização humana na Terra. São obras que vão aos limites da imaginação, mostrando que não estamos sozinhos.

Uma das narrativas mais exploradas pela ficção científica é a do primeiro contato, em que se retrata o dia fatídico em que a humanidade testemunha a aparição de um povo estranho munido de tecnologias desconhecidas. O desembarque de um povo explorador em uma terra nova, com uma população local em desvantagem, pode gerar muita apreensão... Em A chegada, premiado filme de Denis Villeneuve, acompanhamos o pouso de alienígenas na Terra pela perspectiva de uma linguista renomada, cuja tarefa é construir a difícil comunicação com os seres e determinar suas intenções. Contatos imediatos de terceiro grau, clássico de Steven Spielberg, também se afasta dos clichês de uma invasão de marcianos, mostrando com olhar realista cientistas e pessoas comuns que reagem a fenômenos misteriosos. O cinema pode também trazer ao primeiro plano o terror e a ansiedade gerados no primeiro contato. É o caso de Sinais, de M. Night Shayamalan no qual o surgimento de círculos em plantações de uma pequena fazenda é apenas o primeiro passo em direção a uma histeria coletiva.

Esses três filmes trazem formas imaginativas de retratar os ETs, do humanóide ao completamente diferente de nós. Mas uma solução encontrada pelo cinema e utilizada com frequência é a de alienígenas que assumem forma humana e entram na sociedade com variadas intenções. Por exemplo, podem se inserir para propósitos científicos, como é o caso de Antes que tudo desapareça, filme do japonês Kiyoshi Kurosawa, onde três extraterrestres tomam os corpos de seres humanos com o objetivo de conhecer os conceitos da nossa sociedade. A obra brinca com vários gêneros, do drama à comédia, ação e aventura. O dispositivo do alienígena com forma humana pode ser usado para tecer potentes críticas sociais, como faz o clássico O dia em que a Terra parou. Feito em plena Guerra Fria, narra a trajetória de Klaatu, que chega ao nosso planeta para nos avisar dos perigos da corrida armamentista e da produção de bombas atômicas. No argentino Homem olhando para o sudeste, um homem se interna em um hospício afirmando que é extraterrestre e veio estudar os humanos, a quem critica por seus comportamentos cruéis.

Se os extraterrestres têm interesse em nos estudar, como não teriam visitado a Índia, com sua cultura milenar tão rica? Em PK, Aamar Khan, um dos mais famosos atores do país, interpreta um alienígena que, ao ser roubado em sua chegada à Terra, passa a tentar entender a relação que as pessoas têm com os deuses e a religião no intuito de recuperar, por meio da fé, o equipamento que o possibilitará ir embora. A comédia gerou muita polêmica na Índia devido à forte crítica que faz às pessoas que exploram a fé como mercadoria, mas foi aclamado pelo público.

Deve ser dito, porém, que eles não usam nossa aparência apenas para aprender sobre nossa sociedade. É possível conceber uma infiltração alienígena de intenções menos pacíficas, com abduções e até controle da espécie. Em Sob a Pele, Scarlett Johansson interpreta com determinação fria uma infiltrada que seduz e rapta homens para um propósito misterioso. O filme traz combinações entre elementos do cinema comercial de gênero e o cinema de arte, com ideias visuais e sonoras inovadoras que foram rapidamente copiadas em séries como American Horror Story e Stranger Things. Já em Invasores de corpos, adaptação de 1978 do livro de Jack Finney, as criaturas do espaço substituem corpos humanos por réplicas para atingir seus objetivos nefastos. Destacando-se na lista por se anunciar como documentário, Contatos de 4° grau narra um episódio de uma cidade pequena do Alaska em que uma psicóloga descobre que vários de seus pacientes podem ter sofrido abduções. O filme se divide entre gravações feitas à época e dramatizações, apontando um caminho possível para o found footage atualizar sua credibilidade.

 

Agora, se os alienígenas resolvem nos atacar diretamente, o que nos resta é nos defender como os garotos de Ataque ao prédio, que ao verem suas ruas ocupadas resolvem combater os aliens e defender seu território. John Boyega, agora famoso por seu papel na nova trilogia de Star Wars, estrela esta aventura que conta com fugas, lutas, aliens muito mais primitivos e animalescos que os comumente vistos, e ainda uma crítica social à estrutura que marginaliza a juventude pobre. Distrito 9, filme sul africano produzido por Peter Jackson, retrata uma assimetria peculiar na relação de forças entre alienígenas e humanos. Eles, que vieram até nós buscando asilo enquanto sua nave não tem recursos para decolar, são recebidos de forma bastante truculenta pelos terráqueos. Seguindo a mesma ideia de impotência, O homem que caiu na Terra retrata um alienígena que vêm à terra com o objetivo de levar água para seu desértico planeta natal. O grande destaque do filme é a bizarra e autêntica performance de David Bowie no papel principal, cantor que dominava o imaginário pop no que se refere ao espaço sideral com o álbum Space Oddity e a persona Ziggy Stardust.

A mostra conta ainda com outros destaques. Ed Wood, icônico diretor de filmes trash e de categoria B, nos traz uma visão tanto ameaçadora quanto risível em Plano 9 do espaço sideral. O filme conta com efeitos especiais toscos, uma história mirabolante que envolve humanos ameaçando a galáxia, extraterrestres, zumbis, vampiros e conta com a participação de Béla Lugosi, ator famoso por sua interpretação de Drácula no filme homônimo de 1931. Per aspera ad astra, filme do diretor soviético Richard Viktorov, conta a história de uma alienígena robô que é encontrada no espaço e trazida para a Terra. Inédito no Brasil, o filme opera em um ritmo diferente do explorado pelos estadunidenses, mais contemplativo e poético. Em Cocoon, idosos entram em contato com uma piscina que vinha servindo de viveiro para casulos de alienígenas, o que lhes renova a vitalidade e o vigor. O filme recebeu o Oscar de melhores efeitos especiais e mostra uma relação interespécies de protocooperação entre humanos e extraterrestres.

Seria um crime intergaláctico deixar de fora as obras de John Carpenter, um dos mestres da ficção científica no cinema, com vasta produção de outro planeta. Dedicamos ao diretor um NOITÃO CARPENTER no dia 28 de junho às 22:22, com quatro de seus clássicos que trazem a presença de extraterrestres no planeta Terra.

Dois curtas brasileiros completam a mostra: Efeito Casimiro apresenta de episódio real de uma cidade inteira que parou para olhar o céu à espera de uma nave espacial que foi profetizada. À margem do universo acompanha aliens que chegam ao planeta Terra do futuro, aparentemente inóspito. Este curta recente traz valores de produção impressionantes e extraterrestres que falam um idioma indígena.

Esbanjando feixes de luz, ruídos eletrônicos e mensagens codificadas, os discos voadores irão sobrevoar o CINUSP e deixar um rastro de histórias do contato com a nossa espécie. Que essas obras repletas de imaginação possam nos ajudar a criar uma relação amigável com nossos visitantes, quando finalmente quiserem se tornar conhecidos. Até lá, fique de olho nos céus e lembre-se que mesmo a pessoa sentada ao seu lado no cinema pode estar relatando tudo à nave-mãe.

 

Boas sessões!