PARA GOSTAR DE CINEMA: ESPETACULAR


Entre os dias 18 de Abril e 13 de Maio, o CINUSP retoma sessões presenciais com a mostra “Para Gostar de Cinema: Espetacular”. Nesta nona edição da mostra “Para Gostar de Cinema”, as obras escolhidas partem de um ponto comum: o espetáculo, seja visual, com cores cintilantes, cenários suntuosos e imagens fantásticas, quanto sonoro, com trilhas musicais e efeitos extraordinários e vindo por todos os lados. Os 18 filmes que compõem a mostra prezam por um grande virtuosismo técnico e que valorizam a experiência sensorial do espectador, levando ao máximo a qualidade da nova sala de cinema do CINUSP.

De imediato, é muito comum associar o espetáculo a ideia de excessos, como aqueles vistos em Mad Max: Estrada da Fúria. O filme impacta pela maneira como constrói seu mundo com muita ação, sempre em função da narrativa, numa experiência sensorial e de maravilhamento por meio de um caos controlado, na qual a ação é incessante durante as duas horas de filme, criando uma experiência eufórica. Em Speed Racer também existem elementos espetaculares que criam uma experiência sensorial única através de seus excessos. Aqui, no entanto, os efeitos especiais usados entram numa chave diferente, valendo-se deles para criar uma realidade plástica e completamente irreal que se assemelha a desenhos animados, como aquele que inspira o filme. Essa estética de excessos dialoga com o ritmo acelerado da narrativa, traduzindo um fluxo de consciência dos personagens do filme de forma visual.

E tratando-se de experiências viscerais, poucos filmes conseguem traduzir tão bem o terror quanto O Massacre da Serra Elétrica. Quando um grupo de jovens se perde na estrada, eles se deparam com uma família ameaçadora, cuja violência e atos quase animalescos resultam em violência desenfreada e uma experiência extrema de pavor. No campo do terror ainda há o italiano Suspiria, em que uma jovem vai para uma escola de balé alemã e uma série de assassinatos mostram que o lugar esconde um segredo macabro. As cores saturadas e os cenários extravagantes criam um espetáculo visual que em um primeiro momento parece não dialogar com as cores mais sombrias típicas do terror, mas aos poucos torna-se claro como eixo temático do filme: o horror que se esconde atrás da beleza.

A dança também é elemento essencial para o balé do clássico musical Os Sapatinhos Vermelhos, que encontra seu virtuosismo nos passos da protagonista que sonha em tornar-se uma bailarina famosa. No filme, a realidade cada vez mais é infiltrada pela fantasia do espetáculo, com cores cada vez mais vivas, e a coreografia da personagem se torna forma essencial para ela se expressar. Os passos de dança se assemelham a coreografia das lutas de Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, em que o protagonista que dá nome ao longa deve enfrentar o seu passado quando uma organização criminosa passa a persegui-lo. Aqui as batalhas não só fazem reverência a antigos filmes de artes marciais, mas também a tradições e práticas de luta chinesas.

O cinema é campo fértil para a fantasia, onde as histórias mais extraordinárias ganham forma através de suas técnicas. Em Dublê de Anjo, um dublê na Hollywood dos anos 20, após sofrer um acidente e ficar internado num hospital, começa a contar histórias para uma jovem paciente. No entanto, conforme ele as conta, a vida real começa a interferir e modificá-las, criando um singelo retrato sobre a importância que as histórias têm na vida de suas personagens. Já em A História Sem Fim, o jovem protagonista encontra uma aparente fuga da realidade através de um livro misterioso e sua imaginação ganha forma no mundo de Fantasia, que parece muito mais próximo da realidade do que ele poderia imaginar. E em A Fantástica Fábrica de Chocolate, os sonhos de um jovem garoto ganham realidade após ele ganhar um bilhete dourado para conhecer a maravilhosa fábrica do excêntrico Willy Wonka. E o surrealismo ganha forma através dos cenários e situações fantásticas de A Montanha Sagrada cujas imagens únicas se preocupam menos em dar respostas e mais em instigar sensorialmente o espectador.

A ficção científica e o desejo de imaginar um futuro tecnológico também se manifestam nas telas. Em 2001: Uma Odisseia no Espaço, o diretor Stanley Kubrick retrata a viagem de astronautas para uma missão em Júpiter, numa jornada que reflete sobre o passado e futuro da humanidade, criando algumas das mais icônicas cenas do cinema através da junção de efeitos que imaginam esse futuro e uma trilha orquestral conduzindo esse balé de estrelas. Pensando em como os avanços tecnológicos afetam a humanidade, Blade Runner 2049, sequência do filme original de 1982, mostra um futuro próximo onde os ecossistemas terrestres devastados são habitados por humanos e andróides em cidades que ao mesmo tempo são fantásticas e assustadoras em escala, com construções tecnológicas gigantescas bloqueando o horizonte. O novo filme da franquia dá continuidade ao universo do filme original e conserva sua atmosfera neo-noir, saturada em neon. Esse é o mesmo cenário de Ghost in the shell: O Fantasma do Futuro, animação japonesa que mistura técnicas tradicionais com computação gráfica, dialogando com uma realidade onde os humanos são modificados artificialmente para se aprimorarem. No filme, uma agente que teve seu corpo tão modificado a ponto de quase não se reconhecer como humana é encarregada de enfrentar um hacker capaz de invadir e controlar o cérebro de pessoas que sofreram modificações cibernéticas.

Indo para o passado, a história ganha contornos espetaculares: em Eu Sou Cuba, realizado no país pouco tempo após a Revolução Cubana, o filme narra o evento por meio  de uma antologia de histórias que refletem um período pré-Revolução e as crescentes ânsias populares por uma luta pela igualdade social e emancipação. Nesse retrato dos revolucionários durante a ditadura de Batista, a câmera dança junto às personagens, deixando os confrontos armados, encontros, passeios pela cidade e imagens surreais falarem por si. De forma similar, em Além da Linha Vermelha, o diretor Terrence Mallick retrata um pequeno fragmento da Segunda Guerra Mundial através do conflito entre Japão e Estados Unidos, mas ao invés de valer-se de uma perspectiva de exaltação a essa violência, ele cria um retrato mais contemplativo, mostrando como essa guerra afeta tanto as pessoas envolvidas nela quanto a própria natureza onde esses conflitos ocorrem. Voltando ainda mais no tempo, em Três Homens em Conflito, Sergio Leone cria um dos maiores clássicos do faroeste, situado durante a Guerra Civil Americana, em que três pistoleiros buscam um tesouro escondido e não tem a intenção de dividi-lo entre si. O conflito entre as personagens se mistura ao conflito histórico, criando um épico violento e espetacular, elevado pela trilha musical de Ennio Morricone.

Um outro épico suntuoso presente na mostra é Ran, um dos últimos filmes de Akira Kurosawa. Nele, vemos um espetáculo de cores primárias e grafismos em uma adaptação de Rei Lear, de William Shakespeare. O caráter espetaculoso do filme começa logo junto aos seus créditos iniciais, com diversos planos abertos mostrando a imponência das montanhas e a insignificância de soldados à cavalo em relação à elas. Os figurinos, a profusão de figurantes, cenários e as cenas de batalhas super estilizadas nos trazem uma versão grandiosa e singular de um marco da literatura, que propõe um questionamento sobre o destino e o livre arbítrio.

Há também Bacurau, último filme exibido pelo CINUSP em Março de 2020, que reabre a nova programação presencial e inaugura oficialmente para o público a nova sala. O terceiro longa-metragem ficcional de Kléber Mendonça Filho é uma ode brasileira ao cinema de gênero. O filme, que conquistou o Prêmio do Júri em Cannes em 2019, é uma alegoria política distópica que traz a luta simbólica dos moradores de uma pequena cidade no interior de Pernambuco contra o imperialismo norte-americano.

Além desses filmes, a mostra terá duas sessões especiais em que os filmes exibidos serão escolhidos pelo público. A primeira delas ocorre dia 29 de abril, com uma batalha entre dois filmes de animação: O Castelo Animado e Viva: A Vida é uma Festa. Enquanto a segunda sessão ocorre no dia 13 de maio, com uma escolha entre dois musicais: Moulin Rouge e The Rocky Horror Picture Show. Acompanhe nossas redes sociais para manifestar seu voto e escolher seu preferido!

O CINUSP retoma suas atividades presenciais convidando a todos - sejam antigos ou novos espectadores - a adentrar e se perder nesses espetáculos cinematográficos capazes de criarem uma experiência sensorial única na sala de cinema.

 

Boas sessões!